O amor.

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Mavis passou por algo complicado há alguns anos. Toda a família devastou-se ao descobrir que seu pai não era quem dizia ser, ela acreditava cegamente no barbudo gentil que a gerou, mas a realidade não era o conto de fadas que pensava.

Seu pai tinha outra família. O homem, cujo nome é inútil mencionar, trabalhava em uma empresa jornalística de Los Angeles, e, para ele, foi difícil deixar de reparar na sua secretária ruiva vários anos mais nova. Não seria tão ruim se fosse apenas isso, mas eles tiveram um menino. Mavis nunca chegou a conhecê-lo e não o desejava, mas sabia que era um belo rapaz, sabia que tinha herdado os olhos azuis do pai e o exuberante cabelo ruivo da mãe.

Ela se lembrava de quando sua mãe descobriu, a mulher ficou arrasada por meses. Carrie chorava pelos cantos, seu pai havia a traído tanto quanto traiu sua mãe. Entretanto, a mais nova das irmãs não teve reação, ela apenas estava lá, sentindo-se sufocada pelas lágrimas dos outros. Então encontrou um lugar, o lugar. O lago Reservoir era, com toda a certeza, um marco na cidade que morava, e a garota passou a utilizar a vista ocasionalmente, ouvindo músicas relaxantes e observando as pessoas naquele ambiente.

Esse era outro hábito comum da mulher: observar. Ela tinha um estranho prazer em ver as interações alheias, se divertia tentando imaginar o que estavam fazendo ali. Gostava de supor o que aquelas almas vazias executavam. Via grupos de amigos fúteis rindo de velhinhos, que por sua vez alimentavam os patinhos do lago com sorrisos espalhafatosos em seus rostos. Ela amava os casais, vê-los soltando sorrisos idiotas e risadinhas dentre as falas.

E como uma ironia do destino, estava ocupando os lugares dos que mais amava ver. A maior sabia que Sadie não era sua namorada e que não eram um casal, mas quem visse as duas garotas deitadas sobre o lençol à luz da lua não pensaria o mesmo. Elas soltavam os mesmos sorrisos bobos e risadinhas que Mavis tanto julgava, mas nenhuma das duas estavam dispostas a admitir.

Em instantes, os assuntos insignificantes deram espaço a algo mais intenso, e sem perceberem, estavam conhecendo as profundidades uma da outra.

— Você mudaria algo na sua vida se tivesse a oportunidade? — Mavis ri com a pergunta inusitada da ruiva.

— Eu não sei, Sadie. Não tenho muito a reclamar, aconteceram algumas coisas ruins, acontecem com todos, mas não as mudaria pois sei que todas elas geraram coisas boas, enfim. Eu apenas gostaria de ter conhecido mais pessoas, entende? Me jogado mais em relações, sejam elas românticas ou amigáveis. Sempre tive medo disso, pessoas machucam as outras e eu nunca quis me submeter a essa tortura, mas agora, me arrependo de não ter o feito.

Sadie não a responde, apenas foca no olhar da maior. Estava virando um hábito.

— E você? Mudaria algo? — A platinada continua com o assunto, não querendo que se encerrasse tão cedo.

— Muita coisa. Mudaria minha carreira se eu pudesse. Não em leve a mal, amo o que eu faço, mas existem muitos "efeitos colaterais" que não me agradam. Queria poder andar pelo centro sem que fosse perseguida a cada esquina. Mudaria meu relacionamento, também.

— Com o ruivo da cafeteria? — a ruiva assente. — Pareceram um bom casal naquele dia, o que houve?

— Não sei, sinto que nossa relação está desgastando e a culpa é única e exclusivamente minha. O Cameron é uma pessoa incrível, sabe? Eu não tenho dúvida alguma de que ele me ama, e que me respeita. Eu só... Me sinto presa com ele. Eu tenho milhares de desejos aos quais só não alcanço pois ele está lá para me impedir.

Mavis, na pura inocência e curiosidade, pergunta exatamente o que Sadie esperava.

— Não se sinta pressionada a responder, mas... Que coisas seriam essas?

MAVIS'S LOOPING - Sadie SinkOnde histórias criam vida. Descubra agora