Capítulo Catorze

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Era difícil não cambalear. Minhas pernas formigavam e minhas bochechas crepitavam como um braseiro enorme, onde as chamas não se apagam, pelo contrário, crescem sem parar e incendeiam tudo ao redor.

Sentia-me estranha, encarcerada em uma cela de sentimentos incompreensíveis e desconexos. Onde o prazer e o desprazer, em momentos de incerteza, tornavam-se sinônimos. Tão íntimos e distantes, excitantes e desmotivadores... afinal, eu não poderia de fato descrever o que sinto.

Koyran foi o único homem que aceitei que me beijasse... e por que aceitei tamanho absurdo? Estou apenas prometida a casamento e a notícia nem é pública! Que loucura eu fiz em autorizar tão íntima relação.

— Precisa de ajuda, Majestade?

A florista chefe que estava auxiliando na decoração dos corredores do palacete lentamente se aproximou de mim e, depois de uma breve reverência, perguntou novamente: — Posso ajudá-la com algo, Majestade?

Ainda sem forças para formular uma frase decente, decidi que menear a cabeça e sair lentamente do corredor seria suficiente resposta.

Caminhando e aproveitando a paz daquela enorme casa, ouvindo o farfalhar das árvores e o cantar de pássaros no jardim próximo, fui tomada pela nostalgia. Pelo sentimento familiar, senti saudades da infância e pude ter quase certeza de que Drystan apareceria no fim daquele mágico corredor, com os braços abertos, segurando uma caixa em uma das mãos e exclamando "minha princesa" enquanto eu corria em minha direção.

Em minha mente ressurgiu a sensação gostosa que era o cheiro dos cabelos quase prateados de Drystan, que pareciam banhados em camomila. Da maciez da pele clara como neve, e das bochechas que coravam com facilidade. Do quão risonho ele se tornava quando fazia suas estúpidas brincadeiras de adivinhações e piadas que só faziam sentido para ele. Do quão gélidas eram as mãos dele e de como ele as afundava nos bolsos do paletó para se sentir aquecido.

Drystan usava, na maioria das vezes, luvas de tecido muito grosso e eu tentava lembrar dos momentos em que o vi com elas. As camareiras cochichavam sempre entre si sobre o quão discreto e silencioso era o futuro rei, riam vez ou outra e pensavam que eu, por ser criança não percebia que falavam sobre ele.

Também paravam de falar e sorriam esperançosas "é um rei promissor" diziam.

Teria sido. Teria sido um excelente rei, ainda mais dedicado e generoso. Gentil.

Tive de parar de pensar nele, senti meus olhos arderem e minha garganta queimar, eu choraria.

Sim, eu também sentia saudades de Drystan e dói pensar que ele está morto. Que não vai voltar. Não consigo lidar com isso. Com a morte. Não sei o que fazer. Ele não voltará. Está morto.

— Dary? — Era Damir sentado na ponta da mesa acompanhando unicamente de um preocupado Dareen. — Por que está assim?

— Estava pensando em Drys.

O semblante de Damir caiu imediatamente e naquele momento eu soube que, às vezes, é melhor de fato mentir.

— Ele estaria feliz! — Dareen tentou contornar a situação e tentar colocar novamente um sorriso nos lábios de Damir. — Tenho certeza que, além de feliz, também estaria muito orgulhoso. — E com admiração, Dan levantou o rosto para o irmão. — Eu estou muito orgulhoso.

— Obrigado. — Ele sorriu. — Obrigado, mesmo, por estarem aqui. Não sei o que eu faria sem vocês.

— Você está bem? — Perguntei.

— Estou. — Dareen pediu que arrastassem uma das cadeiras ao seu lado e o servo que estava ali fez isso, dando espaço para que eu sentasse e fechando a cadeira para eu me arrumar.

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⏰ Última atualização: Aug 23 ⏰

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