2. O grande dia!

103 7 3
                                    

Agosto, 2008.

O sol nasce, e rapidamente aquela pequena casinha em Gotham se desperta em ... gritos?

- Acorda! Acorda filha! Quer perder o seu primeiro dia de aula?!

Eu acordo naquele dia com um grito da minha mãe, furiosa por eu não ter acordado cedo por conta própria.

Bom... É o primeiro dia de aula na universidade, e eu fui totalmente irresponsável por virar a noite jogando Resident Evil 4. Fui também irresponsável por esquecer de colocar um alarme bem alto no meu telefone. Eu, naquele momento antes de ser acordada, já estava no meu nonagésimo sono.

Quem dera ter acordado naturalmente com o som dos passarinhos ao em vez de acordar e lidar com o barulho estridente da minha mãe de mal-humor.

- Acorda menina! Você vai levantar ou terei de ir aí para jogar um balde de água na sua cara? - Disse minha mãe com um ódio descomunal.- Foi por isso que você estudou esse tempo todo! Levanta logo, Safira!

- Hm... Cedo... Demais... - Digo entre murmúrios e bocejos leves mas que demonstravam o meu cansaço extremo.

- Cedo? Já são 07h30! Você precisa levar suas coisas para o dormitório! Ou esqueceu que seu lar no próximo ano vai ser as paredes enormes da faculdade?

Eu não esqueci disso, só não gostava de ser lembrada o tempo todo de que vou ter que sair da minha casa para morar com um estudante aleatório por um ano! Isso ainda parece uma ideia razoavelmente estranha para mim...Por que não ter dormitórios separados?

- Ah mãe... Não me dê motivo para continuar na cama... - Eu dou uma risada irônica com uma pitada de sofrimento. - Não quero ficar um ano sem poder dormir no meu forte de travesseiros! Sentirei falta do meu pequeno "Palácio da Soneca".

- Seu "Palácio da Soneca" - Ela faz aspas com as mãos. - Que por sinal está super bagunçado, vai continuar disponível para você usar todo fim de semana quando sair do Campus da universidade! Filha, isso não é o fim do mundo!

Eu desisto da minha negação e finalmente saio da cama, cambaleando de preguiça até as janelas do meu pequeno quarto que agora está praticamente vazio, já que tudo o que antes esteve aqui, está maçarocado em umas malas.

Ao abrir as cortinas e sentir a brisa quente e brilhosa daquela manhã quase me cegar, a ficha finalmente cai em minha cabeça:

Hoje é meu primeiro dia de faculdade, e não há nada que eu possa fazer para anular isso de acontecer.

- Ai! Não consigo enxergar mais! - Digo com os olhos marejados devido ao brilho imenso que derreteu minhas córneas.

Eu suspiro quando sinto a ansiedade tomar conta do meu corpo. É algo novo, totalmente novo. É uma mudança gigantesca para uma menina que nunca teve amigos e nunca soube socializar direito. Imagina só eu boto fogo no dormitório sem querer? Imagina ter uma garota super popular como colega de quarto? Espero que seja quietinha como eu! E se for um colega de quarto homem? Que pesadelo!

O corpo de Safira se arrepia de tanta paranóia.

Em passos largos e desmotivados, eu vou até o banheiro, onde me encontro com o espelho e vejo que meus cachos estão bagunçados, que estou com bafo e com fome.

Além das olheiras marcadas de tanta privação de sono...

Safira escova os dentes rapidamente e então retoca seus cachos com um creme aleatório que encontra em sua frente.

- Safira?! Deixa de enrolar, vem! - Diz minha mãe novamente em uma súplica desesperada, tentando fazer a preguiça e desânimo saírem do meu corpo ( à força ). Seu temperamento não é dos melhores quando se trata de estudos.

Finalmente vou até a cozinha que não é nada longe do banheiro e então vejo a minha mãe, que estava preparando panquecas e já havia posicionado para mim na mesa um bowl prontinho de de salada de frutas. Que adorável.

- Obrigada mãe! - Digo com a boca cheia de mirtilos e bananas.

- Você precisa de energia para hoje, filha. O primeiro dia na universidade acontece só uma vez, e para você, será daqui a pouco. - Ela diz com ternura enquanto coloca duas panquecas com Nutella ao lado do meu bowl em um prato rosa.

- Nossa mãe, nunca te vi tão gentil assim! - Eu rio confusa.

- É que minha filhinha cresceu, saber que te terei só nos fins de semana me deixa um pouco molenga! - Ela ri. - Quer suco de laranja?

- Ah, mãe... Eu aceito! Afinal, hoje será um longo dia. - Eu pego um copo aleatório e estendo a mão, assim, ela serve o suco.

- Todo dia é longo quando se vive em Gotham. Eu rezo para que essa universidade seja segura, não quero você em mãos erradas! - Ela diz enquanto puxa uma cadeira, se sentando logo em seguida. - A viagem até a universidade vai durar uns 30 minutinhos.

- Bom que dá pra eu dormir. - Eu rio com a boca cheia de panquecas e framboesa. Misturar panquecas com frutas é uma ótima pedida. - Mas então, quanto a segurança da faculdade eu tenho certeza que é ótima. Muitos que entraram lá, saíram como gênios.

- Não dá pra confiar muito, você deve se manter sempre de olhos abertos. Porém, nós podemos ser nossos próprios escudos da maldade quando somos positivos. E você, filha, é uma jóia que ainda vai iluminar Gotham. - Ela toma um gole de suco de laranja que serviu para si enquanto sorri.

Eu sorrio com o comentário da minha mãe e fico feliz de sermos próximas.

- Ainda bem que as malas estão prontas, não suportaria arrumar de novo. É chato demais!

- Safira! - Minha mãe responde incrédula - Chato demais? Você sabe que fui eu que arrumei quase tudo, não é?

As duas riem, e aquele momento é prolongado até chegar a hora de pegar a estrada. Agora a ansiedade afeta a futura aluna e a mãe dela, preocupada com sua segurança.

Estou vestindo uma regata rosa, um moletom cinza escuro, calças jeans e meu all star favorito. Com certeza todas garotas vão se vestir assim lá quando estiverem sem os uniformes. A moda hoje em dia é ser casual.

Já se passaram 10 minutos no carro e mal consigo esperar, é muita ansiedade! Se eu pudesse, vomitaria por toda parte e sairía correndo sem olhar para trás. Eu e minha mãe estamos conversando, mas isso não parece me acalmar.

Em filmes de comédia, pequenas viagens de carro são muito mais interessantes.

- Mãe, mais um pouquinho e meu estômago se revira aqui mesmo. - Eu olho pela janela ouvindo "Kiss From a Rose - Seal" de apenas um lado do ouvido, com meu ipod.

Minha mãe olha pra mim assustada enquanto dirige, e sem tirar o olho da estrada e a mão esquerda do volante, alcança uma sacola no porta luvas e joga bem na minha cara.

- Menina! Vê se não suja meu carro novo! Eu ein! Vomita aí dentro mas nem pense em estragar os bancos limpinhos. - Ela ri e segue dirigindo.

- Aff mãe! - Eu rio. - Isso que é amor por um carro.

Papo vai... papo vem... Após muitas risadas e conversas, os 30 minutos completos se passam, e lá estão elas, na Universidade de Gotham.



Música do Capítulo: Kiss From a Rose - Seal

A Jóia de Gotham - Jonathan Crane. (HIATUS).Onde histórias criam vida. Descubra agora