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- Fred, não vai tá fechando esse mês. - Disse observando as contas feitas no papel a minha frente, minha perna não parava um segundo, minhas mãos rodavam a cabeça incansavelmente e todas as peles que poderiam ser retiradas de meus dedos já foram embora.

- Quanto falta? - Fred diz apoiando-se na cadeira que eu me sentava.

- Trezentos dólares. - Disse e ele começou a andar por nossa pequena sala. 

- Não é muito, a gente consegue, eu tenho mais uns trabalhos essa semana e vou conseguir duzentos. - Ele disse e meu desespero abaixou um pouco. - Depois a gente vê de fazer uns bicos pra ter uma reserva boa. 

- Eu vou ver se consigo alguma coisa por aí, sei lá qualquer coisa que de dinheiro. - Disse e ele assentiu.

- Vai dar certo, se acalma. - Ele diz fazendo uma rápida massagem em meus ombros. - Você não tem clientes essa semana? - Ele diz e eu nego, infelizmente.

- A cada segundo penso em desistir desse sonho, parece que não é pra mim. - Disse e recebo um tapa fraco na cabeça.

- Cala a boca, a gente chegou aqui tem uns 5 meses, logo a gente consegue uma clientela boa. - Fred diz e eu apenas dou ombros, amo com todo meu coração fotografar, mas os últimos meses foram complicados demais para conseguir pagar o aluguel de nosso apartamento, que também serve de estúdio. Nossa mudança foi praticamente um plano de dois adolescentes rebeldes, trabalhamos por um ano igual condenados no Brasil, conseguindo assim um dinheiro pra conseguir sobreviver aqui nos Eua, em busca de algum reconhecimento de nosso trabalho. É claro que não pensamos que seria fácil, mas eu achei que seria menos difícil. Para Fred as coisas parecem ser diferentes, ele vê como se tudo fosse a sua primeira oportunidade, enquanto eu penso que é a última. 

Talvez isso seja culpa de minha família, que tem um ditado terrível, "faça tudo como se fosse sua última vez, pois pode ser.". Sempre quis morrer quando falavam isso, me deixe viver sem pensar que vou tropeçar e quebrar o pescoço a qualquer momento. 

- Vou sair com Moyo, quer ir? - Fred diz colocando seu casaco e nego. 

- Manda um beijo pra ela. - Disse e ele assentiu, Moyo é nossa amiga que sempre viveu aqui, sua família é originalmente de Moçambique então português não é um problema para ela, mas seu sotaque é tão fofinho que não aguento. Moyo, ou Norah, é a pessoa mais amável que existe, ela é do tipo que sabe que você precisa de um abraço, que não se importa se vamos ir no restaurante mais chique ou mais furreca da cidade, apenas o que importa é estar confortável e feliz, isso é notavelmente uma herança familiar, já que sua família é a coisa mais pacífica e encantadora do mundo. Ok, talvez minha família que era um pouco conturbada e estressada.
Abro meu notebook e começo a procurar alguma oportunidade de arranjar dinheiro, claro que existem mil formas de exibir meu corpo e pagar facilmente o aluguel, mas sou restrita demais para isso. Páginas e mais páginas procurando algo que eu conseguisse fazer, quando acho a oportunidade perfeita: "Entrega de panfletos: 15 dólares por dia.". Porra é isso que eu vou fazer, logo mando o e-mail e a reposta não demora a chegar, amanhã começarei minha nova profissão. 

Catarina, a entregadora de panfletos.

Flyer - Bruna Marquezine.Onde histórias criam vida. Descubra agora