UMA EM UM MILHÃO - LIVRO 1: CONCLUÍDO

PRÓLOGO

A porta estava fechada, mas a luz entrava pelo vão entre o chão e a porta, grande o bastante para que pudesse espionar as pessoas do lado de fora do quarto.

Eram muitas pessoas, muita gente ao redor da mamãe e do papai que se ajoelharam no chão com as mãos nas costas, ela tremia como se estivesse com frio. Não conseguia ver o rosto do papai, ele estava de costas e parecia nervoso, pois esfregava as mãos como costumava fazer quando algo o aborrecia.

Permaneci em silêncio como a mamãe havia dito, fiquei calado com o rosto colado no chão enquanto assistia a cena que se desenrolava. Um homem grande e com um rosto amigável andava ao redor dos meus pais, dizendo coisas que eu não conseguia entender, então tirou algo de dentro das roupas e apontou para o papai e um estrondo fez meus ouvidos doerem.

Fechei os olhos levando as mãos as orelhas diante a fina dor que tomou meus ouvidos e um apitar constante se fez ouvir dentro da minha cabeça.

levou alguns segundos até que voltasse a espiar pela porta, ainda curioso.

A mamãe estava debruçada sobre o papai que não esfregava mais as mãos, ele apenas se deitou, quieto enquanto algo molhava o chão ao seu redor. minha mãe tentava levantá-lo e quando ergueu a cabeça, consegui ver as lágrimas no rosto dela.

me apressei a ficar de pé, e sem pensar duas vezes alcancei a maçaneta, abri a porta e corri até ela que gritou um alto e sonoro 'não', mas já era tarde, meus pés já não tocavam mais o chão.

Alguém havia me pego.

A mamãe manchada por algo vermelho, como suco que o papai costumava beber, tentou se levantar, mas o homem de rosto amigável segurou seu cabelo e ela gritou novamente chorando.

O papai estava no chão, dormindo.

— A dívida está paga.

Foi a última coisa que ouvi antes que quem me segurava me arrastasse para fora.

Eu me debati contra, queria chegar até a mamãe, mas não conseguia me soltar. Então gritei, chamando por ela, implorando que ela não deixasse aquele homem me levasse para longe dela.