Capítulo 1

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Não é estranho como tantas versões de você existem na mente das pessoas? Alguns te conhecem como a pessoa tímida que não fala, alguns te veem como alguém irritante que não para de falar, alguns te enxergam como alguém frio e mal, enquanto outros te acham cuidadoso e gentil. Fico me perguntando qual versão minha estará na cabeça do meu capitão depois do que eu fiz.

Fiz muitas coisas consideradas imperdoáveis nessa vida, mas essa foi uma das mais difíceis de se fazer. Se aliar ao bando do Arlong com certeza está no top 1 de coisas mais desprezíveis que já fiz, agora, roubar meu capitão está no top 2. Não por trair o título que ele carrega, mas sim por trair a confiança de alguém tão bondoso.

Infelizmente, não há como voltar atrás, mesmo que eu quisesse. Continuar mais uma semana naquele bando seria minha ruína. Não por serem fracos ou algo do tipo, inclusive são incrivelmente fortes, mas sim por não conseguir ir embora depois. Ficar esses meses com esses cabeças ocas foi a aventura mais divertida que tive e faria de novo sem pensar duas vezes! Porém, já foi difícil demais fazer isso hoje, imagina se esperasse mais? Nunca conseguiria deixa-los.

Mas, ainda assim espero que me perdoem por isso e que não venham atrás de mim, não quero vê-los machucados por minha causa. Já tenho muita culpa para carregar...

Assim que ancorei o Going Merry fui direto ao Arlong Park. Peguei minhas duas malas de dinheiro e comecei o caminho.

-- Espera! – Murmurei. Estou tão aérea que ia entregar as duas malas ao Arlong, que merda você ia fazer Nami? De agora em diante não posso dar esses vacilos, falta pouco para 100 milhões de berries, então se concentra!

Passei pela parte de trás da vila para que ninguém soubesse ainda que estou aqui, era uma ilha pequena, bastava uma pessoa saber para que todos soubessem na mesma hora e, sinceramente, não quero que Arlong saiba que cheguei ainda. Principalmente agora que estou indo guardar  o restante do dinheiro.

 Assim que passei pelas árvores avistei a tão linda plantação de tangerinas de Bell Mère. Tão lindas e laranjas como me lembro, assim como o cheirinho da cauda de tangerina que Nojiko amava fazer. A roxeada gostava de relembrar as receitas de nossa mãe e essa era sua favorita. 

 Assim como era a dela... 

 Interrompi meus pensamentos antes que me distraísse demais e alguém descobrisse sobre meu tesouro. Tão perto como estou agora, não sei o que faria se alguém descobrisse. Não posso relaxar na "última volta da corrida". Dei uma última olhada para ver se não tinha ninguém e fui para meu esconderijo, joguei o dinheiro da primeira mala e a maioria da segunda. Fechei e fui para dentro de casa pegar uma bolsa menor. Quando entrei vi que minhas suspeitas estavam certas, tinha uma panela no fogão já apagado com uma cauda deliciosa de tangerinas. Mas Nojiko não estava em casa, como já estava pronta ela realmente não precisaria ficar mais aqui, de olho para que não queimasse. 

 Ela deve estar com o Sr. Gen, provavelmente jogando cartas ou o ajudando com algo. 

-- Será que ele ainda tenta impedi-la de roubar? – soltei um sorrisinho lembrando das vezes em que jogávamos todos juntos e o Sr. Gen sempre se estressava quando escondíamos algumas cartas nas mangas ou debaixo da perna. Era divertido, ele sempre desistia de tentar nos impedir assim que ouvia a risada da Bell Mère.

Mas isso acabou. Preciso voltar e me concentrar na vida real. A cruel realidade.

Voltei para a entrada da ilha, o Arlong Park. Conseguia ouvir a risada do homem-peixe pelos muros, tão medonha como me lembrava. Um arrepio de pavor subiu pela minha espinha quando abri os portões, tudo estava igual era antes. Arlong em seu trono, seus "irmãos" ao seu redor e todos rindo de uma piada totalmente repugnante. Como gostaria de acabar com essa graça, mas não poderia. Não sem os 100 milhões de berries.

-- Olha só quem voltou! – Sua voz, tão grossa como antes, me fez despertar o ódio pelo qual me motiva a fazer o que faço até hoje. Porém demonstrar isso seria enrolar meu pescoço em uma corda e pular, então distribui sorrisos atrás de sorrisos para aqueles imbecis.

-- Voltei com mais tesouros! – Bati na bolsa que estava em minhas mãos – Essa viagem foi boa.

-- Maravilha! – Falou depois de uma risada estridente – Vamos homens, festejem! Nossa garota voltou.

É eu voltei, pela última vez.

...

-- Já disse que três mapas são suficientes por hoje – gritei pela décima vez para o azulado – Nem tive tempo de comer ou beber algo até agora, nem vi minha irmã!

-- Você acha que eu ligo? – Arlong gritou de volta em fúria – Fizemos esse quarto para você fazer todos os mapas que quisermos, vai desperdiçar isso, Namizinha? --Seu olhar era de puro deboche e raiva.

Sinceramente, não sei como arrumei coragem para enfrenta-lo nessa altura do campeonato, mas foi mais forte que eu. Assim que cheguei, ele já me colocou no quarto enquanto seus "irmãos" tinham direito a festa. Não podia comer beber, nem sair do quarto. Minha paciência tinha se esgotado.

-- Não faço mais nenhum mapa por hoje e ponto – Fui em direção a porta e a abri, mas logo em seguida uma mão a empurrou com toda a força e puxou meus cabelos em direção a escrivaninha prensando minha cabeça nela. Machucava muito e ele ainda gritava em meu ouvido.

-- Se não estiver cinco mapas na minha mesa daqui à uma hora – ele se aproximou do meu ouvido e prensou mais minha cabeça – Sua irmãzinha morre.

E com isso ele sai esmurrando a porta. Tudo o que consigo fazer é chorar enquanto termino os mapas desesperadamente.

Ninguém mais irá morrer por minha causa.

...

Enquanto isso, dois barquinhos ancoram em dois cantos diferentes da ilha. Em um, os tripulantes pareciam desesperados por comida, já no outro, eles pareciam estar se tremendo de medo.

Quem serão esses homens tão barulhentos? 

O Rei dos piratas e sua ladra - LunamiOnde histórias criam vida. Descubra agora