Capítulo 3 - Conhecimento

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Era incrível ver o quanto eles sabiam de tanta informação, mas eu continuava negando na minha cabeça a maioria das coisas que não tinham nenhuma base ou explicação lógica.

Vitor era obcecado em atividades paranormais.

Ele falava do quanto achava que tudo ao nosso redor era manipulado por uma entidade, citava filmes de terror e histórias na internet que me faziam pensar sobre como alguém gostava tanto assim de algo a ponto de acreditar cegamente em tudo.

Pra compensar, o loiro era muito inteligente com a geografia da cidade, quase como se soubesse tudo.

Segundo ele, tinham atalhos na floresta que tinham sido feitos por eles desde pequenos, e era impossível se perder com toda essa sua convivência.

Tinha perguntado pra ele se mesmo com toda a recorrência, ele tivera visto algo acima do comum, mas Vitor, depois de pensar uma dúzia de vezes, negou.
Isso me fez desacreditar ainda mais em tudo que escutei.

Hades permanecia quieto enquanto o irmão tagarelava e Laura arregalava os olhos escutando avidamente. O asiático por hora ficou no notebook que ele tirou da sua mochila. Não consegui ver o que ele fazia, mas não queria me intrometer demais.

A garota, Clara, tinha saído diversas vezes para a varanda fumar, e era isso que ela estava fazendo agora.
Sempre que ela saia, precisava trancar a porta. Bem, ou era isso ou Pietro vazaria para fora e seria mais uma outra enorme dor de cabeça.

Espero que a minha mãe não chegue logo.
Fiquei analisando o que ela pensaria de mim, ou melhor, em como ela falaria que toda essa gente na casa estaria atrapalhando a vida do meu irmão.
Ela reclamaria da minha falta de amor com ele, alegando que estaria fazendo barulho e que tinha deixado uma menina ficar fumando na nossa varanda.
Ela falaria tanto, que provavelmente iria preferir arrancar os meus próprios ouvidos.

Eu espero muito que a minha mãe não chegue logo.

Senti uma cutucada no meu braço enquanto olhava novamente para a janela. Hades gesticulou para que eu chegasse perto e me rastejei até seu lado. A tela do computador estava toda preta.
O encarei confusaㅡ O que era pra eu ver?ㅡ Murmurei para que Vitor não percebesse que eu não estava mais prestando atenção em todo seu drama teatral.

O garoto fez um sinal para que eu esperasse e começou a tirar uma câmera da mochila. Conforme ele a movimentava, a tela refletia as cores, até ele virar para Laura e Vitor e eu os enxergar no computador também.

ㅡVocê não tá pensando em me filmar né?ㅡ Ri nervosa, mas ainda mantinha o mesmo tom de voz.

ㅡEu achei que você ia querer saber o que aconteceu e pode continuar acontecendo.ㅡ Ele me olhou, novamente aquela encarada no fundo dos olhos que te deixa desconfortávelㅡ Não vou te obrigar, você pode deixar virada pra parede ou pra janela. Ela não pega som, é uma câmera simples.

ㅡAposto que seu irmão vai adorar me espionar a noite inteiraㅡ Olhei novamente para o loiro, que não percebia de tanto que falava que estávamos cochichando logo nas suas costas.

ㅡEle não vai, ninguém vai, só vamos olhar no outro dia, juntosㅡ Ele disse esticando a mão deixando só o dedo mindinho levantadoㅡ Eu prometo.

Pensei um pouco. Eu iria morrer de medo de olhar aquilo no outro dia. E se realmente tivesse algo? Como eu iria dormir no meu quarto depois de perceber alguma coisa estranha?
Eu já mal queria estar ali, toda aquela sensação ruim, a carta aparecer e descobrir que a minha janela estava aberta a noite toda. Aquilo me cheirava mal, mas eu não podia dar pra trás agora.
Não tinha como desistir a esse ponto.
Enrosquei o meu dedo mindinho no do garotoㅡPor favor, não quebre a sua promessa ou vou cortar seu dedo foraㅡDisse fazendo ele rir, um sorriso bobo que fechou até mesmo seus olhos castanhos.

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