4. Colega de Quarto.

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(*: Nota da autora).

Sozinha com as três malas e um manual de convivência que mais parecia uma bula de remédio, eu percebi que a vida estava começando, e que naquele momento, minha mãe não poderia me ajudar como sempre faz.

Para sair da minha bolha de pessimismo e arrogância, decidi ler o manual de convivência. Talvez isso me dê confiança para ser socialmente aceitável e achar um nicho nessa universidade de 20.000 alunos.

Ao folhear o documento, percebi que por se tratar de Gotham, algumas regras eram totalmente inacreditáveis.

- Ameaçar seu colega de quarto com objetos cortantes, armas de fogo e qualquer tipo de bomba é totalmente proibido, podendo resultar em pena permanente e expulsão. - Quando leio isso, uma risada escapa dos meus lábios. - Caramba. Se tem aviso, tem história.

Eu decido folhear um pouco mais.

- O horário de aula é rígido, atrasos podem causar penalidade quanto a nota. - No momento que lembro do meu histórico de pontualidade terrível, meu corpo fica rígido e a vontade de me tornar uma pessoa melhor já fica evidente. - Acho que é melhor procurar logo o meu dormitório.

Safira sai do cantinho do qual havia se enfurnado para evitar qualquer contato social com seu carrinho de malas, documentos e chaves para o dormitório.

Seu dormitório era o de número 47.

Essa universidade é enorme, as paredes cinzas, pinturas antigas e pilastras gregas fazem o título de seriedade do lugar parecer muito mais genuíno. No começo não acreditei que aqui seria organizado por causa da má fama que recebe o Centro de Gotham.

Quanto mais eu andava, mais eu me sentia pequena naquela multidão de pessoas, pessoas que assim como eu, precisam estudar, precisam fazer algo da vida. Não sou eu a única ansiosa, a única desesperada em tentar se encaixar, ou a única pessoa perdida por... não saber onde se encontra a porcaria do dormitório.

- Vamos lá, Safira. Não é tão difícil quanto você pensa. - Eu suspiro para mim mesma para ao menos ganhar uma falsa esperança, uma falsa confiança.

As coisas começaram a dar certo quando segui uma multidão de alunos até os prédios da área leste da universidade. Todos a quem segui estavam aliviados por terem achado o que eu tanto procurava: Os dormitórios em toda sua glória.

Por sorte, a universidade tinha elevadores, então eu não precisaria usar toda energia do meu corpo para subir as malas até o 4° andar daquele limbo.

Quando finalmente cheguei na porta de número 47, respirei fundo e olhei para as chaves na minha mão. Com confiança, a inseri na fechadura e abri a porta, onde me deparei com...

Um quarto totalmente decorado.

Por alguém que chegou primeiro.

O quarto era grande, não como os de quem paga (afinal sou bolsista), mas era ótimo. Duas camas, um banheiro, e uma pequena área de estudos. Minha colega de quarto que provavelmente estava no banheiro havia sido bem respeitosa ao decorar somente a metade do quarto onde ficava sua cama. Ela tinha um bom senso de estética.

Posicionei as malas ao lado da cama já arrumada e me sentei enquanto esperava por minha futura companheira. Coloquei nos fones de ouvido uma música baixa e fechei os olhos numa tentativa de dispersar minha mente da nova realidade em que me encontrava.

Meus pensamentos foram interrompidos quando uma garota alta saíra do banheiro. Ela era linda, tinha tranças finas e usava um vestido rosa que destacava sua pele negra extremamente lisa, o que me invejava já que eu tinha umas espinhas bem notáveis.

A Jóia de Gotham - Jonathan Crane. (HIATUS).Onde histórias criam vida. Descubra agora