Capítulo Sete

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Caio alimentou a velha teoria até ver Norah na noite de sábado, durante a costumeira concentração no apartamento de Cássio, antes que saíssem para a caça.

Notá-la desconcertada, claramente evitando olhar para ele, despertou sua curiosidade. Aquele comportamento era o mais próximo a uma reação positiva a qual jamais tivera dela. Era como se, finalmente, Norah visse algo além de um sobrinho. Após a percepção Caio mandou o medo de arruinar a amizade às favas.

Se ele tinha uma chance, iria agarrá-la como pudesse.

Horas depois, no barzinho escolhido, quando o assunto corrente entrou em pausa, Caio perguntou a Cássio, despretensiosamente:

- E aí? A tia Norah comentou o que achou da aula?

- Ela não falou muita coisa, só que achou legal - disse Cássio, distraído a olhar em torno, como se procurasse alguém. Caio ainda ruminava o adjetivo inexpressivo quando o amigo o encarou. - Ela disse que talvez pare de ir.

Como bem desejou, Caio pensou, contrafeito. Era um imbecil!

- Tia Norah disse por quê?

- Vai ver você é péssimo professor - Denis opinou, provocando-o.

Todos riram, menos Caio que estava mais interessado em descobrir se tinha perdido sua aluna.

- Sério, Cássio, sua mãe falou que vai parar?

- Acho que ela pensou nisso, mas a Eliza e eu a fizemos mudar de ideia. Bem, ao menos no dia. Vamos saber a real se ela for à aula, na próxima quinta, né?

A incerteza era um merda! Caio sentenciou ao ver sua noite ruir.

Daquela vez nem tentou conseguir uma garota. Há tempos que não tinha paciência para as conversas vazias ou para a constante exibição dos atributos físicos. E uma vez que antevia a perda do que sequer teve logo após ter sua esperança firmada em bases sólidas, Caio sabia que não conseguiria beijar ou transar com qualquer outra.

Sem se importar em como sua despedida soasse, Caio se levantou, bebeu sua cerveja de uma vez e anunciou:

- Tô indo nessa...

- O quê?! Já vai embora? - Marcos estranhou.

- Sei lá... Hoje eu não legal...

Denis ainda tentou demovê-lo, sem sucesso. Cássio apenas o encarou por um tempo, então assentiu.

- Vá lá, cara! E se cuida.

- Vou fazer isso... Amanhã a gente se vê na praia.

Depois de deixar algumas notas sobre a mesa como contribuição à despesa, Caio se despediu e saiu. Não foi direto para seu apartamento, antes guiou até o Posto 3 e estacionou na primeira vaga que encontro. Depois de tirar o capacete, passou uma das mãos pelos cabelos, como se assim pudesse apagar seus pensamentos.

- Ela não pode desistir... Não agora... - murmurou como uma oração, olhando o céu. - Me ajuda aí, vai! Não deve ser errado querer viver com ela, né? Sei lá se mereço, mas dá uma força!

De súbito Caio riu manso de suas palavras. Sempre soube que a amava e era sincero ao dizer que queria viver com ela. Sem receio seria o que faria se tivesse a chance, mas a bem da verdade, desde sempre, uma das coisas que mais queria era meter-se entre as pernas dela, então, sim, era errado pedir ajuda divina para tal empreitada.

Uma buzinada o trouxe dos pensamentos. Ao olhar para trás, Caio viu um Civic de cor prata estacionado próximo à sua moto.

- Fala - disse ao motorista que o avaliava com indisfarçado interesse.

Perfeita pra Mim [ DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora