Na semana seguinte a confiança do instrutor sofreu forte abalo, quando ficou claro que sua aluna não iria à aula. Naquela quinta-feira, seus outros alunos compareceram, apenas para provar um pouco de mal humor.
– É nisso que dá ficarem faltando – resmungou Caio a certa altura, deixando o violão de lado. – Agora estão fazendo tudo errado. Você nem ao menos praticam em casa, né?
– Credo! Que bicho te mordeu, Caio?
Ariel era um homem de compleição delicada, pálido. Ao se calar ele levou uma das mãos ao coração. Em outros tempos Caio teria rido da dramaticidade de seu antigo professor de faculdade, não aquele dia.
– Eu ia perguntar a mesma coisa – disse Serafim, analisando o instrutor com atenção. – Você nunca falou desse jeito com a gente.
Fisicamente Serafim era o oposto de Ariel – seu parceiro –, moreno, forte, porém em matéria de gracejos ambos se equiparavam. Caio gostava dos dois e não havia motivos para descontar neles suas frustrações.
– Me desculpem – pediu com sinceridade, apertando as têmporas. – Nem eu sei o que tenho hoje.
– Se não está no clima, a gente pode encerrar por aqui – sugeriu Serafim. – Mas antes, fale mais da nossa colega que não veio hoje.
– Melhor não – Caio negou veemente. – E nada de encerrar a aula. Tratem de tocar.
Sua negativa provocou risos nos dois homens depois de se encararem de forma significativa.
– O que foi? – Caio indagou, enfezado. – Estão rindo de quê?
– Nada! Nada! – Ariel respondeu ainda a rir mansamente. – Vamos, amor... Vamos tocar.
Serafim o atendeu, sem desfazer o ar divertido.
Contrariado, Caio recuperou seu violão e os acompanhou. Ao final da aula, depois da partida dos alunos, ele pegou seu celular e se sentou no sofá já a acessar sua lista de contato. Logo chegou ao número de Norah.
Sempre o tivera, para uma emergência, sua "tia" dizia. Claro que jamais se atrevera a ligar sendo aquela a primeira vez que tinha um motivo real. Entretanto, Caio não o fez.
Em vez de ligar para Norah, considerou mais eficaz se valer da desculpa perfeita que ele mantinha ao lado do seu próprio violão desde a semana anterior. Ao procurar seu amigo ele sufocou um sentimento de culpa inoportuno e sugeriu após os cumprimentos:
– Estive pensando que a gente nunca mais se reuniu sem ser pra sair, então pensei em chamar os caras pro teu apartamento. A gente podia pedir umas pizzas, ver quem manda melhor no Battlefield... O que me diz?
– Ah... Faça isso. Eu tenho mais documentos pra você conferir, daí a gente junta o útil ao agradável. Aproveita e já avisa pra minha mãe.
Caio apenas murmurou uma concordância qualquer.
– E se prepara pra ver quem manda bem – disse Cássio, antes de desligar.
Satisfeito, Caio ligou para Marcos e Denis. Depois de combinar o encontro da noite, ele seguiu para o quarto. Distraiu-se com as contas da Contabilidade até que fosse hora de tomar banho e sair, levando consigo o violão de Norah.
Ao chegar ao apartamento, contava que ela já estivesse, mas encontrou apenas Cássio e Eliza, esta pronta a sair para a faculdade.
Ao vê-la com a mochila apoiada num dos ombros, Caio recordou o tempo em que a considerou bonita e "namorável". O interesse durou exatamente sete dias e desapareceu assim que ele vira Norah. Sorrindo, nostálgico, ele desejou enquanto ela seguia para a porta:
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Perfeita pra Mim [ DEGUSTAÇÃO]
Romance****************DEGUSTAÇÃO***************** TODOS OS DIREITOS RESERVADOS ** PLÁGIO É CRIME Bonito, profissional estabelecido, instrutor de violão nas horas vagas, um dos destaques de seu grupo... Aos 25 anos, Caio Ressali poderia ter quantas garotas...