Confusão

1.2K 119 163
                                    

Os primeiros raios de sol ainda estavam começando a aparecer naquela manhã. Jungwon havia comido somente uma maçã que achara por ali, e estava passando um tempo com o cachorro no quintal. Ele precisava de ar fresco, precisava fazer suas necessidades básicas e precisava de um nome. Mas o Yang não conseguia decidir como iria chamá-lo.

Desejava que aquele fosse seu único problema. Logo teria que deixar aquela tranquilidade matutina e voltar para o mundo real, onde toda aquela investigação o aguardava. Além disso, ainda havia a situação que envolvia ele e o Park. Quer dizer, como ele iria agir dali para frente? Iria continuar implicando consigo como sempre fez? Iria baixar a guarda e lhe tratar como uma pessoa normal? Iria querer repetir o que fizeram na noite anterior? Iria fingir que nada aconteceu?

Jay era uma incógnita, complexa e instável, e não dava para saber qual seria seu próximo passo.

E havia aquele sonho.

Não tinha conseguido dormir o resto da noite, e aquele era o motivo das duas pequenas bolsas escuras abaixo de seus olhos. O que significava aquele sonho? Aquilo realmente havia acontecido? A única coisa que se lembrava sobre sua primeira vítima fora acordar ao lado do homem, completamente mutilado, em uma cama de algum estabelecimento qualquer. Não lembrava o dia anterior ao suposto assassinato, não lembrava que lugar era aquele, nem se lembrava de como tinha parado ali. Tudo o que sabia era o que Sunoo havia lhe dito. Que Jungwon tinha matado aquele homem, tinha o mutilado e o torturado, a mando dele.

Lembrava-se de ter recebido parabéns muito convictos por parte de seu melhor amigo, e lembrava também da briga que sucedeu após isso. Tinha até tentado voltar para sua antiga vida, tentado pedir perdão a qualquer divindade existente em um plano superior, e tentado esquecer que tinha matado alguém. Tinha matado uma pessoa, um ser humano, fora isso que ouvira de Sunoo, como se fosse um prestígio, uma coisa a se comemorar. Nunca se sentirá tão imundo e triste em toda sua vida.

Mas já era tarde demais. A mágoa de si mesmo e de seu único amigo era grande, mas o vício na adrenalina que Sunoo e sua vida ilegal lhe ofereciam era muito maior. O vício é uma praga que corrói o ser humano da pior maneira possível. Pode estar ligado a qualquer coisa, não somente a drogas e álcool. Jungwon era um viciado, um maldito viciado de merda, que queria sentir sua pulsação tão rápida que não fosse capaz de escutar qualquer coisa ao seu redor. Era viciado nas drogas que Sunoo lhe dava, e na vida que ele lhe proporcionava. Era viciado no dinheiro fácil e no modo como podia esquecer seus problemas enquanto se preocupava somente em tirar a polícia de sua cola. Não tinha opção. Foi obrigado a voltar para aquela vida por seu próprio organismo, e também porque não havia qualquer outra perspectiva para si.

Mas por que estava sonhando com aquela época? Por que estava revivendo lembranças que somente gostaria de esquecer? Sua memória tinha buracos em branco, não só daquele momento, mas de situações posteriores àquela. E por mais que soubesse que tinha feito tudo aquilo, que tinha matado todas aquelas pessoas, Jungwon se condenava, porque tinha ódio de ser um assassino. Não queria ter matado aquelas pessoas, não importava o quão mau caráter fosse, o quão ruim suas atitudes eram, de uma coisa tinha certeza: nunca teve a mínima intenção de matar alguém.

Seus pensamentos foram cortados quando ouviu a porta que dividia o quintal do resto da casa ser aberta, e Sunghoon passar por ela, sentando-se ao seu lado. Ele tirou um isqueiro do bolso e acendeu o cigarro que, só naquele momento, Jungwon notou que ele segurava entre os dedos. O policial deu uma longa tragada e passou a observar o cachorro, que rolava de costas na grama curta dali, talvez se livrando de algum incômodo em seus pelos.

- Não sabia que fumava. - Voltou a olhar para o cachorro.

- Não fumo com frequência, só quando tenho que acalmar meus nervos. - Ele respondeu sem lhe olhar.

Criminal Love (Jaywon)Onde histórias criam vida. Descubra agora