Capítulo 8 - Abrindo a caixa de Pandora

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Na manhã seguinte, depois de verificar os e-mails em seu laptop, Amanda desceu a escada com a incômoda sensação de ter feito algo errado. Receava encontrar David e ler a censura nos olhos dele. Na certa, o mordomo não aprovaria sua atitude leviana. Afinal, ela própria se recriminava por ter cedido aos impulsos de seus desejos.

Entrou devagar na cozinha, e suspirou ao constatar que ele não estava lá. A mesa do desjejum, posta para dois, permanecia into­cada. Sentou-se e apanhou uma taça de iogurte com framboesas fres­cas, sorrindo ao pensar que até mesmo a mais trivial refeição tornava-se um banquete naquela mansão.

Comeu com apetite e retornou ao quarto, disposta a ler um ro­mance enquanto esperava por Bill. Sentou-se na cadeira da sa­cada, mas o livro permaneceu fechado em seu colo e seu olhar perdido no horizonte. Será que foi certa a decisão de se mudar para lá?

Amanda sorriu. Quem estava tentando enganar? Abandonara a racionalidade fazia muito tempo. Pela primeira vez, desde que podia lembrar, tomara uma decisão prática baseada apenas nas emoções. Ignorara as implicações que poderia ter para sua carreira, a natu­reza temporária de sua ligação e mesmo o impacto que aquela escolha pudesse vir a causar sobre outras pessoas, como David, Tom e seus até próprios colegas na empresa.

Por que? Porque estava se envolvendo e descobrindo que a emo­ção era mais poderosa do que a razão. Porém, o sonho que vivia era temporário. Quando se encerras­sem as negociações, e caso a fusão das duas companhias não se comple­tasse, ela e Bill seriam concorrentes. Pertenciam a mundos muito diferentes e muito em breve teria de voltar a encarar a realidade.

Bill não queria uma relação permanente. Só a aceitava em sua vida nas eventuais saídas do laboratório. Além disso, a única mulher por quem se apaixonara era seu oposto. Chantelle era sofisticada, elegante e sabia como se comportar em situações so­ciais. Só ela teria conseguido retirar Bill da redoma que cons­truiu ao redor de si.

Como pôde ser tão tola a ponto de gostar de alguém tão programado para não retribuir? Se tivesse mais de dois neurônios funcionando no cérebro iria embora e nunca mais o veria de novo! Quanto mais ficasse ao lado dele, mais se magoaria quando tudo terminasse.

Colocou o livro sobre a mesa a seu lado e se ergueu, debruçando-se na murada.

O que aconteceria se Gustav descobrisse que estava tendo um romance com seu cliente? Se conseguisse fechar o acordo, seria capaz de dizer que fora porque ela o seduzira?

Assim como Gustav, Bill também poderia ter uma ideia equi­vocada a seu respeito e crer que Amanda o seduzira para que con­cordasse com a fusão.

Inquieta, entrou e se pôs a caminhar pelo quarto, tentando ignorar a voz que ecoava em seu íntimo. Bill não podia deixar que os negócios se misturassem com o fato de estarem dormindo juntos. Se mudasse de opinião sobre a fusão, deveria ser pelos dados novos que conhecera e não pela intimidade que compartilharam.

Atendendo ao apelo urgente da consciência, correu para fora do quarto, atravessou o corredor e deteve-se diante da porta do laboratório. Bateu de leve e esperou alguns segundos. Não houve resposta. Bateu mais uma vez, com mais força. Nada.

Sabia que ele estava lá. Não conseguiria esperar até que Bill aparecesse para esclarecer sua posição. Tinha de aplacar a culpa que estava tirando-lhe a paz. Num gesto ousado, colocou a mão na maçaneta e forçou-a. Abriu a porta e entrou, e ficou impressionada com o que viu.

O laboratório mais parecia uma grande empresa, a julgar pelos sofisticados equipamentos. O zunido insistente de vários compu­tadores funcionando ao mesmo tempo e um discreto aroma de ozônio caracterizavam o ambiente. O lugar, maior do que a sala de estar no andar inferior, era repleto de prateleiras com vários sistemas de computadores em diversos estágios de construção, e um impressionante equipamento de controle, ocupava a mesa ao centro.

Uma Equação Perfeita  | Bill KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora