Prólogo

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- Anjo Caído. - Jay sentiu como se um soco golpeasse seu estômago ao ouvir aquelas palavras.

Na verdade, era quase como se sentisse a ineficácia do seu córtex pré-frontal em modular a raiva, ao passo que a irritação ia se estabelecendo em seu corpo. Os dedos cerrados em um punho estavam brancos pela falta de sangue devido à força que aplicava. Anjo Caído? Heeseung só podia estar brincando. Aquela era a última pessoa com quem Park Jay admitiria trabalhar junto.

Tinha total noção de que aquele era um caso especial, que não dependia somente de suas habilidades. Quer dizer, não fazia ideia de quantos policiais estavam envolvidos naquele esquema, mas sabia que eram muitos. Suas limitações eram muito maiores daquela vez. Aqueles filhos da puta comprados com dinheiro sujo iriam tornar seu trabalho muito mais difícil que o normal. Não importava se era o melhor detetive criminal de toda Seoul, ou se conseguia resolver todos os casos que caíam em suas mãos. Aquele caso, especificamente, seria uma questão extremamente mais difícil.

Mas ter que trabalhar com o Anjo Caído? Heeseung tinha que estar brincando. Ou isso ou ele havia, finalmente, enlouquecido depois de tantos anos lidando com sequestradores, atentados a bomba e assassinos em série. Contudo, o cenho franzido em preocupação e o olhar ansioso que ele sempre lançava ao esperar uma resposta importante faziam Jay pensar que não, ele não estava brincando. Nem estava louco. Ele estava realmente lhe notificando de que, a partir daquele momento, iria trabalhar com a pessoa que mais odiava em todo o mundo.

A única coisa que o fez não gritar e xingar como um louco foi ter percebido, naquele olhar destinado a si, que ele também não gostava nada da situação. Mas aquilo não era surpresa, sabia bem o que significava. Sabia no que aquela atitude extrema implicava. A situação era completamente diferente de tudo aquilo que já enfrentara. Era algo que estava majoritariamente além de suas mãos e seus poderes como defensor da lei. Era algo que demandava ajuda vinda das entrelinhas da Constituição da República da Coreia ou, até mesmo, de onde ela não era respeitada ou executada. E era por isso que precisavam do Anjo Caído.

Só por isso, e somente por isso, Jay respirou fundo, soltando os punhos devagar após apertá-los ainda mais, e controlou sua raiva.

- Heeseung, eu prefiro que nós pensemos com mais cuidado em como lidar com esse caso. - Ouviu-o suspirar, mas não desistiu antes de terminar sua argumentação. - Não acho que essa seja a melhor saída, ou a mais inteligente, e...

- Nós não temos tempo, Jay, nem outra solução. - Heeseung interrompeu-o. - Você acha que eu estou bem com isso? O caso foi passado para o nosso departamento, porque não existe ninguém melhor que a gente nessa área, mas olha toda essa situação. - Apontou para a mesa metálica presente na sala, sobre a qual estavam inúmeros arquivos com informações do caso. - E eu não estou nem falando do quão perigoso é. São policiais, Jay, caras que, assim como nós, juraram proteger a lei e as pessoas do nosso país e, agora, estão ajudando toda essa grande merda de tráfico de órgãos. - Passou uma das mãos nos cabelos, penteando-os para trás, enquanto descansou a outra em sua cintura. - Nós não temos cobertura alguma aqui. Não temos alternativa.

Jay virou de lado e andou até a janela do local. Olhou para a rua abaixo, vendo pessoas em escala menor, pela distância e altura a qual estava. Eram aquelas pessoas que tinha jurado proteger, as mesmas pelas quais dava seu tempo livre sem reclamar, se fosse para resolver algum caso. E era por elas que deveria passar por cima de sua raiva e aceitar aquela situação.

Olhou para Heeseung, que lhe encarava preocupado, esperando uma resposta, e tentou suavizar sua própria expressão.

- Quem mais está na equipe?

- Sim Jake, da área de inteligência, e Park Sunghoon, nosso policial de campo mais confiável. Estamos restritos em cinco pessoas, porque é um caso especial. Tive que escolher bem nosso pessoal. - Pegou seu sobretudo, pendurado no encosto da cadeira ao seu lado, e o vestiu. - Também não podemos trabalhar aqui, por isso consegui um lugar isolado para a resolução do caso. Vamos, vou mostrar onde fica.

O Lee andou em direção à saída, sendo seguido por Jay, e o último som ouvido naquela sala de reuniões foi o da porta batendo contra a guarnição.

Criminal Love (Jaywon)Onde histórias criam vida. Descubra agora