04| Será que ele sabe das fotos que você guarda?

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"Todos os seus amigos dizem que ele é o escolhido, que o amor dele por você é verdadeiro, mas será que ele sabe que você me liga quando ele dorme? Será que ele sabe das fotos que você guarda?"

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"Todos os seus amigos dizem que ele é o escolhido, que o amor dele por você é verdadeiro, mas será que ele sabe que você me liga quando ele dorme? Será que ele sabe das fotos que você guarda?"

Não era de seu feitio escutar atrás da porta, ela jurava que não era um traço traiçoeiro de sua personalidade, talvez uma característica até mesmo tóxica. Mas dada as circunstâncias, o impulso da curiosidade foi maior do que seu bom senso, superando seus princípios morais e a fazendo saber de coisas que provavelmente não deveria.

Diferentemente dos desenhos animados da década de oitenta, Angie não se encontrava com a orelha grudada na porta de metal, não prendia a respiração como se o menor ruído pudesse delatar sua atual posição. Ela apenas mantinha as costas apoiadas contra a parede ao lado do batente, mexendo nas cutículas ansiosamente enquanto ouvia os gritos graves despejados no interior da garagem do carro dezesseis. O carro do seu namorado. Preferiria vinte outras audiências iguais a de seu último cliente do que estar naquela posição atual.

Às vezes apenas desejava colocar os fones de ouvido e deixar que os acordes sutis de Ludovico Einaudi a preenchessem de tal maneira que nenhum grama de nervosismo pudesse restar em seu organismo.

— Irônico o fato de todos os lugares pelos quais procuro minha namorada, ela está sempre acompanhada de você, tem algo a me dizer, Carlos? — Era como as marés, suave por vezes é devastadora quando atiçada.

Fácil de se conviver quando não se possui curiosidade de avançar para as suas profundezas, difícil de sobreviver quando se vê perdido na infinidade de emoções capazes de lhe afogar. Suas ondas batiam contra as rochas sólidas e fortes sem causar estragos definitivos, contudo quando se via em uma constância, uma corrosão no cais era quase inevitável.

Angie não estava pensando em ondas e muito menos a respeito de Charles. Estava pensando em si e em como dilacerava tudo o que tocava, todos que confiava.

No segundo, em que sua feição se contorceu em uma careta por arrancar uma pequena fileta de pele do canto das unhas, ouviu um silêncio avassalador tomar posse da garagem em que estavam. A frase pairou no ar, transformando-o em um clima insustentável.

Um péssimo agouro tomou posse de seu corpo e a sua única reação foi dar alguns passos para a direita, escondendo-se na escuridão do ambiente, ao lado do vestiário dos pilotos da Ferrari. Em menos de trinta centímetros encontraria um esconderijo inusitado a qual ela e Carlos já haviam utilizado incontáveis vezes.

— Está começando a delirar, Charles, acho que o melhor a fazer é calar essa merda de boca um pouco e ir para casa descansar — Angie ouviu o sotaque carregado do espanhol proferir com a voz um pouco mais baixa do que antes, mas ainda, sim, repleta de escárnio. Mas também tinha outra coisa rodeando suas palavras, ela notou, conhecia-o bem o suficiente para perceber o toque desesperado no fundo, de sua garganta, esganiçando um pouco sua voz grave.

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