Capítulo 14 - Paranormal Paranoid

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Eu espero que a morte seja como ser carregado até a sua cama quando você é uma criança que dormiu pesado em um sofá. Eu espero que dê para escutar as risadas da sala ao lado.

ㅡHades, você ficou maluco?!!É melhor só chamar a polícia, já tá bem claro que isso tá fora do nosso controleㅡLaura falava agitada, mas a sua voz era baixa. Ela parecia assustada, como se estivesse afim de pular fora de tudo isso, como se fosse possível ter uma vida normal depois disso.

Hades, agora estava tendo o braço enfaixado por mim, enquanto Vitor estava calado a mais tempo do que normalmente aguentaria ficar. Era assustador ver ele quieto.

ㅡClaro, a policia vai resolver tudo, você tem razãoㅡEle respondeu irônico e soltou um gemido quando a gaze com álcool atingiu a sua pele lesionada. O corte não era feio, não precisava de pontos mal feitos ou qualquer coisa do tipo, mas sangrava muito.ㅡLaura, a gente tá investigando isso a sei lá, alguns bons dias, o dia inteiro inclusive. O que na sua cabeça ainda te faz achar que isso não é anormal? Surreal?

A garota contorceu os lábios, ela olhava atentamente pras janelas, todos os cantos da sala, como se estivesse com medo de ainda estarem ali, escutandoㅡNão importa, não somos heróis, eu morro de medo e congelo assim como todos vocês. ㅡQuando ela falou isso, todos na sala ficaram ainda mais cabisbaixosㅡ Já faz uma hora que eles saíram com a Clara, ficamos minutos só processando o que tinha acabado de acontecer, ninguém teve nem coragem de colocar a cabeça pra fora da casa pra ver no mínimo pra que lado levaram ela.ㅡSuspirei, era obvio que tinha sido pra floresta, mas não ia interromper sua falaㅡ Não dá, eles tem sei lá, super poderes. Acabaram com nosso grupo, três homens que conseguiam matar a gente em segundos, um grupo de cinco pessoas. Acho que só dá pra aceitar que a Clara não vai voltar.

ㅡEles não vão matar elaㅡFalei trazendo a atenção da sala pra mimㅡNão por enquanto.ㅡMinha voz saiu menos concisa assim que todos os olhares esperançosos me atingiram.

Vitor levantou do chão, ele havia chorado em silêncio.ㅡEu tenho amigos, amigos que podem ajudar.

ㅡVocê não vai chamar eles.ㅡHades falou pro irmão, iniciando assim um diálogo intimo que eu e Laura não tínhamos ideia do sentido.ㅡ Não da Vitor, eu não gosto de ficar com eles e da última vez não deu em nada tudo que fizemos.
Ele afastou seu braço quando viu que tinha concluído, eu apenas me distanciei um pouco.

ㅡVocê tem algum outro plano?ㅡ Sua voz era rancorosa, era obvio que tinha algum assunto inacabado entre os irmãosㅡ Tudo que sabemos é por causa deles e se chegamos perto de descobrir algo é por causa deles, você sabe que eles já passaram por isso e sabe mais ainda que eles tem mais coragem do que nós quatro. ㅡSua mão foi rapidamente pro celularㅡEu quero salvar a minha irmã, vá para o inferno com esse seu orgulho.

Olhei pra Laura, a situação era desconfortável e honestamente eu só queria sair desse lugar, voltar a ser pequena e ter problemas bem mais simples de se resolver.

A sala ficou em silencio quando o Vitor saiu falando em uma ligação. Ele não foi longe, mas ainda sim me esforcei para não ouvir, eu não queria saber.

Tirei meus óculos. Imundos, o máximo que ofereci foi o tecido da minha camiseta que estava por baixo do moletom, o que me rendeu alguns segundos com uma visão quase inexistente. Quanto mais eu limpava, mas parecia sujar. Por fim me dei por vencida, tirei apenas as marcas que ficavam centradas no meio e ignorei as das bordas.

Meu cabelo estava oleoso, assim como meu corpo suado e eu sentia os pelos da perna já em uma altura boa para raspar.

Eu precisava respirar, precisava tomar um banho sem me preocupar com as coisas.

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