Sinceramente

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O clima entre mim e Pailiu na detenção era bem estranho, parecia que ela queria muito falar comigo, mas ficava se policiando o tempo todo e acho que eu preferia que ela não falasse. Nossa relação nunca foi fácil, no sétimo ano eu tinha uma queda enorme por ela, talvez por isso eu seja tão flexível quando se trata de Pailiu. Só que ontem a noite algumas coisas mudaram, eu vi arrependimento em seus olhos enquanto gritava com ela no lado de fora da lanchonete que minha prima trabalha, ainda bem que Aum já tinha ido embora ou ela faria o que fiz mil vezes pior. E ontem a noite Pailiu não merecia, ela estava bêbada e mal se aguentava em pé e eu ainda a levei em casa, acho que tá escrito trouxa na minha testa, mas não me julguem, já faço isso comigo mesma.

- Esse cenário seria para uma peça de teatro ou algo assim?. Pergunto para a professora de artes, ela sorri gentil e me olha como se esperasse por essa pergunta desde que chegamos.

- Vamos fazer um musical esse ano. Ela diz animada e eu sorriu pensando, eu adoro cantar, talvez conseguisse um papel bom.

- Moulin Rouge?. Ouço a pergunta de Pailiu atrás de mim e fico surpresa, não sabia que ela entendia de musicais.

- Isso mesmo. Cora fala ainda mais animada e caminha pelo palco. - As audições começaram essa semana e ainda não achei meus protagonistas perfeitos, já preencheram outras vagas, mas não bom o bastante para ser Christian e Satine. Ela sorri abertamente e Pailiu e eu nos olhamos, pela primeira vez aquele dia, pela primeira vez depois de ontem.

- Está pensando em se inscrever atleta?. Pergunto apenas para provocar, ela amava me chamar de Nerdzinha.

- Seria incrível, as aulas de artes não são tão frequentadas e talvez a estrela do futebol feminino atraia mais pessoas para cá. Os olhos da professora Cora brilhavam, ela estava falando sério.

- Com certeza não, eu não sei cantar. Pailiu diz de um jeito envergonhada. 

- Tudo bem, às vezes você pode ser afinada e não treina para isso. Cora insisti e eu sorriu de lado para Pailiu, era engraçado ver ela desse jeito, nunca vi ela assim na verdade.

- Obrigada, mas tenho que estudar para uma prova super difícil e os treinos me consumem bastante. Ela diz simples e eu fico a olhando, eu estava surpresa, Pailiu acabou de colocar os estudos em primeiro lugar?.

- E você Ajcharee, se interessaria?. Nego assim que ela fala meu nome.

- Não, muito obrigada, mas não. Ela da de ombros e volto a pegar o pincel e passar devagar na torre a sua frente, ela estava realmente caprichando para o musical. Meus olhos encontram o de Pailiu e ela me olhava de um jeito estranho. - Algum problema?. Pergunto sem som e ela arqueia uma sobrancelha negando, o que deu nela?.






Vou até o estacionamento e me abaixo apertando o pneu da minha bicicleta.

- Por que está cheio?. Isso era um milagre, meu pneu nunca estava cheio desde que comecei a vir de bicicleta para escola.

- Eu pedi para não furarem mais eles. Olho para trás tomando um pequeno susto.

- Você pediu?. Pergunto olhando diretamente para Pailiu, eu não acredito no que ela estava falando, não tem muito porque me julgar por isso.

- Sim Snack. Ela suspirou e suas mãos estavam nos bolsos. - Eu tenho sido tão babaca com você e por ironia do destino ou do Professor James, agora eu dependo de você. Ela começa a falar e entendo onde ela queria chegar.

- Eu não vou voltar a te ensinar. Me viro de costas para ela e começo a tirar o cadeado da bicicleta. - Pode mandar eles voltarem a furar meus pneus. Tiro a bicicleta da estrutura e ouço a risada de Pailiu atrás de mim. - Está rindo de mim?. Pergunto brava, ela ama me provocar e me tirar do eixo.

- Eu apenas achei engraçado você falando para eu mandar eles voltarem a furar seus pneus. Ela fala ainda rindo, mas assim que seu rosto vem até mim ela para.

- Já de divertiu bastante?. Falo olhando para ela que fica seria no mesmo instante. - Que bom, até amanhã nesse mesmo horário nesse mesmo lugar Kamonwalai. Começo a ir em direção ao portão principal quando sinto uma mão segurar meu braço.

- Espera Snack, preciso falar com você. Respiro fundo e me viro novamente para olhar para Pailiu.

- Eu já disse que não vou te ensinar, me desculpa, mas prefiro...

- Manter distância. Ela diz simples. - Eu sei e não é sobre isso que quero falar. Ajeito meu corpo e me viro de novo para ela, sua mão solta meu braço e ela mexe elas uma na outra de um jeito nervoso. - Eu quero te pedir desculpas, por ter te arrastado para festa e por ter te largado lá, por ter deixado os meninos te jogarem na piscina. Ela disse tudo rápido demais e eu não conseguia acompanhar. - Eu só quero pedir desculpas Snack. Seus olhos param nos meus e eu juro que vi sinceridade ali, mas, no fundo eu sabia que ela apenas estava querendo que eu voltasse e ela não perdesse o lugar no time, ela deveria estar surtando por não estar treinando e nem participando dos jogos. - Não vai falar nada?. Ela disse com um tom de desespero.

- Eu não acredito nas suas desculpas. Digo simples e volto a me virar, subo na bicicleta e começo a sair do colégio sem olhar para trás. Eu não estava sendo cruel agindo assim não né?.









Ligo a tv no meu programa favorito e me aconchego na cama, ouço duas batidas na porta e em seguida ela se abre levemente e meu irmão coloca apenas sua cabeça dentro do meu quarto.

- Será que eu posso entrar?. Assenti e ele veio até minha cama se sentando ao meu lado e coloco a cabeça em seu colo, sinto seus dedos passar devagar sobre meus cabelos.

- Você sabe que não precisa perguntar. Olho para tv e presto atenção no que o apresentador falava.

- Você não cansa de assistir aos programas de músicas não?. Ele diz e dá uma risadinha no final da pergunta, ele já sabia qual era a resposta, só gostava de implicar, coisas de irmãos mais velhos. - Mamãe me falou que ficou em detenção, por quê?. Continuo olhando para a tv.

- Por discutir no estacionamento do colégio. Sinto sua mão parar no lugar e tenho certeza que Note estava me olhando.

- Você discutindo? Com quem? Por que motivo?. Se eu falasse o motivo Nate iria ficar bravo, e eu não queria que mais ninguém além de Aoom soubesse o que aconteceu naquele festa.

- Sim, com a Pailiu. Ele puxa meu rosto pelo queixo delicadamente e meus olhos vão ao encontro do seu. - Ela não foi bem no teste do James e estava me culpando por isso, nada de mais. Digo rapidamente e ele me olha sério.

- Por que essa garota é tão folgada? Você não tem culpa se ela é pior que uma porta para aprender e além disso você não é nenhuma babá e não está sendo paga para isso. Sei que ele estava bravo, então seguro sua mão na minha e aperto levemente.

- Eu sei me defender, você sabe não é?. Ele demora um pouco mais assente. - Não quero que se meta nisso, por favor. Não queria que meu irmão brigasse com ninguém, nem com Pailiu e nem com seu irmão, meu irmão era dois anos mais velho que eu e fazia faculdade e trabalhava, ele era o orgulho aqui de casa e meu porto seguro. Era para quem eu contava tudo e corria no primeiro instante, nada nunca mudou isso. Quer dizer, além desse momento, eu acabei de mentir para ele e mesmo que minha cabeça estivesse em uma confusão, tinha certeza que era por um bom motivo.

- Espero que sobreviva a detenção. Ele faz careta me fazendo rir.

- Eu vou tentar, como a Aoom também está lá terei cuidado em dobro. Ele da risada e volta a fazer carinho no meu cabelo, viro o rosto novamente para a tv e presto mais atenção na música que uma das candidatas cantava, eu amava esses tipos de programas. Por um segundo a imagem de Pailiu me pedindo desculpas hoje cedo volta com tudo e a pergunta ainda estava ali, será que eu não fui cruel demais com ela?.

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