Capítulo 10 - Café

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O diabo era a materialização daquele garoto conturbado.
Não com chifres e um rabo, mas psicótico, humano.
Se alguém me falasse que ele era o próprio Lúcifer, eu acreditaria sem pestanejar.

Não tínhamos conversado, na real, ele parecia pensativo depois do que ele me falou.

"Quando Ele vai embora, eu consigo me lembrar que já fui tão patético quanto você"

Isso significa que o que o Vitor falou de ser uma criatura onipresente e catatônica com o cérebro dos manipulados podia ser real.

Além disso, Tobias agiu como se tivesse me salvado de algo lá fora, e eu não acho que ele faria isso se estivesse sendo manipulado pelo Slender.
Isso significa que mais alguém estava de olho, e pensar nisso fez meu cérebro se ligar a noite toda enquanto eu me mantinha de pé encostada na parede olhando Tobias voltar a dormir.

Talvez era idiota o deixar desamarrado, mas ele estava machucado.

Ainda sim, ele conseguiu levantar, me puxar ou me guiar até a cozinha. Ele era forte e estava cada vez mais acreditando que ele não sentia dor. Pelo menos comigo, ele não parecia ter sentido nada.

Eu e quem não chegaria perto dele agora para amarra-lo

Toby tinha me ajudado, mas eu não ia cair nessa de boazinha tão fácil. Ele ainda era um psicopata e ainda me devia respostas.

Ficar a noite acordada também não foi fácil, mas me recusei a acordar Hades, Vitor ou qualquer uma das meninas. Se eu não ia conseguir dormir, pelo menos deixava eles descansarem, afinal de contas íamos precisar de pelo menos mais de uma pessoa com o sono bom para interrogar o Toby ou defender a casa.

Assim amanheceu, apenas comigo acordada olhando o garoto "dormir" e tremendo com qualquer barulho externo, pensando sempre em mil teorias diferentes pra tudo isso.
Quando começou a clarear, cutuquei Vitor que acordou de bom grado e ficou olhando o garoto enquanto eu ia pra cozinha preparar um café para o resto.

Fiz o café, peguei qualquer coisa que tinha nos armários. Restos de cereal, dois sacos de pão e o queijo lacrado dentro da geladeira. Também tinham alguns waffles prontos que minha mãe tinha ganhado de um parente holandês. Eles pareciam bons ainda.

Coloquei tudo em cima da mesa, não tinha percebido o quão faminta estava até ver tudo aquilo na minha frente. Minha boca até salivou enquanto meu estomago se movia me causando uma dor leve.

Aproveitei que Vitor estava bocejando porém com os olhos fixos no Toby, me direcionei até o banheiro e lavei meu rosto, tirando as remelas dos cantos dos olhos que mesmo sem eu ter pregado os olhos, insistiam em estar ali.
Comecei a reparar minha aparência zoada no espelho, mas o máximo que fiz foi limpar as lentes dos meus óculos que estavam cheias de gordura. Como eu mal tenho dormido, eu também mal tenho tirado eles. As vezes me esqueço que minha visão é péssima sem isso.

Eu estava morrendo de medo. Medo de ter envolvido pessoas que agora tenho algum apreço em uma furada. Medo de ficar sozinha de novo. Medo do homem que estava na minha sala. Medo de estar ficando completamente insana.

E talvez era isso que ele queria, ele me queria insana.

Voltei pra sala, Vitor bocejou mais uma vez, agora com a mão na boca. Ele me deu um sorriso de canto e acenou, acho que esse era o bom dia dele. Hades também tinha acordado, agora um pouco confuso. Os dois tinham os cabelos bagunçados e os olhos pequenos e vermelhos. Pelo menos tinham dormido melhor do que eu.

As meninas também acordaram, mas agora porque Vitor cutucou cada uma delas.

ㅡTem caféㅡSussurrei para eles, não sabia se Toby estava acordado mas preferia ele imóvelㅡJá deixei tudo pronto.

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