17| Apesar de soar idiota, as palavras são dispositivos inúteis.

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"Já faz muito, muito tempo, desde que memorizei seu rosto

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"Já faz muito, muito tempo, desde que memorizei seu rosto. Já faz quatro horas desde que perambulei ao seu redor e quando durmo no seu sofá, eu me sinto muito segura. Quando você traz os cobertores, eu cubro o meu rosto. Amo você."

Angele Rivera conseguiu acumular em dois anos cinquenta e quatro livros lidos, treze novos países visitados, dois envolvimentos um pouco sérios e trinta casos defendidos com maestria no Palácio da Justiça, o Supremo Tribunal da Áustria. Bons números que havia decorado na última semana, tentou recapitular essa questão para o encontro com sua melhor amiga, afinal, ela a conhecia muito bem e já sabia que iria acabar perguntando todas essas coisas.

Dirigindo a Audi que ganhara no último mês, ela sabia que estava atrasada para o jantar, mesmo que não tolerasse atrasos, não poderia negar que esse foi inevitável. Além dos livros lidos, os países que conheceu e os homens que rejeitou, Angie também tinha uma nova conquista para comemorar com Ana, a garrafa caríssima de champanhe no banco do passageiro, a lembra disso a todo instante. Genuinamente feliz, a espanhola conseguia se sentir realizada na vida profissional pela primeira vez em muito tempo, conseguiria imaginar a alegria de sua avó Carmen.

Não foram anos simples, precisou lidar com a consequência de seus atos e elas não foram simples. Por muito tempo ela acabou carregando uma culpa que nem era apenas sua, contudo, quando se está solitário, não tem com quem dividir esses fardos. Deste modo, mergulhou de cabeça no que sabia fazer muito bem: trabalhar; deixou o cigarro de lado, parou de beber e tentou não se culpar tanto. Funcionou por bastante tempo, depois do triângulo amoroso que criou, imaginou que não entraria em um relacionamento novamente, não estava de um todo errada.

Poderia contar nos dedos quantas vezes saiu para um encontro e o número de vezes que isso tornou-se algo mais. Chegou a conhecer melhor um economista e uma jornalista, foi divertido no início, ajudou a passar o tempo e entreter sua cabeça que nunca parava de funcionar, contudo, os dois acabaram caindo na mesma coisa de sempre: não se pareciam em nada com ele. Era incômodo, todas às vezes tais relações caiam na rotina e alguém que não conheceu a facilidade, não consegue viver a calmaria.

Emoções não expressadas não morrem como as pessoas desejam. Muito pelo contrário, elas são enterradas vivas e voltarão em outro momento, de uma maneira ainda mais feroz. Angele aprendeu isso com o tempo, seus dois anos de aprendizado, poderia ser comparado a um retiro espiritual, mas a morena voltou a ser uma mulher cética com o próprio tempo.

Rivera sempre tentou ser uma mulher forte, sua avó havia ensinado isso, o mundo só respeita mulheres de postura ereta e com uma carreira brilhante. Angie poderia ter as duas coisas, mas, no fundo, apenas se sentia uma garotinha perdida, sem amor ou qualquer rastro de carinho, percebeu esconder esse fato há muitos anos. Tentava disfarçar seus medos e as inseguranças que sentia com o ego inflado e algum homem a tiracolo, em suma, acabava sempre estragando a pessoa que escolhia e frustrando seu ego.

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