Flores da reconciliação

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Depois de uma noite mal dormida, Maria acordou. Viu que os pais já tinham ido embora e começou a refletir sobre o que aconteceu ontem. Ela ainda estava muito arrependida. Ela sentia a obrigação de recuperar a confiança de Lilith.

Maria tomou o pequeno almoço, lavou os dentes, vestiu-se, pegou algum dinheiro das duas poupanças e foi ao supermercado mais próximo.

Enquanto caminhava até lá, ela pensava sobre o que poderia escrever na carta para mostrar a Lilith o quanto se importava com sua amizade.

Ao chegar lá, ela já sabia o que ia comprar: Um buquê de flores.

Ela foi para a secção dessas e viu vários tipos de flores: Rosas, peónias, tulipas, margaridas, lírios, girassóis, camélias, entre outras.

Como não sabia escolher entre lírios, rosas brancas e peónias, levou algumas de cada e decidiu montar o seu próprio buquê em casa. Ela tinha de ter cuidado quanto ao número de flores que iria oferecer, pois uma vez viu num vídeo sobre curiosidades de várias culturas que nos países eslavos, um número par de flores é tradicionalmente oferecido em funerais, enquanto um número ímpar é mais apropriado quando se deseja presentear alguém em ocasiões especiais. Ela comprou dezoito flores, e uma delas ficaria com ela.

Depois de ter pagado nas flores, foi para a sua casa, sentou-se à secretária, arrancou uma folha nova do seu diário e começou a escrever:

Querida Lilith.

Queria te pedir mil desculpas pelo que aconteceu. Eu não queria ter reagido assim, eu tive uma atitude irracional. Os meus pais me disseram que ser homossexual era pecado e que poderia manchar a imagem da nossa família, então eu deixei que isso prejudicasse a nossa amizade. Você é muito especial para mim. Eu gosto muito de você.

Se você decidir que não deseja mais ser minha amiga, eu entendo completamente, mas peço que aceite minhas sinceras desculpas pela minha atitude.

Com carinho,

Maria

Assim que terminou de escrever, ela guardou a carta num envelope, fechou o com um autocolante de coração e pensou:

Tomara que ela aceite o pedido de desculpas. Vou lá agora-

Ai não! Ainda tenho que montar o buquê!

Ela começou a tirar os picos cuidadosamente. Ela acabou por se picar uma vez ou outra, mas isso não lhe importava lá muito. A coisa que ela mais queria era reconquistar a amizade de Lilith. De seguida começou a posicionar as flores, pegou numa folha de jornal e enrolou à volta delas e colocou no topo um bilhete a dizer "Me desculpa".

Agora sim, estou pronta!

Maria saiu de casa ansiosa, com medo que piorasse a situação, mas determinada. Estava com o buquê numa mão e a carta na outra. Depois de alguns minutos à frente da porta do 6ºA, finalmente ganhou coragem de tocar à campainha.

Triiiiimmm!!!

Liliana, do outro lado, estava deitada na cama a chorar oceanos, quando ouviu a campainha e foi espreitar pelo olho mágico quem era. Assim que viu que era Maria com alguma coisa na mão, pensou:

Mas o que é que ela quer agora?

Maria tocou mais uma vez à campainha e murmurou:

- Liliana, por favor! Abra a porta...

Liliana recusou-se a abrir. Ela ainda estava muito magoada.

Ela continuava a espreitar pelo olho mágico, quando, de repente, viu Maria a começar a lacrimejar. 

- Por favor, Liliana, me dê uma oportunidade - disse Maria num tom tímido.

- E o que é que iria eu ganhar com isso? - insistiu Liliana ainda a pensar no que Maria lhe havia dito no dia anterior.

- Liliana... Por favor! Eu não queria ter dito nada disso pra você, eu só tenho você como amiga - Desabafa Maria à medida que mais lágrimas escorriam dos seus olhos

- Tinhas Maria. A forma como me trataste ontem magoou-me imenso. Nunca esperei algo como isto vindo de ti. Estou desapontada.

- Liliana por favor! Eu imploro! Eu preciso de você... - Diz Maria a soluçar de tanto chorar.

Liliana percebe a sinceridade que vinha das palavras de Maria e abre a porta. Agora viu o maravilhoso e colorido buquê que Maria segurava.

- Liliana! - Exclama Maria surpresa - Você abriu!

Maria oferece o buquê que tinha preparado para a sua amiga mais cedo.

- Lilith, você é muito especial para mim. Desde o primeiro dia que vi você, senti que precisava de ser sua amiga. Agradeço imenso por ter confiado em mim, por ter me acolhido na sua casa e por ter me dedicado uma música tão bonita da minha banda favorita. Eu fui muito babaca. Eu deveria ter pensado duas vezes antes de falar. Eu não queria ter te machucado. Você é muito legal, simpática e...

Maria é interrompida por um beijo roubado por Lilith.

Os seus lábios se juntaram, Liliana coloca as mãos na cintura de Maria e esta posiciona as mãos sobre o seu pescoço. 

Maria sentia seu coração a palpitar e as borboletas no estômago esvoaçavam freneticamente. Ela nunca iria esquecer aquele momento.

- Eu te amo, Lilith!

- Eu amo-te mais, querida!

Amor na porta ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora