Talvez, o que se passasse no coração e na cabeça de um garoto aos 14 anos não fosse algo a ser considerado. Talvez...
Para Caio Ressali, entre todas as incertezas que tumultuam as mentes adolescentes, uma coisa era certa: apesar da pouca idade, sem entender exatamente o que aquilo significaria, tinha encontrado a mulher da sua vida!
Isso, assim, mulher. Não colega de classe, não amiga da mesma rua, não prima distante, mas uma mulher formada, comprovadamente com idade para ser sua mãe... Ainda bem que não era!
Caio convivera com a própria mãe muito pouco, nem ao menos se lembrava dela. Não se lembrava do pai. Desde os dois anos era criado por seus avós paternos, em Sapucaia, interior do Rio de Janeiro.
Na pequena cidade a vida era tranquila e boa, mas João Ressali queria mais para o futuro do neto. Com a necessidade de crescimento veio o desejo de mudança. Destemido e visionário, ele não atendeu aos apelos da esposa e, levando sua família consigo, mudou-se para a capital do estado.
Com o que conseguiu pela venda de dois imóveis, João comprou o apartamento onde morariam nos quatro anos seguintes, num dos condomínios da Praça Afonso Pena, na Tijuca. Para seu escritório de Contabilidade foi preciso alugar uma sala no Centro, mas o senhor não se importava. Caio tampouco, pois confiava nas decisões do avô.
Incomodava-o apenas a mudança radical. Não confessaria a ninguém, mas a agitação da capital o assustou, assim como o arreliava imaginar que iria para uma nova escola bem no meio do ano letivo, sem qualquer rosto conhecido.
Foi num domingo, na segunda tarde no novo endereço, enquanto cismava sozinho sobre como seria o dia seguinte, que Caio conheceu Cássio Mendes.
Sem mais nem menos, Cássio, que jogava futebol com seus amigos na quadra do playground, aproximou-se e o convidou para se juntar ao grupo. Caio não seria digno de uma camisa 10, mas também não era um pereba, então deixou de roer o próprio umbigo e aceitou o convite.
Nunca saberia, mas tinha a forte impressão de que ter marcado dois gols tenha ajudado a incluí-lo no grupo. Entre todos que conheceu naquele dia, Cássio foi o único que se tornou seu amigo.
O melhor amigo.
Na tarde seguinte, esbarraram-se no corredor do mesmo colégio. Novidade considerada salvadora para Caio que, como previra, sentia-se excluído dos grupos formados desde o início do ano letivo.
Animados com a coincidência, os meninos combinaram de gastar o intervalo lanchando ou jogando juntos. Cássio também tomou para si a tarefa de fazer a ponte entre o amigo interiorano e os urbanos.
A novidade também facilitou a ida e a volta para o condomínio, pois o Sr. Téo Mendes – pai de Cássio – fazia questão de levar e buscar os filhos. Ao conhecer Caio, o senhor não lhe negou uma carona diária.
Naquele mesmo dia, à saída, Caio conheceu Eliza, irmã de Cássio. A menina de 11 anos era parecida com o irmão, mas as feições harmoniosas a tornava mais bonita. Evidente que Caio reparou e a colocou em sua lista de "belezas namoráveis se tivesse a chance". Eliza ficaria logo acima da sua nova vizinha de porta, abaixo da Tomb Raider.
Jolie nunca esteve melhor, então, para Eliza, aquele era um posto de honra!
E o que dizer de Téo Mendes? Era um homem sério, mas extremamente amoroso com seus filhos. Para Caio, o homem alto, de cabelos já grisalhos, lembrava seu avô. Respeitou-o desde o primeiro momento. Faltava apenas conhecer a mãe de Cássio e Eliza, D. Norah.
Cássio proclamava maravilhas da mãe, especialmente dos seus lanches rápidos nos finais das tardes de domingo. Estes, tão comentados durante toda primeira semana nos intervalos, que Caio contou cada hora a partir do momento que fora convidado a lanchar com os irmãos, no domingo seguinte.
E não o fez apenas pela iminência de provar o melhor hambúrguer de todos os tempos, mas pela oportunidade de ver Eliza em alguma roupa que não fosse o uniforme escolar. Sabia que ela ficaria mais bonita, mas queria ter a prova ocular.
Com isso, depois da pelada no play, Caio se despediu de Cássio e correu para seu apartamento. Tendo a devida autorização dos avós, considerando-se adequadamente vestido e penteado, às 16h30 partiu para dois andares acima do seu.
Quem o recebeu foi Cássio. Tão logo abriu a porta, ele fez com que o amigo entrasse e o levou direto até a cozinha. Caio se deixou levar sem reparar em volta, afinal, o apartamento era igual ao seu, mudando apenas os móveis, a disposição e a qualidade dos mesmos. Reparou apenas que não viu Eliza em parte alguma.
Ao se acomodarem à mesa já posta para o lanche, Caio soube que ela e a mãe estavam no banho. Restou esperar. Não muito, pois em menos de cinco minutos a segunda colocada na sua lista de possibilidades entrou na cozinha. Bonita como Caio previu, usando short e camiseta. Por terem se tornados amigos, Eliza o cumprimentou animadamente e se sentou ao lado.
Como sempre, para divertimento de Caio que não tinha irmãos e jamais entenderia a birra entre eles, logo Cássio e Eliza divergiam sobre algum assunto, provocavam-se e arreliavam-se, cada um querendo que ele advogasse em sua causa. Para não se indispor com nenhum dos dois, Caio apenas ria e se abstinha de dar sua opinião.
Divertido, Caio ria da expressão do seu amigo ao ser zoado pela irmã, quando o último membro da família Mendes entrou na cozinha. Não, primeiro entrou seu perfume, tão doce e inebriante quanto o das flores do pé de dama-da-noite que enfeitava o quintal da antiga casa de seus avós.
Ao se voltar para ver D. Norah, Caio ainda ria, mas seu divertimento de súbito se esvaiu. Ele não sabia ao certo o que esperava encontrar – talvez uma versão mais nova de sua avó ou uma cópia mais velha de Eliza –, mas nada que pudesse ter imaginado faria justiça à realidade.
A criatura de cabelo lavado e rosto limpo que sorriu para ele durante as apresentações não poderia ser desse planeta. E mesmo que os servisse com desvelo e bondade, Norah Mendes não era uma mãe. Antes, ela era a soma de todas as qualidades que Caio passou a admirar desde que perdera a implicância com sexo oposto. Tanto que em menos de uma hora ela tornou obsoleta toda sua lista de belezas namoráveis, pois ocupou todas as posições.
Para Caio Ressali, Norah Mendes não era menos do que perfeita!
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Perfeita pra Mim [ DEGUSTAÇÃO]
Romance****************DEGUSTAÇÃO***************** TODOS OS DIREITOS RESERVADOS ** PLÁGIO É CRIME Bonito, profissional estabelecido, instrutor de violão nas horas vagas, um dos destaques de seu grupo... Aos 25 anos, Caio Ressali poderia ter quantas garotas...