Capítulo 7

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Até aquele dia, ele não sabia que o espião sentia atração por machos, mas, surpresas a parte, ele não conseguiu imaginar que o illyriano pudesse ser passivo.

Olhando todos aqueles músculos, o tamanho daquele corpo, o modo que as sombras moviam-se por seu corpo e por debaixo das asas mesmo quando, por ele estar do lado contrário ao fogo, não deviam estar ali. Sabendo que Azriel o odiava e provavelmente só estava oferecendo sexo para vê-lo subjugado do modo mais humilhante possível, bem...

O raposo não conseguia imaginar Azriel sequer o preparando corretamente. Talvez um pouco de saliva e um dedo, o suficiente para dizer que ele não foi um amante negligente que rasgou o corpo de outro só para satisfazer seu ódio.

Mas tudo bem, Lucien, tanto quanto não, ainda queria isso. Doeria, talvez ele sangrasse (se as histórias sobre a "envergadura" do espião tivessem algum fundamento), talvez ele tivesse tantos hematomas no final que não conseguisse se mover, porém, ele ainda seria segurado.

Lucien podia fingir que era um dos dias em que ele estava totalmente disposto para um sexo bruto, violento até, que o faria sentir como se tivesse um pau dentro de si por dias depois do ocorrido. Ele sempre podia fingir.

Não impedia de doer, não impedia seu mundo de se tornar menor e sufocá-lo, mas ele podia fingir.

Mas Azriel fecha sua expressão, e Lucien não entende porque ele parece preocupado, não entende porque ele ainda está parado ao invés de tomar o que o raposo ofereceu de bom grado.

Mas então... ele não podia saber que o espião não estava nenhum pouco disposto a tocar alguém cheirando a medo. Claro, havia desejo, mas o medo, mesmo que subjacente, deixava um gosto amargo na boca do illyriano.

Tentando se livrar das preocupações do ruivo sobre ser humilhado, implorando por alguém que odeia, Azriel deixou sua voz sair terna enquanto ele acariciava a base do pescoço do raposo.

— Não estou oferecendo para humilhar você, só quero ajudar, não há deleite em machucá-lo ainda mais.

Isso, essa fala, é o que arranca o raposo de sua própria mente, o faz respirar um pouco mais fácil enquanto a confusão se apodera de todo o resto como um cobertor de neutralidade momentâneo. Ele olha para Azriel depois de reunir suas forças para um movimento tão simples e busca resposta naquele olhar.

Busca e busca, então procura um pouco mais e, ao continuar confuso, porque Azriel quase não expunha suas expressões, encobrindo-as por sombras, decide perguntar.

— Por que? — O ruivo pergunta, sabendo que sua voz não passava de um murmúrio — Por que se importa?

Azriel pensou em mentir, dizer que não sabia, mas então pensa em dizer que ver Lucien desmaiar sem cor alguma o assustara, que vê-lo dormindo tão pacificamente e entender que Lucien sofria, fizera alguma empatia crescer dentro de si.

Azriel até pensou em pedir desculpas sobre suas próprias palavras, que pelo jeito atingiam o ruivo quando ele achou que este era indiferente ao que diziam.

Ele pensou em explicar todos os sentimentos estranhos que teve desde que Lucien desmaiou em seus braços. O único problema era que ele não entendia o que sentia. Ele estava com tesão, claro, isso foi óbvio, mas todo o resto era um mistério.

O illyriano não entendia porque se importar. Sim, ele sentiu um pouco de empatia, mas e daí?

E daí que Lucien deveria ser cruel, astuto e perigoso, mas ele estava frágil e chorando como um bebê abandonado. Isso tornava aquilo que Azriel sentia, pena. Entretanto, por algum motivo, o espião não achava que pena pudesse se enquadrar no que estava sentindo.

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