Capítulo 12

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Pov Lauren:

Olhei por alguns segundos o caminho que Camila fez até alcançar as escadas, suspiro antes de fechar a porta e caminhar até o sofá, me sentando no mesmo.

Estou confusa.

Quando conheci Camila no primeiro dia de aula, não senti nada mais que um início de uma possível amizade. Então fui conhecendo ela aos poucos, assim como também me mostrava para ela. Notei de cara o quanto é uma garota especial e parceira, já que sempre estava do meu lado.

Confesso que depois de descobrir sobre sua intersexualidade, algo mudou, talvez uma curiosidade à mais surgiu.

Comecei com olhares diferentes, tendo uma visão diferente da minha nova amiga. Traços que até então não chamavam tanto a minha atenção.

Camila é uma garota linda, não é difícil concluir. Sua pele levemente bronzeada destacava entre todas as outras, sem contar com sua postura e elegância, gritando tamanha etiqueta.

Eu amo olhar seus olhos, poderia facilmente encarar por horas. É um tom de chocolate que contém um brilho único. Mas hoje meus olhos focaram em outro detalhe seu.

Sua boca.

Nunca antes tive a necessidade de sentir o gosto de outros lábios como hoje. E foi aí que a confusão se destacou dentro de mim.

Eu não sou preconceituosa, longe disso, vejo todos os casais da mesma forma. Mas nunca uma garota chamou minha atenção, romanticamente falando.

Eu sei que gosto de garotos porque já houveram os que me integraram, tanto na beleza superficial quanto na espiritual. Mas obviamente nenhum conseguiu quebrar minha barreira e ser merecedor de carregar o cargo do meu primeiro beijo, já que sempre ocorria algo e eu simplesmente deixava de me interessar.

- Onde Camila está? - Mamãe me assusta ao entrar na sala, seu cenho franzido. - Não acredito que ela me fez uma nova desfeita - coloca as mãos em sua cintura. Sorrio.

- Não foi uma desfeita, ela precisava ir, a senhora sabe o quanto ela tem medo de sair daqui muito tarde - mamãe sorri relaxando a expressão.

- Isso é verdade - se aproxima e ao me encarar, novamente franze o cenho. - O que houve? Por que está com essa carinha? - claro que ela perceberia algo errado, afinal não existe alguém que me conheça tanto quanto mamãe.

- Não é nada - tento desconversar e ela estreita os olhos.

- Como não é nada? - suspira. - Vamos, enquanto me ajuda com o jantar, vai me dizer o que aconteceu - aponta para a cozinha e eu bufo já me levantando.

Mamãe me passou alguns legumes para cortar e eu comecei meu trabalho em silêncio, notando ela andar de um lado para o outro, colocando algumas panelas no fogão. Tudo isso também em silêncio, talvez me deixando confortável para começar a falar, algo que funcionou.

- Como soube que estava apaixonada por papai? - questiono em um fio de voz, mas sabendo que era alto o suficiente para ela escutar.

Ela para no lugar, e eu sei o que ela está pensando apenas por seus olhos arregalados em minha direção, mas ela se limita em engolir tudo que pretendia dizer, e então sorri.

- Hm - força a garganta. - Quando conheci seu pai foi amor a primeira vista, eu tinha quinze anos e tudo nessa idade parece um sonho - balança a cabeça divertida. - Ele era órfão e talvez por conta da sua história conturbada, acabou não tendo uma ajuda psicológica necessária e isso lhe acorrentou algumas escolhas ruins - dá de ombros. - Lembro que quando ele chegou na escola, sendo novato, muitos julgavam sua aparência e talvez por isso ele sempre era rude com todos ao seu redor. Mas o engraçado é que desde a primeira vez que o vi, senti o quanto ele precisava de atenção, era como se eu fosse responsável por suprir essa falta. Eu não sei explicar muito bem a necessidade de me manter perto dele, de oferecer coisas que eu sabia que lhe faltava, mas assim eu fiz, me aproximei aos poucos até ter sua total confiança - me encara. - E o resto da história você já sabe - pisca um olho antes de voltarmos para um silêncio, apenas nossos movimentos preenchendo o ambiente.

- Eu... - respiro fundo. - Eu não senti esse amor à primeira vista - olho de relance para mamãe. - Mas depois de um tempo, acho que posso usar suas palavras quando disse que sentia a necessidade de estar por perto, sem contar que agora tudo nela me chama a atenção...

- Nela?! - praticamente grita. - "Nela" quem?! - vem até mim, encarando meus olhos.

- Camila... - vejo sua boca abrir em surpresa. - E acho que se a senhora não tivesse chegado, não atrapalharia o beijo que ela me daria.

- Lauren! - começa a andar de um lado para o outro. - Meu Deus, meu Deus, meu Deus... - sussurrava e eu me sentia cada vez mais apavorada, já que eu não sabia se essa sua reação era boa ou ruim. - Eu não acredito nisso - para voltando a me encarar. - Não acredito que meu bebê está apaixonada e que ainda por cima estava prestes a dar seu primeiro beijo - seus olhos brilhavam.

Mamãe comprimiu os lábios antes de abrir os braços para me receber, que sem pensar duas vezes, fui até eles.

Depois de passar alguns segundos abraçadas, voltamos a nossa missão de terminar o jantar, que foi um processo rápido já que devido aos novos assuntos, a noção do tempo não se fez necessário.

Conversei bastante, fazendo questão de colocar tudo que estou sentindo, em palavras.

Mamãe também me ajudou com minha ideia formada sobre primeiro beijo, eu lhe disse que mesmo não acontecendo naquela noite, já me sentia arrependida pois ainda não sei se toda a confusão dentro de mim se ligaria a uma paixão.

- E essa é uma das melhores formas de amar alguém, você está se apaixonando por cada detalhe, Lauren. Isso é lindo - sorrio aceitando suas palavras. - E eu fico muito feliz que sua pessoa especial seja Camila, ela é uma ótima garota.

Jantamos e eu arrumei toda a bagunça da cozinha, quando fui chamar mamãe para assistir um filme, ela já dormia no sofá. Acordei ela para ir até a cama e decidi dormir também, afinal precisava descansar minha mente que estava à mil, amanhã será a apresentação do trabalho de literatura e eu preciso focar nisso, pois como uma boa bolsista, sempre preciso ficar atenta em minhas notas.

Where It All Began (G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora