E não se falava em outra coisa pelos corredores do East desde ontem, que não fosse Pailiu Kamonwalai trancou Jeff e Brad jogadores de futebol americano no armário nas três primeiras aulas. Ninguém sabia o motivo que levou ela a fazer isso, e para falar a verdade eu quem não queria mesmo saber. Estava bem assim com Pailiu longe de mim.
- Quer fazer alguma coisa mais tarde?. Aoom pergunta me olhando quando saímos da sala.
- Só se você for lá em casa, minha mãe me deixou de castigo por causa da detenção. Faço careta.
- Me desculpa por isso, juro que não foi minha intenção você parar na detenção. Sorriu para ela e viramos o corredor.
- Não é como se a culpa fosse sua e além do mais. Bato meu ombro no seu. - Você só estava me defendendo como sempre. Ela sorri pequeno, Aoom sempre é protetora, desde que nos conhecemos.
- Eu queria ter socado a cara de Pailiu antes de você parar na detenção, pelo menos ia valer a pena. Ela dá de ombros e seguro seu braço com as duas mãos, eu via perfeitamente ela socando a cara de Pailiu numa boa. Isso é uma coisa Aoom total.
- Ai eu ia ficar dois meses de detenção. Falo como piada e dar certo, pois ela ri.
- Então eu passo na sua casa depois. Ela me deixa no corredor para ir para a detenção e me solto dela.
- Te espero lá. Digo simples colocando as mãos no bolso vendo ela se afastar de mim, continuo meu caminho indo a passos largos até o auditório, lá era onde o diretor dava anúncios importantes, onde tinha peças teatrais e concurso de músicas. A sala era usada para quase tudo. Entro e Pailiu já estava lá, arqueio a sobrancelha quando vejo ela com um livro na mão, era um livro de sociologia, ela estava estudando para prova que vai acontecer na sexta? Impossível.
- Hoje vocês vão terminar de pintar o cenário sozinhas. Cora fala chegando até a sala me assustando um pouco e Pailiu apenas levanta a cabeça do livro para ela. - Preciso comprar algumas coisas no centro e não vou poder acompanhar vocês hoje. Ela apenas diz isso e pega sua bolsa colocando no ombro. - Vão ficar bem não é?. Ela olha de mim para Pailiu e eu assenti devagar. - Não se matem por favor e nem vão embora antes da hora, a diretoria ainda está aberta e ele vai saber que mataram a detenção. Ela da de ombros. - De qualquer jeito, boa sorte. E então se virá saindo da sala como se nunca tivesse estado ali, o silêncio incomodo entre mim e Pailiu voltou, dou dois passos subindo no palco e pego uma das tintas e o pincel que estava ontem.
- Não vai começar?. Pergunto olhando para ela que tinha voltado a ler o livro, o que ela estava fazendo afinal?.
- Sim, só preciso terminar esse parágrafo. Ela falou simplesmente, como se fizesse isso o tempo todo. Nas nossas poucas aulas Pailiu não se concentrou um minuto no que eu falava. Olho de relance a página que ela estava e sorriu de lado.
- De quem é a famosa frase "penso logo existo"?. Pergunto de repente chamando a atenção de Pailiu para mim, ela arqueia uma de suas sobrancelhas e sua cara estava totalmente confusa.
- Mas isso é filosofia, estou estudando sociologia. Ela mostra o livro em sua mão e eu sorriu, sim, era meio que uma pegadinha para ver se ela realmente estava estudando ou apenas me enganando. - A frase "penso logo existo" é de René descartes se não me engano, ele é frances e a frase original é "je pense, donc je suis". Olho para ela impressionada, além de ver a minha pegadinha no meio da pergunta ainda respondeu ela certa.
- Sim, é dele. Sorriu pequeno para ela e então ela fecha o livro e sobe no palco também.
- Podemos começar então?. Assenti devagar e passei meu pincel na tinta e em seguida passei na estrutura a minha frente, eu estava impressionada e confusa.
- Espero que tenha usado o fim de semana para estudar Kamonwalai. O professor James disse e a garota se levantou de sua cadeira caminhando até ele, ela não parecia dona de si naquela momento, ela parecia bem nervosa.
- Eu fiz isso sim. Ela disse simples e ajeitou sua postura.
- Já vai a Pailiu passar vergonha mais uma vez. Uma voz falou atrás de mim, me concentrei em Pailiu com as mãos para trás mexendo em seus dedos enquanto encarava o professor.
- Na sexta ela respondeu tudo errado, acha que mudou alguma coisa em três dias?. Outra voz falou e eu até concordaria se não tivesse visto Pailiu o dia todo com um livro na mão ontem e hoje, ela parecia que estava se esforçando para se sair bem.
- Para começar leve. Ouço James falar e engulo seco, ele nunca começava leve. - Com relação à gênese e distribuição dos solos, é INCORRETO afirmar quê?. Ele olha para Pailiu e vejo seu dedo esquerdo começar a rodar no outro com um pouco mais de velocidade, acho que ela tinha acabado de ficar ainda mais nervosa.
- É incorreto falar que a vegetação é dominante na formação e variação dos tipos de solos. Ela aperta mais o dedo fazendo uma pausa brusca e eu analisei o olhar de James, parece que ele estava impressionado. - Contento solos diferentes mesmo a partir de rochas semelhantes. Ela diz tudo rapidamente como se tivesse tentando muito lembrar daquilo e vejo um sorriso surgir no rosto de James e ele direciona o olhar para mim, mas dessa vez eu não tinha nada a ver com isso, era algo que Pailiu conseguiu sozinha.
Ele tentou massacrar ela e apesar de ela errar algumas questões ela tinha mais acertado que errado e isso era impressionante, sorriu satisfeita, ela tinha conseguido mesmo sem a minha ajuda.
- Acho que devo parabenizar as duas. James diz quando estava arrumando minha mochila e olho ao redor notado que na sala tinha apenas Pailiu e eu. - Achei por um segundo que isso aqui não ia dar certo. Ele aponta para nós duas. - Até porque a notícia das duas brigando no pátio e parando na detenção não me animou muito. Ele faz careta e depois sorri. - Mas gosto de estar errado, fico feliz que tenham se acertado. Olho para Pailiu por uns segundos, ela não ia se gabar dizendo que fez isso tudo sozinha e que James estava mais errado ainda?.
- Snack é bem paciente e apesar de ter sido difícil os primeiros dias, eu consegui prestar atenção e focar no que ela falava. Sua resposta fez o sorriso de James crescer e eu a olhava incrédula, isso tudo era mentira.
- Que bom, fico muito feliz por isso, vejo uma nota A na prova final Kamonwalai. E então ele simplesmente sai da sala, continuo olhando para ela.
- Vamos? Ainda temos detenção. Ela diz colocando a sua mochila nas costas.
- Você acabou de mentir para o professor, eu não te ajudei, fez isso sozinha. Ela nega me deixando confusa.
- Você realmente tentou me ensinar e eu morri de tédio. Começa falando e eu reviro os olhos. - Mas eu tentei estudar sozinha e era sua voz que dominava minha mente todas às vezes, tudo que você explicou fazia sentido, então foi fácil estudar. Ela dá de ombros e eu abro a boca incrédula. - Então, de uma maneira ou de outra, foi você quem me ajudou. Sua mão tocou meu ombro levemente e ela passou por mim saindo da sala e eu fiquei lá, sem saber onde estava e nem o que realmente estava acontecendo.
Vou até minha bicicleta tirando ela do cadeado, não precisava mais olhar se o pneu estava furado, fazia uns dias que eu conseguia ir para casa montada nela, como deveria ser desde o começo se não pegassem tanto no meu pé.
- Oi lindinha. Ouço uma voz conhecida atrás de mim e olho para trás vendo Phil Kamonwalai. - Parece que você anda enchendo a cabeça da minha irmã e eu quero que se afaste dela. Ele diz de um jeito amedrontador e eu dou dois passos para trás.
- Eu não, não estou fazendo nada. Falo com um pouco de medo na voz, sinceramente Phil era alto e forte, um brutamontes e a pessoa que mais me causava medo no East inteiro.
- Está sim e você sabe muito bem disso. Ele da dois passos na minha direção e segura meu braço com uma certa força. - Esse é apenas um aviso, mas se eu ver você perto dela mais uma vez, acho que não preciso falar mais nada. Ele solta meu braço e se virá saindo rapidamente do estacionamento que parecia vazio e era para estar mesmo. Toco meu braço sentindo um pouco de dor e suspiro profundamente, ele não deveria mesmo estar aqui, vejo Pailiu vindo em minha direção e subo na bicicleta rapidamente começando a sair do colégio.
- Snack!. Ouço sua voz gritar meu nome e acelero um pouco mais, eu não precisava saber do que o Kamonwalai era capaz, eu sabia bem o que eles poderiam fazer e eu não vou pagar para ver, tenho que me manter o mais longe possível de Pailiu.
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Aulas particulares - Nackliu
Ficção AdolescenteQuando Pailiu é obrigada a ter aulas particulares com a garota mais inteligente da sala e que não ia nenhum pouco com a sua cara, para recuperar sua nota e não ser cortada do time oficial da escola ela ia ter que aguentar a inteligente e irritante S...