Capítulo Oito

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Sem livros, cadernos, flores ou sequer um mísero pedaço de carvão para riscar alguma coisa e quem sabe, criar uma idiota distração durante o caminho, observei a fúnebre paisagem da estrada que me levava de volta para meu Palácio

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Sem livros, cadernos, flores ou sequer um mísero pedaço de carvão para riscar alguma coisa e quem sabe, criar uma idiota distração durante o caminho, observei a fúnebre paisagem da estrada que me levava de volta para meu Palácio. A neblina era densa e parecia que o dia, ainda tão cedo, afundaria em poeira e se escureceria novamente.

Indubitavelmente, a nostalgia que senti quando o cheiro de grama molhada me fez lembrar de minha primeira "fuga" de Anwar, causou-me estranhamento tão grotesco no estômago que senti que poderia matar alguém.

Castiel sentava-se no banco do cocheiro e guiava Grandioso com maestria, conversando bobagens enquanto pensávamos o que poderíamos ser se não tivéssemos de arcar com consequências. Eu sonhei em ser uma camponesa com as roupas sujas de lama enquanto esfregava grandes pedaços de tecido em um balde. Uma mulher simples que poderia sonhar em fugir com alguém.

Eu estava completamente fora de minhas faculdades mentais... mas pensando agora, talvez não fosse tão ruim a vida assim. Certo, eu não teria o prazer de viver uma vida luxuosa, de comer pratos fartos de carnes e frutas, de vestir lindos vestidos e frequentar a bailes mas, sinceramente, que diferença faria isso? Eu odiava os vestidos pesados que me faziam parecer tão pequena neles que os príncipes não se interessavam por mim de tão delgada que sou. Os bailes sempre foram estressantes e odiosos, eu sempre tinha de conversar com homens velhos ou rapazes tão imaturos que, só de lembrar, tenho náusea!

Certamente nunca vivi o lírico romance luxuoso da realeza, sempre fui miserável.

A sege parou com um solavanco e ouvi um dos cavalos reclamar, Koyran desceu de maneira afobada do banco da frente e fechou as cortinas de onde eu estava, deixando-me imersa na escuridão. Ele olhava fixamente para um ponto específico, um pouco mais a frente, atrás de uma grande árvore, não sei ao certo o que ele tinha visto, mas tive certeza de que boa coisa não era.

— O que foi? — Sussurrei enquanto ele trancava as portinholas e cobria minha cabeça com um tecido de veludo roxo, perguntei novamente, mas não obtive reposta, ele tinha saído apressado.

Ouvi as pedras da estrada tinirem enquanto ele corria, pisoteando-as. O som do farfalhar das árvores que pareciam segredar uma briga me inquietou e a curiosidade me venceu. Abri uma pequena brecha pela cortina escura e olhei o que acontecia diante de mim.

Koyran lutava corpo a corpo com um homem de estatura semelhante à sua.

Quando o príncipe acertava um golpe, seu inimigo lhe acertava outro e assim continuou por muito tempo, até que vi Koyran no chão e o homem lhe acertar incontáveis vezes no peito, o príncipe, porém não emitia nenhum som e a aflição que tal cena me causou foi inimaginável. A raiva cresceu em mim como uma maldição e tateei, com o formigamento devorando meus dedos, os bancos da sege. Me inclinei para frente e senti algo cortar, superficialmente, a ponta de meu indicador.

Era uma adaga desembainhada fincada no banco, quando reconheci as inscrições no risco de madeira compreendi que aquela era a adaga entalhada com meu nome que Castiel me dera como amuleto.

Incorrigível TiraniaOnde histórias criam vida. Descubra agora