Capítulo Seis

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NO MOMENTO EM que meus pés imundos e nus pisaram no gélido chão do salão e eu vi o que estava diante de mim, tive uma absoluta e inegável certeza, minha morte estava mais próxima do que eu poderia sequer imaginar

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NO MOMENTO EM que meus pés imundos e nus pisaram no gélido chão do salão e eu vi o que estava diante de mim, tive uma absoluta e inegável certeza, minha morte estava mais próxima do que eu poderia sequer imaginar.

Koyran saiu antes de mim para verificar se tudo estava no conforme e, analisando sua expressão de desgosto e desânimo — e talvez de um desesperançoso luto —, eu soube que ele não tinha considerado que, mesmo que me mandasse que aguardar no cubículo abafado e empoeirado, eu lidaria com aquela grotesca cena uma hora ou outra.

Era uma indescritível e terrível imagem. Todas as janelas haviam sido quebradas e o que mais mexeu comigo e eu mais prestei atenção foi na exorbitante quantidade dee sangue. Aquele cheiro inconfundível e aquela cor desgastante aos olhos estava por todo o cômodo. No chão, no tapete, nas cortinas...

— Daryia! Não, não! — O príncipe veio rapidamente em minha direção e o abraço que me envolveu foi tão firme que eu soube que sua intenção era impedir que eu gravasse aquela imagem em minha memória, mas já era muito tarde, eu jamais esqueceria daquilo, aquilo nunca mais sairia de minha mente. — Me perdoe, eu jamais devia ter permitido que visse cena tão feia. — Ele sussurrava, mas sua voz só fazia ferver, no meu interior, ainda mais o meu sangue.

Sangue estava por todos os lados e eu odiava aquilo, odiava saber que tinha sangue em mim, que dentro do meu corpo, em cada pedacinho, haviam gotas daquele maldito líquido.

— Eu vou escoltar você de volta para Anwar... não volte, não volte para cá.

Koyran tagarelava de maneira insistente, mas para mim, àquela altura, sua voz já não passava de mais um dos milhares zunidos que enlouqueciam meus pensamentos.

Aquilo tinha sido feito para mim. Todos esses ataques, sejam por quem quer que o tenha arquitetado, uma rebelião ou apenas um inimigo comum da coroa, era para me atingir. Eu era o foco daquilo tudo, de toda aquela bagunça.

O sólido silêncio que prosseguiu após Koyran ter vindo até mim abriu espaço em minha mente para todo e qualquer tipo de pensamento perturbador.

Ódio e desgosto eram os sentimentos predominantes que sacudiam meu âmago, que cegavam minha visão e faziam minha boca secar. Nada jamais seria a mesma coisa e eu sabia, que daquele momento em diante, eu perderia qualquer chance de me redimir. Era fogo contra fogo e isso era tudo que eu podia fazer.

O príncipe me escoltou nervosamente até as grandes portas destruídas do salão que, horas atrás, romanticamente brilhava à luz das velas, agora, porém, afogava-se em fumaça e escuridão.

Descalça e em passadas contidas, tive de conter a ânsia de vômito que escalou por meu estômago e fez queimar minha garganta ao sentir meus dedos dos pés molhados com alguma espécie de líquido viscoso que eu não precisaria pensar muito para saber do que se tratava, era muito mais do que óbvio.

— Alteza. — Uma voz feminina soou como um sussurro traumatizado vindo do outro lado do corredor, magoado, medroso e ferido, um pedido de socorro em poucas letras. A voz então chamou uma segunda vez, em um tom mais firme, de maneira que o príncipe não teve coragem de ignorar. — Príncipe.

Incorrigível TiraniaOnde histórias criam vida. Descubra agora