Namoro

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Norte estava cansado de ter que pedir conselhos amorosos. Especialmente se fosse para Sul.

— Olha, em minha defesa, eu não pedi ele em namoro lá, porque a gente tava num bar! — O potiguar se explicava, dessa vez só pro irmão, que não sabia se ria ou se reclamava.

O moreno estava largado no sofá da própria casa, enquanto o loiro, do outro lado da linha, varria o chão.

— Você é de cair os butiá do bolso, sabia? Isso tudo é medo? Ele já não deixou claro o suficiente que quer namorar contigo? Porra.

— Medo é o cacete! E deixou, mas eu quero fazer alguma coisa bonitinha...

— A última vez que você foi fazer "alguma coisa bonitinha", sobrou pra mim, que tive que sair de casa pra ir buscar vocês dois, tá lembrado? E eu tô achando que é medo sim, você sempre foi o mais medroso. — Provocou, dando de ombros mesmo que o outro não fosse ver.

— Eu lá tenho culpa que choveu?! — Encharcava a voz de mal humor, bufando com indignação. — E NUNCA que eu fui o mais medroso, porra, tá me estranhando?

— Ah me poupe, eu cresci com você, era medroso sim, tinha medo de catar goiaba no sítio dos outros! E eu só tô dizendo que talvez seja melhor que seu próximo "plano infalível" não envolva ar livre.

— Mas eu tava pensando em levar ele pra praia... E falando nisso, você tinha medo de encostar o pé em qualquer coisinha na areia, nem vem falar de mim!

— Do jeito que a sorte sorri pro lado de vocês, capaz que chovesse de novo! E isso não era medo...

— Tá! Porra, se for assim a gente fica aqui até amanhã... O que você sugere que eu faça, então, demônio?

— Ué, não tem mais casa, não, Rio Grande do Norte? Chama ele pra te visitar, quem sabe se você ficar confortável você cria coragem.

— Minha casa não é romântica o suficiente...

O gaúcho suspirou, crendo fielmente que conseguiria rodar seja-lá-quantos-fossem quilômetros de estrada só pra dar um pescotapa bem dado no irmão. Do tipo que estala e fica ardido.

— Ele gosta de VOCÊ, seu tanso! Tu é burro pra caralho, puta merda! Se você quer tanto ser romântico, isso depende de você, não de lugar e o cacete a quatro, djanho. — Sul até tentava ser mais compreensivo, mas tinha em suas mãos um bocó de mola que o estressava.

— Pra você é fácil falar, não foi você que pediu o Paraná em namoro!

— É, mas eu aceitei! Tu acha que eu tava preocupado se o guri tava sendo romântico ou não? Chance é chance, irmão, eu já te disse isso.

O potiguar resmungava, não querendo aceitar o ponto de vista do gêmeo como certo. Mesmo que estivesse.

— Você acha que se eu enrolar um pouco mais, ele me pede?

Perguntou tímido, cogitando a possibilidade de deixar o sergipano agir. Ia ser adorável. E talvez até mais fácil, o loiro praiano poderia fazer o que quisesse, a resposta do potiguar sempre seria sim.

— Quer que eu seja sincero? Não acho. — Nem esperou a resposta do irmão, que protestou. — Se não pediu até agora! E quem tem histórico com relacionamento aqui é você, quem tem reputação de atirar pra tudo quanto é lado é você. Pra quê obrigar o coitado a te pedir em namoro, tu sequer sabe se ele já fez isso antes?

— A. — Norte pensou um pouco. — Deve ter feito... Sei lá! Tipo, eu nunca perguntei... Mas e aí, você nem me falou, levou bronca do seu ciumento depois que vocês saíram? — Riu, meio sem graça, questionando curioso ao mesmo tempo que queria aproveitar para mudar de assunto, enquanto se lembrava da cara adoravelmente mal humorada que Sergipe tinha no rosto quando estava enciumado. O moreno nunca pensou que fosse achar ciúmes uma coisa que deixasse alguém mais bonito, mas qualquer coisa deixava o loiro mais bonito, beleza era algo intrínseco a ele.

Double Misery!Onde histórias criam vida. Descubra agora