Capítulo Cinco

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A MANHÃ CHEGAVA ao fim e o céu, que antes estava azul, já se tingia do mais vívido vermelho, cor de cobre, maldita cor de ferrugem

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A MANHÃ CHEGAVA ao fim e o céu, que antes estava azul, já se tingia do mais vívido vermelho, cor de cobre, maldita cor de ferrugem.

Meu vestido preto era volumoso e me fazia aparentar ainda mais delgada. O longo tecido escondia minhas pernas e braços, mas eu queria mesmo era esconder a vergonha. Meu corpo inteiro suplicava por socorro e descanso. Sentia que meu físico tinha envelhecido uma década em duas semanas.

Cada partícula que compõe a miserabilidade de minha existência está exausta. Minhas pernas mal são capazes de suportar o peso do meu corpo esguio e tudo que tenho desejo de fazer é me esconder nas sombras e jamais retornar novamente ao meu palácio. Que Anwar seja devorada pelas traças, eu já não posso me importar de fato com tudo isso.

A porta dos meus aposentos se abriu lentamente e vi, pelo espelho da penteadeira, que o visitante era o príncipe.

Elis arrumava os últimos detalhes de uma trança gorda com fitas de ouro em meu cabelo, quando o viu fechar a porta deu um leve toque em meu ombro e saiu do quarto sem dizer nenhuma palavra, naquele momento eu soube que, para ela, aquela visita não era inesperada — afinal Elis é serva de Koyran, não minha.

Observei meu reflexo abominável no espelho e respirei fundo antes de rapidamente correr para varanda na esperança de que ele não fosse atrás de mim.

Eu não suportaria ficar confinada em um quarto com o príncipe. Odiaria ter de trocar qualquer palavra com aquele homem. Porém, assim que eu ia fechando a porta de vidro da varanda, Koyran me impediu.

Meu estômago estava embrulhado novamente.

— Você parece vil. — Minha carne queimava por baixo da pele, tê-lo tão perto me causava arrepios, era horrível.

Revirei os olhos e fui para o mais distante possível dele, para o outro extremo. Se eu tivesse coragem o suficiente, usaria meus últimos respingos de força e me jogaria dali, pularia e rezaria para morrer de susto antes mesmo de tocar o chão.

— Está fugindo de mim, Daryia?

— Não me chame assim. — Num momento singelo de covardia, dei um passo para trás e ouvi o click do trinco da porta, como nos tempos sórdidos da caça a coroa, o príncipe nos trancou juntos em um ambiente isolado.

— Não vim para irritá-la, querida. — Desviei o olhar uma outra vez, o cheiro de laranjas era forte demais e eu quase tinha me esquecido da estranha sensação de tê-lo tão próximo. — O jantar com minha mãe será difícil hoje... Mas eu imagino que você saiba disso. — Ele deu um passo à frente e começou a falar mais baixo. — Eu gostaria de falar sobre... Bem, é um assunto delicado.

— Vá direto ao ponto, seja breve.

Koyran respirou fundo.

— O bibliotecário de Calanthe foi encontrado morto no escritório do palácio agora a noite. — Franzi o cenho. — O anel dourado que ele usa foi roubado e colocado um anel com uma ametista grande no centro, parece uma aliança feminina de noivado. — Ele chegou mais perto e tocou meu ombro exposto com as mãos nuas, foi como ter levado um choque. — E hoje de manhã uma florista Anwariana foi encontrada... O corpo estava aninhado na topiaria de elefante daqui do palácio... Aqui em Calanthe. Os dois usavam praticamente o mesmo anel, eram amantes e se não eram, tornaram-se.

Incorrigível TiraniaOnde histórias criam vida. Descubra agora