Negociação

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Yang Jungwon podia sentir pequeninas porções enferrujadas das algemas beliscarem sua pele enquanto andava por aquele corredor estreito. Apesar de já ser fim de tarde, sua barriga ainda embrulhava um pouco pela comida com cheiro de mofo, acompanhada de kimchi azedo, que sempre era servida como almoço. Havia comido aquilo durante os últimos dois anos de seus 20 anos de vida, mas ainda não tinha se acostumado.

Seus passos eram um pouco lentos, porém decididos. Tinha uma forte curiosidade sobre quem iria encontrar na sala de visitas para onde estava indo. Buscava e rebuscava em sua mente qualquer nome elegível, mas não encontrava um sequer. Quer dizer, a não ser o dele. Mas seria quase que impossível, há anos não o via e ele nunca lhe visitara durante o tempo que estivera ali. Contudo, não era como se estivesse realmente preocupado com a situação, nunca fugira de nada, não o faria naquele momento. Até mesmo porque havia um agente penitenciário logo atrás de si, direcionando-o à frente, sem dar alternativas.

Nenhum nome conhecido lhe vinha à cabeça. Ninguém o visitava. Nunca. Não havia pessoa alguma no mundo para si. Seus pais morreram em um acidente de carro quando estava começando a faculdade e o resto de sua família queria a máxima distância, desde que se assumiu homossexual, inúmeros anos atrás. Contudo, o instinto natural, no qual sempre confiara e que sempre lhe levou ao sucesso em seus atos ilegais antes de ser preso, dizia claramente que estava indo em direção a algo importante, algo que iria mudar sua situação totalmente, daquele momento em diante.

E Jungwon supôs que não poderia estar mais certo, assim que visualizou a imagem pomposa do 1º Tenente do Serviço Especial, através da pequena janela de vidro no centro da porta. O mesmo que havia lhe caçado e prendido naquela droga de prisão de segurança máxima. Lee Heeseung.

O agente penitenciário que lhe segurava pelo ombro abriu a porta da sala de visitas e o empurrou de leve para dentro.

- Se tentar qualquer coisa, já sabe pra onde vai.

O tom de advertência do homem era claro e foi o suficiente para que um calafrio percorresse o corpo de Jungwon ao lembrar-se das vezes em que foi para a solitária. O lugar frio e escuro, que não o deixava saber se era dia ou noite, era o pior dos pesadelos do Yang naquele lugar. Contudo, logo tratou de se concentrar na situação e sentou-se de frente para o Tenente, encarando-o sem vacilar o olhar.

Heeseung sabia que aquela conversa seria delicada. Estava mais para uma negociação. Isso. Negociação era a palavra que melhor poderia expressar a conversa que estava prestes a ter. Já havia lidado com inúmeros ricaços e empresários ao longo de sua carreira, então sabia que devia começar lentamente, bem aos poucos.

Apertou um pouco a intensidade de seus dedos, ao segurarem os jornais que havia levado consigo, e deixou que as palavras viessem.

- Já faz tempo desde a última vez... Como tem passado?

- Melhor impossível, não acha, Tenente Heeseung? - O sorriso debochado somente cresceu em sua face ao notar a irritação do outro com seu sarcasmo.

O Lee amaldiçoou internamente por ter que estar ali, buscando por aquele bastardo. Isso não era surpresa alguma, fora Heeseung quem caçara o Anjo Caído pessoalmente, não era de se admirar que ele soubesse como irritá-lo.

Respirou fundo, tentando não sair do estado natural de tranquilidade que tinha, e pôs os jornais em cima da mesa.

- Você se lembra? - Perguntou sem desviar a atenção do Yang, que não demorou em analisar as matérias impressas.

Jungwon ainda mantinha o sorriso no rosto. Entretanto, já não era pelo deboche, mas sim, por caçoar do que parecia ser inocência vinda do Tenente. Pôde ver o que continha nas páginas e já imaginava o que estava por vir.

Criminal Love (Jaywon)Onde histórias criam vida. Descubra agora