Capítulo Dez

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– Está procurando um terno?!

Caio sorriu ao ouvir a questão incrédula do avô que se curvou sobre seu ombro para olhar a tela de seu computar de perto, como se assim enxergasse melhor.

– Sim – disse ainda a sorrir, estava de bom humor. – E preciso pra amanhã. Fui convidado pra um casamento e esqueci completamente.

– E alugam assim, tão em cima da hora?

– Não sei. É o que estou tentando descobrir... Nunca precisei dessas coisas.

– Claro – o avô provocou-o –, por você iria ao casamento de jeans e camisa xadrez.

– E camiseta, não esqueça – ele emendou.

– Bem, boa sorte com o aluguel, mas poderia considerar comprar um terno para você. Todo homem tem ao menos um no guarda-roupa, não apenas jeans e bermudas.

Caio nunca tinha pensado a respeito. Na verdade não faria diferença se o bendito terno fosse alugado ou não, mas subitamente percebeu que se arrumaria para Norah e quis ter aquele cuidado.

Ainda mais animado, sorriu para o avô.

– Se eu resolver comprar um terno, eu posso sair mais cedo?

– Se for mesmo necessário... Só tente adiantar o que puder. Sei que trabalha em casa, e eu nem queria tocar nesse assunto, mas nos últimos dias você anda meio... negligente.

Negligente não era a palavra. Na última semana ele andava disperso e por duas vezes cometeu erros primários por estar com a cabeça longe do trabalho.

Voltando à seriedade Caio assentiu.

– Sabe... – João se calou por um instante, sem jeito, então prosseguiu: – Nós não conversamos muito, mas... Sabe que pode me dizer o que quiser, não sabe?

, eu...

De repente Caio também se sentiu desconcertado. Amava o avô, mas não tinha o hábito de conversar com João sobre assuntos relevantes. Isso ele fazia com seus amigos.

– Não precisa dizer nada. Só... Só queria que lembrasse isso. Hoje somos apenas nós dois e se precisar de mim... Estou aqui.

– Eu sei.

Caio ficou a ver seu avô se afastar. Depois de olhar em volta, certificando-se de que os funcionários não tinham ouvido a conversa breve e embaraçosa, ele fechou a aba correspondente ao site de aluguel de roupas e voltou ao trabalho.

Na hora do almoço pediu um lanche rápido, que comeu em 15 minutos, ali mesmo diante do computador. Tudo para não deixar trabalho pendente; ou mal feito. Uma vez que realmente tinha crescido deveria ser responsável como o adulto que era.

Despediu-se do avô um pouco antes do final do expediente, e não deixou serviço incompleto. Da contabilidade seguiu ao Lardo Machado à procura de um terno. Por não ter familiaridade com o traje, aceitou a sugestão da atendente. Também acreditou em sua palavra ao dizer que a roupa formal lhe caíra muito bem.

Em seu apartamento, Caio se dedicou a analisar os novos documentos que Cássio lhe entregou. Feliz ou infelizmente, daquela vez a discrepância entre contas e notas fiscais era significativa, comprovando o desvio de dinheiro.

Caio não tinha como fugir de contar ao amigo, até porque fazia apenas uma revisão profissional daquilo que qualquer leigo facilmente veria caso tivesse acesso aos mesmos papéis. Contudo ele gostaria de poder dizer que Cássio estava errado. No país da impunidade, até que o responsável fosse investigado e preso, seu amigo poderia, sim, ter o mesmo destino do pai.

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⏰ Última atualização: Apr 29, 2021 ⏰

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