Capítulo 9

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Tangerinas. Dúzias delas. Tão laranjas e doces quanto me lembrava...

Corria alegremente, pegando uma ou outra. O vento fazia cócegas em meu rosto, meu cabelo... Eu ria despreocupadamente, assim como uma criança. Uma criança livre.

-- Nami! - Uma voz divertida me grita não muito longe de onde estou - Vem almoçar!

Paro de correr na hora e olho na direção da voz. Tinha uma casa ali, a minha casa. A casa de Bell Mère.

-- Peguei você - Sinto duas mãos em minhas costas me empurrando gentilmente, olho para trás e vejo Nojiko gargalhando apoiada nos joelhos.

Ela não estava com suas tatuagens, nem tão alta quanto me lembro. Seu rosto estava gordinho e seu cabelo curto, preso com uma simples tiara vermelha.

-- Não é justo! Bell Mère me distraiu - Falei tentando segurar o riso. A roxeada se arrumou enquanto ainda ria. Olha para mim brincalhona e correu em direção a casa gritando:

-- Tá com você! - Me viro preparada para correr, mas quando vejo já estou sentada junto de Bell Mère.

A comida estava tão boa... Minha mãe sempre cozinhava os melhores pratos! Preparar as refeições com ela sempre foi mais com Nojiko, já que adorava entender como a rosada fazia suas tão famosas receitas. Porém, assistir as duas era muito divertido também, alguém sempre acabava derrubando algo e Bell Mère soltava um palavrão sem querer. Era muito engraçado!

-- Senti sua falta, mãe - Um sorriso se formou no meu rosto. Ela não havia mudado nada! Seu sorriso torto por conta de estar sempre segurando um cigarro, seus cabelos chamativos soltos e cheirosos e sua concentração enquanto costurava roupas para mim ou minha irmã. Igualzinha ao de sempre...

-- Como assim, querida? - Seu rosto estava confuso - Você me vê todos os dias, não é?

A ficha caiu pesada sobre mim, rápido e cruelmente. A arma, os gritos, o gatilho e o som alto de um tiro. Os barulhos abafados, o sangue respingado em meu rosto e roupa. Pessoas correndo, Nojiko chorando estridentemente em meu lado.

Tudo parecia ter parado.

Eu sentia algo, mas naqueles poucos segundos não conseguia dizer o que era. O vazio dominava minha mente; a tristeza, desespero, medo, pavor... Nada. Apenas sangue e cabelos rosa. Apenas refeições em família, risadas, broncas, brincadeiras e até brigas. Tudo passava como um filme pela minha mente e então comecei a entender o que os livros descreviam sobre quando vemos a morte de quem amamos.

Uma parte de você também vai junto da pessoa.

-- Não! - Não havia voz. Não havia movimentação. Mas havia uma risada, esta que não se abafava em minha mente, que não se escondia. Esta que determinou o fim da minha tão amada infância e o começo da minha pena, com uma fiança de 100 milhões de berries.

-- Você não entendeu ainda? - Uma voz grossa gritava ao meu redor - Ninguém pode te ouvir.

Acordo em um solavanco, me sentando automaticamente. O ar faltava em meus pulmões e meu corpo tremia suando frio. Tento puxar, mas nada vem e no desespero lágrimas caíam sem parar com medo do que aconteceria no próximo segundo.

Ninguém me ouviria. Ninguém poderia me ajudar. Eu estou sozinha...

Abraço minhas pernas aceitando a fala de anos do homem-peixe. Aceitando que apesar dele ter sido derrotado, nunca me deixará em paz. Eu nunca estarei livre.

Conseguia sentir a corrente apertada em meu tornozelo, assim como ficava antigamente. O aperto que me fazia duvidar se o sangue circulava pelo local, que fazia eu me perder em meus cruéis pensamentos. Este que me lembrava todos os dias a quem eu pertencia. O aperto que causava divertimento no homem-peixe, que me fazia ouvir sua risada medonha todo o maldito tempo.

O Rei dos piratas e sua ladra - LunamiOnde histórias criam vida. Descubra agora