Capítulo Dois

537 43 4
                                    

A droga foi ter se tornado um sobrinho querido naquela mesma tarde.

– Caio, quer outro sanduíche? – Norah perguntou depois de servir mais a cada um de seus filhos.

– Sim, por favor... – ele aceitou, escrutinando-lhe o rosto, os cabelos ainda úmidos.

Estava satisfeito, mas adorava a atenção que recebia. Esta sempre vinha com um sorriso, um toque em seu braço ou um afago em seu cabelo.

– Eu te disse que minha mãe arrasava no hambúrguer, não disse? – perguntou Cássio depois de engolir um bocado do seu lanche.

Alheio, Caio apenas assentiu. Ao deixar o apartamento depois de algumas disputas de vídeo-game – todas perdidas –, ele não recordava muito do que foi dito ou feito. Na mente ele carregava apenas a imagem de sua nova tia.

Ele sabia que estava viajando, pois uma Norah estaria para um Caio assim como a Lua estaria para o Sol. Mas, enfim, quem era capaz de comandar o que se passasse na própria cabeça? Ninguém, era a resposta.

Aliás, na pequena reunião organizada por sua avó para a comemoração do seu aniversário de 15 anos, dois meses depois de conhecer a nova tia, Caio descobriu que não tinha o domínio de nenhuma parte de seu corpo ao receber o primeiro abraço apertado de Norah.

Nunca esteve preparado para o frio que correu sua coluna ou o calor que tingiu seu rosto ao tomar consciência de cada contorno do corpo dela juntos ao seu. Na velocidade de um raio ele se livrou do contato, recebeu seu presente, agradeceu sem abrir e fugiu para o quarto. Caso não tivesse corrido, teria passado vergonha.

Naquela noite, seu apartamento se tornou pequeno e ficava cada vez mais abafado sempre que ouvia o riso de Norah ou se atrevia a reparar no quanto ela estava bonita. As imagens que guardou dela afetaram-no de tal maneira que, dois dias depois da festa, Caio cedeu ao assédio de Denise – a garota mais atirada do colégio – e aceitou ir ao cinema com ela no sábado.

– Bem-vindo ao time! – Cássio zombou quando Caio voltou do breve encontro num dos cantos do pátio e contou sobre o programa. – Acho que agora vai ser oficial. A Denise vai ficar com todos os meninos daqui.

– Eu não ligo – disse com sinceridade.

Qualquer distração seria melhor do que ficar pensando na mãe do amigo. A novidade de ter um encontro ajudou e no sábado Caio estava animado. Com o dinheiro que tirou de suas economias pagou o ônibus e o cinema. Estava nos seus planos ser gentil e também pagar o lanche, mas durante a sessão Denise deixou clara sua intenção para aquela noite.

O primeiro amasso ficou quente. Tanto que ao saírem do cinema Caio não saberia narrar o que viu e, ansioso, aceitou ir para a casa de Denise. Como os pais dela não estavam na cidade, finalizaram o encontro trancados no quarto cor-de-rosa da garota, pelados sobre uma cama macia.

Caio não pensou em Norah ao perder sua virgindade, mas enquanto sacolejava no coletivo que o levava de volta à Praça Afonso Pena – sentindo-se maior e muito importante –, lamentou ter estado com Denise, não com ela.

Depois daquele rito de passagem, frequentar o apartamento dos Mendes passou a ser um desafio de nervos para Caio. Não só pela agitação mais acentuada de seu corpo ao encontrar com sua tia, como pelo aperto em seu coração sempre que se deparava com o Sr. Mendes. Depois de Denise, ele sabia na prática o que se passava no quarto do casal e não gostava nada, nada.

A cada toque que Norah recebia do Sr. Mendes, ou vice-versa, Caio se encolhia internamente. Ainda admirava o senhor, respeitava-o, mas não conseguia eliminar seu ciúme, ou sua inveja.

 A mudança se deu também na forma como olhava para todas as meninas do colégio. Caio voltou a sair com Denise outras vezes, mas só pela pegação. Ela, ou qualquer outra, não conseguiria despertar seu interesse. Isso lhe rendeu a fama de caipira metido, e ele não se importava.

Perfeita pra Mim [ DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora