Aceitação

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Mais uma vez, o potiguar e o paranaense estavam na sala de descanso da empresa, aproveitando o horário de almoço e o fato de que o lugar, além de vazio, servia um chá quentinho, para acalmar os ânimos do sulista.

— Agora ele não fala comigo direito! — Exclamou nervoso, andando de um lado para o outro com a xícara de chá na mão. Norte olhava para o chão, pensativo. — Parece um bocó, me evita, aquele porra de bicho endemoniado!

O nordestino riu, sabendo que o mau humor do irmão ainda era culpa dele. Faziam uns dias desde que ele falou com o gaúcho sobre o amigo imaginário que tinha interesse em Paraná, mas mesmo assim, o loiro não tinha superado, estava amargurado e com o temperamento mais curto que o normal.

Rio Grande do Norte se sentia mal por soltar um boi bravo no ambiente de trabalho da Região Sul, mas não se arrependia. Não importam os meios se o fim compensa, afinal.

— Olha, eu acho que nem chá de camomila faz efeito em você, mais. — Riu baixinho. — Não fica tão preocupado! Seja lá o que tiver atormentando ele, não é culpa sua. O Sul é de Lua, assim mesmo.

Ele optou por não contar ao sulista o ciúmes. Não sabia se Paraná acreditaria que era realmente ciúmes da parte do gaúcho, teimoso do jeito que era, então preferia deixar essa parte abafada, pelo menos por enquanto.

— Já que você tá tendo tantos problemas com o Sul, você pode me ajudar com o Serginho, né não? — Sugeriu, e Paraná parou de se mover freneticamente, por um momento. — Eu quero chamar ele pra sair, mas precisa ser perfeito. Eu tava fazendo uns planos, mas nada parecia bom o suficiente. — O garoto ouvia atentamente enquanto o potiguar explicava suas ideias.

— Como assim você não quer chamar ele pra ir pra praia? É onde ele mais gosta de ir! — Ele parecia inconformado, voltando a andar de um lado para o outro.

— Ele sempre vai pra praia, eu quero fazer diferente! — Resmungou. Já tinha explicado isso para o outro, que achou tão ridículo, que simplesmente não colocava na cabeça que ir para a praia não era uma opção.

— Se quer mesmo dar uma de inovador, leva ele pro mato, acampar! Quero ver se vocês não vão achar diferente, daí! — O potiguar analisou a ideia do menor, incrédulo sobre como o outro achava isso algo cogitável.

— Mas no mato ele não vai gostar! — Rebateu, apreensivo. Precisava que fosse perfeito, não aceitaria menos que isso para o sergipano.

— Nortinho, eu vou até me sentar pra eu te explicar melhor. — Paraná fez o que disse, se sentando na poltrona de frente para o outro. — Se não quer ir pra praia, que é muito normal, e se não quer ir pro mato, que é diferente demais, onde que você se situa com o garoto? Me explica.

Rio Grande do Norte ajeitou o lenço na cabeça, xingando baixo em exagerada revolta.

— Eu não sei, égua! — Bateu na própria coxa, embasbacado. — Mas precisa dar certo! Eu gosto dele, Paraná.

— Eu sei! É perceptível! Você tá parecendo o Goiás, de tão gado! — Disse rindo alto, irritando o outro. — E se você só levar ele pra comer? Todo mundo gosta de comida, é só pensar em que tipo de restaurante ele gostaria de ir e... — O paranaense se interrompeu quando percebeu Rio Grande do Sul parado na porta.

— Do que vocês tão falando? — Perguntou cruzando os braços, a expressão em um bico de mau humor. Paraná estava praticamente paralisado, vermelho de vergonha. Norte observava os dois com atenção.

— Nada demais! O piá só tava me ajudando com um negócio. — Sul emitiu um som baixo de concordância. Chutando o pé do sulista moreno por baixo da mesinha de centro, Norte adicionou. — Né, Paraná?

Double Misery!Onde histórias criam vida. Descubra agora