Ato II: Sangue afogado no álcool.

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Acho que há uma falha no meu código, essas vozes não me deixam sozinho. Bom, meu coração é de ouro e minhas mãos são frias. Você é desequilibrado como eu? Você é estranho como eu? Acendendo fósforos apenas para engolir a chama como eu? Você se chama de furacão do caralho como eu? Apontando dedos pois você nunca irá assumir a culpa como eu?

Dândi.

— Faltam três dias para o aniversário do Jimin.

— E como você se sente a respeito disso?

— Como é suposto que eu me sinta... Vazio.

Arrasto na borda da mesa a ponta do meu anelar coberto pela joia prateada, a madeira reluz, entretanto posso escutar o ruído de meu dígito deslizando sobre ela. Inclino meu torso, observando como meu reflexo cintila mediante ao brilho do móvel. Posso ver meu cenho enrugado, como se eu estivesse abatido ou inconformado com alguma merda nova em minha existência.

De fato estou.

— Um pouco de esforço e você consegue fingir sorrisos e simpatia. É somente um jantar de aniversário, não?

Do canto da sala, verificando algumas papeladas, Namjoon questiona. Talvez ele não esteja tão envolto no assunto que debatemos, ou talvez fosse eu a ter preso em minha mente o fatídico dia do aniversário do meu garoto, e isso me torna apreensivo demais ao ponto de vislumbrar a tragédia escorrendo pelas paredes brancas e cobertas pelo revestimento do vazio.

Ou talvez eu seja o único a sair perdendo de primeira e esteja o maldito do tempo inteiro tentando me auto confortar pelo resultado final. Resultado esse, que estará disponível daqui a um ano e poucos dias.

— Preciso de uma bebida. — Ao que cicio, giro meus olhos em direção à Namjoon, observando-o conforme ergo a sobrancelha direita. Uma dúvida me surge. — Onde estão os caras?

— Oliver e Yoongi estão correndo, o restante do grupo está em reunião, debatendo alguns pontos necessários para o dia de amanhã. Você está lembrado, não é?

Ele deixa a leitura de lado, confrontando-me como se fosse possível ler o meu rosto para garantir que não sou um chefe babaca. Eu posso ser em alguns momentos, mas não neste.

— A missão em busca da pasta que está com Heitor Rossi, certo? É, eu me lembro bem, estamos organizando isso há bastante tempo, não poderia esquecer nem mesmo se quisesse. — Refuto, caminhando até o bar. Há vantagens em ser o líder da máfia italiana, ter um bar onde quer que você vá é uma delas. No escritório, inclusive. — Não há nada fora dos trilhos, correto? Sem falhas, Namjoon, sem falhas.

— Não, não há. Está tudo programado para dar certo. — Namjoon abandona as folhas que lia, escuto o barulho dos passos e percebo quando ele se aproxima de mim. — Tem pensado sobre a proposta de Olavo? Você pediu a nossa opinião, lhe demos, mas não obtivemos resposta. E então? Como prosseguirá?

Sirvo um copo de Tequila para mim e outro para meu comparsa, que o pega e se distancia, retornando à cadeira na qual permaneceu sentado por uma hora ininterrupta. Eu faço o mesmo, no entanto com a minha mesa, estico meus pés em cima dela e tombo as minhas costas, mirando os lumes para o teto. Entreabro os lábios, buscando palavras concretas para replicar o tópico no qual Namjoon entrou.

— Para ser sincero, eu não cheguei à conclusão alguma. — Murmuro, perdurando no raciocínio sobre o assunto. — Tenho levado em consideração muitas coisas, cara, expandir o meu império é uma delas, contudo...

— Se sente ligado ao que está aqui. — Kim contorna, parafraseando: — A quem está, no caso... Compartilho do mesmo, você sabe.

— É, eu sei. — Posiciono-me corretamente na poltrona, puxando o copo para um gole da bebida. Engulo em seco. — Não quero abrir mão das oportunidades que teremos ao aceitar a proposta de meu tio, Namjoon, mas não posso ser egoísta e ignorar a única razão que ainda me mantém ativo neste país.

ROCK MÁFIA IIOnde histórias criam vida. Descubra agora