Capítulo Seis

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Naquela semana, até mesmo as aulas que dava às crianças carentes na associação do bairro teve sabor especial. Em seu apartamento, sequer lhe importava que pudessem ter a companhia de Serafim e Ariel. Por mais de uma hora teria Norah por perto, longe dos amigos. Se fizesse tudo direito, sabia que poderia conquistá-la.

Caso não conseguisse, ao menos teria tentado. Quem sabe assim pudesse finalmente seguir em frente?

Começaria a ter a prova naquela tarde. Nunca antes os ponteiros do relógio custaram a correr até indicarem que era hora de seguir para seu apartamento. Ao chegar, Caio descobriu o recado de seus alunos, avisando que não iriam. Perfeito!

Infelizmente a perfeição quase o levou à loucura, fazendo com que se sentisse um adolescente à espera do primeiro encontro. Conhecia uma forma de aliviar a tensão, mas não queria endossar um comportamento inexperiente masturbando-se durante os poucos minutos que tinha antes da chegada "dela".

Quando literalmente saltou ao toque da campainha, Caio se arrependeu de não ter feito. Ao abrir a porta entendeu a expressão "estar uma pilha de nervos". Diante de Norah, lembrou-se de sorrir e se afastar para que ela entrasse.

– Voc... A senhora veio! – corrigiu-se.

– Pois é... Vamos ao mico!

A rigidez com que Norah segurava o violão enquanto olhava em volta com indisfarçada curiosidade, indicava que estava tão ou mais agitada do que ele. Ao terminar sua inspeção, ela indagou:

– Cheguei cedo?

Naquele instante Caio notou que esteve paralisado, sequer tinha fechado a porta.

– Eu diria que está atrasada.

– Atrasada?!

– Esqueça o que eu disse – Caio pediu rapidamente ao saber que verbalizou o pensamento. Para distraí-la apontou o violão: – Posso ver o que tem aí?

– Claro! Eu deveria ter mostrado antes. Talvez nem preste mais.

– Pouco provável – disse Caio depois de receber o instrumento e indicar o sofá para que ela se sentasse. – Veja só! Um Giannini! - Como o dele, mas não comentaria. - A marca é boa. Por que Cássio o chamou de velharia?

– Meu pai me deu esse violão quando eu tinha 13 anos. Ele sempre quis que eu aprendesse, mas meu interesse era mínimo.

– Que pecado!

Reflexivo, Caio passou testar a afinação até deixá-la de acordo.

 – Agora sim... – murmurou de modo intimista.

De súbito, animado pela proximidade e pela atenção que tinha sobre si, Caio passou a tocar e a cantar Bem Apaixonado. Quando desconfiava que seu sentimento pudesse ser visto em seus olhos, fechava-os. Não sabia a razão, por isso o consternou vê-la chorar. De imediato Caio deixou o violão de lado e lhe segurou as mãos carinhosamente.

– Ei... O que foi?

– Me desculpe por isso.

– Estava tão ruim assim? – Caio não queria saber o motivo das lágrimas, então resolveu brincar. – Essa é a primeira vez que faço minha plateia chorar.

Conseguiu fazê-la sorrir, mas não se livrou de ouvir a explicação.

– Seu bobo! Não é nada disso. É uma coisa minha... Tem a ver com lamber feridas, então não quero falar sobre isso.

– Eu respeito – disse resignado. – E então é melhor começar nossa aula antes que desista.

– Não vou desistir. Depois que decido fazer uma coisa, vou até o fim.

Perfeita pra Mim [ DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora