P.O.V Lalisa ☆
Fique sabendo que nasci com um delicado nome em minha nuca, mas só soube daquilo aos meus dez anos. Mas antes de tudo, eu preciso voltar ao dia que escutei uma meiga voz em meu pensamento, e não era a minha.
O primeiro pensamento foi triste, apesar de eu ter apenas cinco anos e sequer entendia perfeitamente, mas aqueles pensamentos me faziam chorar. Minha soulmate sentia falta do pai dela, e ela pensava tanto nisso. Mas como eu disse, sequer sabia que eu tinha alguém para ser meu, então os dias foram passando e aquela voz se fez parte do meu dia-a-dia. Até se tornarem partes de mim.
Também houve pensamentos adoráveis, gentis e engraçados. E eu não podia evitar de rir sozinha, sem ter noção que precisava esconder esse meu dom dos outros, então acabei contando para minha família meu "poder". Eles me ignoraram, não achando nada legal. Tanto faz. Agora essa voz tinha pensamentos bons para mim.
E ela ainda pensava sobre mim. Ela pensava o quanto queria me conhecer. E eu pensava em como queria que minha "amiga imaginária" adoraria conhecer os meus brinquedos favoritos.
E anos passaram, até eu começar a ficar incomodada com essa voz que nunca ia embora. Até que então eu finalmente completei dez anos, e foi um dia após meu aniversário que contei para Minnie, minha prima, alguns dos pensamentos que sequer fazia sentido eu pensar.
Então eu soube sobre soulmates. Soube também daquele nome em minha nuca, o qual meu cabelo longo cobria. E eu simplesmente adorei ter alguém para mim.
Adorei até o momento que comecei a odiar.
Era uma tarde tranquila, até eu começar a passar mal e desmaiar. Não havia sentido nada, nenhum sinal que algo poderia acontecer. Nem mesmo os exames não mostraram nada, afirmando que só deveria ser um mal estar. Eu sabia que era por causa da minha " K Jennie." Seus pensamentos não poderiam esconder nada de mim.
E foi nessa idade que eu simplesmente não aguentava mais escutá-la. Por que ela tinha que ser tão triste e me transmitir esses pensamentos?
Não era algo que eu poderia mudar, mas no fundo sabia que deveria ajudá-la, pois só assim eu poderia finalmente ser feliz. Feliz e sem ela.
Comecei a pesquisar sobre almas gêmeas, tudo mesmo, até os simples detalhes. Conversei com meus poucos amigos sobre tal assunto. Eu sabia que Jennie era diferente, e nunca deveria ser minha soulmate.
- Você gostou? —Minnie perguntou, além de prima, ela era minha melhor amiga. — Eu amo esse gostinho de morango no final.
- Gostinho de morango?
- Sim! Não é ótimo?
Olhei a enorme taça de doce cremoso em minha frente, já quase no final.
- É...gostei.
- Ei, o quê foi? Você deveria ficar alegre sempre que comer algo, sabia?
- Tanto faz. Tudo tem o mesmo gosto.
- Claro que não, bobalhona.
- Tudo tem gosto de nada. —Digo simples, mexendo a colher no doce.
- Qual é o seu problema?
Suspirei profundo, eu tinha noção que alimentos deveriam ter gostos específicos, mas nada que eu comia tinha gosto, diferente dos sabores estranhos que apareciam de repente no meu paladar. Não foi nada difícil saber que era por causa Dela. Jennie.
- Os sabores...eu sinto apenas quando ela come.
- Mentira! Sério, Lisa?
- Acho que sim, digo, é.
- Calma aí. —Levantou depressa, indo procurar algo no armário e logo na fruteira. Limão. Ela pegou um limão. — Você só pode estar me enganando. —Diz partindo o limão no meio.
Nada, não tinha nenhum gosto e eu quase ri quando Minnie ainda estava mandando eu provar certas coisas. Ela ficou até incrédula pois eu não tinha nenhuma reação, afinal, nada tinha gosto.
- Que cara é essa, Lisa? Você sentiu o gosto?
- Eu odeio essa Rosé.
- Ãh? Que Rosé?
- Jennie está com a Rosé... —Não sei porque ficava chateada, sendo que eu nem amava minha soulmate. — Elas são ótimas amigas, entendeu? Jennie pensa coisas adoráveis dessa Rosé.
- Ah. Você está com ciúmes! Que fofinha.
- Não é ciúmes, só acho desnecessário ela estar pensando na Rosé, ao invés da prova que terá. —Levantei. — Sabe, acho que algum dia irei enlouquecer com tantos pensamentos.
Nunca enlouqueci, mesmo estranhando como mantive tão bem minha consciência, contudo o momento mais irritante foi quando escutei pensamentos de como pedir outra garota em namoro. Como Jennie estava fazendo isso comigo, sendo que ela já pensou e pensa inúmeras vezes em mim!? Eu odiei saber que ela namoraria com essa Rosé, ao ponto de eu querer me distanciar novamente das pessoas ao meu redor.
Eu não queria ter novamente meu quarto como refúgio, pois sabia como aquilo doía, mas eu precisava outra vez ficar encolhida na cama sempre que pensamentos impróprios aparecia. Eu só queria dormir, assim não precisava escutá-la. Por sorte, muita sorte, esse namoro não durou tanto.
Mesmo assim prometi novamente que nunca ficaria com minha soulmate, mesmo sabendo que havia sentimentos dentro de mim. Entretanto, quando a vi pela primeira vez, eu só desejei ser amada por ela, fingindo que não sabia quem era.
Foi incrível conhecê-la, e saber que ela estava esperando o meu tempo. Foi difícil ignorar os pensamentos dela, mas consegui e disfarcei muito bem. Tê-la um dia comigo foi além da imaginação, era algo que eu nunca iria descrever. Eu me senti tão em paz.
Foi incrivelmente estranho sentir finalmente o gosto de alguma comida, quase não conseguindo esconder minha reação, e ainda bem que não escondi totalmente, foi adorável vê-la rindo toda encantada por mim. Pela primeira vez eu podia sentir gostos, e não era necessário de Jennie provando antes.
Mas quando chegou o fim, doeu vê-la triste e eu ter que falar palavras frias, e mesmo sabendo que era desnecessário, para mim foi necessário.
Foi também chato parar de sentir sabores, tendo em alguns dias noção que eu precisava ter conexão novamente com ela para esse dom ser bloqueado e eu ter meu próprio paladar. Foi aí que percebi, para eu ter uma vida "normal" eu precisava amar minha soulmate e tê-la comigo, senão esse mecanismo atrapalharia tudo.
Eu ficava feliz por saber que Jennie estava continuando sua vida, mesmo vez ou outra exausta e pensativa demais. Eu sabia tudo sobre ela, qualquer segredo. Óbvio que eu ainda odiava esses dons, apenas aprendi a conviver com eles.
Tinha noção que algum dia iria reencontra-lá novamente, e como o destino é insano, acabamos sendo juntadas da maneira mais louca.
Eu não queria amá-la, porém era tão difícil evitar meu amor... Não que eu saiba corretamente o quê é amor, mas só Jennie me transmitia esse sentimento de querê-la por perto e abraçá-la.
O quê são Soulmates? Eu podia pesquisar milhões de vezes sobre esse assunto, mas parecia que a resposta correta estava longe de ser revelada. Era muito além de nascer com um nome em sua pele, o significado deveria ser tão belo.
Sempre seria estranho amar alguém, ainda mais sem ver, mas e se isso fosse realmente amor? Como dizem, o amor é cego, não é? Amor é essência. Você pode amar sem ao menos tocar em alguém, o amor apenas se sente.
Eu apenas deveria parar de ter medo.
🎈🎈🎈
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Um dia {Soulmates} concluído
FanficEra totalmente injusto ver que todas pessoas em sua volta tinham ou estavam conhecendo sua alma gêmea, enquanto você ainda não teve nenhum contato com o amor da sua vida, mesmo sabendo que ela existe. Mas com Jennie ocorreu totalmente diferente, o s...