14| Onde estão esses lugares perfeitos?

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"Toda noite, eu vivo e morro, sinto a festa até meus ossos

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"Toda noite, eu vivo e morro, sinto a festa até meus ossos. Assisto quem torra grana estourar caixas de som, regurgito minhas entranhas sob a luz do outdoor, é só mais uma noite sem graça"

Charles não teve a espanhola dominando seus sonhos enquanto dormia. Por algum motivo, foi uma ótima noite de sono, pela primeira vez em tempos, conseguiu acordar sem um peso enorme nos ombros ou a culpa no peito, naquela manhã, tinha outra coisa pesando seu tórax. As garotas nunca ficavam perto demais dele, quase sempre o moreno se afastava durante o sono, não queria ninguém o tocando, nem mesmo desejou que elas passassem muito tempo ali, contudo, não sabia como dispensá-las.

Era uma manhã esquisita, ele percebeu sozinho, seus olhos se acostumaram muito rápido com a luz, as cortinas mal fechadas soltaram pequenos filetes de sol que marcavam o chão. Ele se lembrava de como chegara ali, pela primeira vez em tempos conseguia lembrar do nome de uma garota, Sierra Dubois, além de ter finalmente acordado tranquilo consigo mesmo. O relógio em seu braço marcou às onze horas, era tarde, não tanto, mas o bastante para que seu corpo implorasse por um cigarro.

Sua delicadeza foi admirável, segurou os ombros da francesa com cuidado, dando o seu máximo para não acordá-la, a aconchegou com cuidado e ajeitou o cobertor para ficar confortável. A ruiva se mexeu, encolhendo o corpo no colchão enorme, mas não abriu os olhos, Charles caminhou descalço até o closet, vestiu uma camiseta branca e uma bermuda vermelha. Buscou com os olhos sua carteira de cigarros pelo quarto, mas não a viu, torceu para que estivesse na sala ou na cozinha, não queria sair à rua. Parecia um bom dia, mas tudo muda rápido demais em sua vida.

Leclerc escovou seus dentes antes de buscar a embalagem branca, uma parte de si ainda gostava de brincar com os limites da nicotina. Ver até onde seu corpo aguentava ficar sem, seus braços arrepiava todos os pelos e seus olhos doíam um pouco, mas era a sua forma de pensar que em algum momento abandonaria o vício momentâneo. A cada dia a resistência tornava-se menor, mas era importante que a testasse, se a velocidade, o álcool ou o amor não o matassem, Charles torcia para o cigarro fazer.  

Pela sala de estar, encontrou um deles solto, logo ao lado de um isqueiro. Pegou os dois e partiu para a varanda, sentou em um banquinho sob o sol e respirou o ar puro com cheiro de maresia. Evitou pensar, mas não conseguiu, queria que ela estivesse sentada ao seu lado com um livro de não-ficção nas mãos e tabaco entre os dedos. Charles odiava dizer isso, mas a morena o completa até nos momentos corriqueiros. Contudo, ficou feliz por pensar tão pouco na advogada, pouco a pouco, ia se libertando do fantasma que parecia o buscar ou que ele buscava a todo tempo.

O calor da faísca esquentou seus dedos, ficou tão perdido em seus pensamentos e na visão do mar que nem chegou a preocupar-se em concentrar sua atenção no fumo, sabia que havia sido consumido porque a ansiedade não o atacou, o que era bom. Portanto, jogou o filtro no lixo que deixava ali no cantinho e partiu para a cozinha, precisava de um café para melhorar a ressaca incontrolável.

After Hours| Sainz & Leclerc.Onde histórias criam vida. Descubra agora