Enrolar os punhos com as faixas era quase um ritual, a cada volta que ele dava em suas mãos os gritos pareciam se tornar mais altos, mais próximos e perturbadores. Quanto sangue aquelas tiras de tecido já haviam experimentado, quantos tipos diferentes, de quantos homens distintos. Todos reduzidos a carne esfolada e ossos partidos.
O sol já lançava seus primeiros raios, partindo a escuridão com seu brilho infinito anunciando o início de um novo dia. Em breve Bonnie se juntaria a interminável lista de nomes que o diabo recitaria para ele quando o arrastasse para o inferno. Mais uma alma para agitar suas noites. Um rosto a mais, um nome a mais. Um tormento a mais.
aquilo não importava por que faria aquilo sem sequer piscar. colocaria um fim a ela e as memórias de Matt, enterraria sua última parte humana e se deixaria entregar ao monstro que se contorcia impaciente por debaixo da sua pele rugindo para ser liberto. um psicopata, um assassino, um monstro, um campeão. era o que era e precisava se entregar a aquilo porque de nada adiantaria lutar contra, sempre estaria lá. e precisava daquilo para sair, não morreria naquele lugar.
ao terminar de prender a última faixa ele apertou os punhos se certificando da firmeza das mesmas enquanto saia para o pátio. não havia nada além do som distante de pássaros e o ronco abafado dos bêbados que ainda se amontoavam pelo chão encostados nas paredes com as bocas abertas e baba escorrendo pelos cantos, completamente exaustos. o lugar inteiro estava coberto por sujeira e garrafas vazias de bebida, um verdadeiro início de temporada.
Bonnie estava do outro lado, sentada onde os poucos raios de sol pudessem tocar sua pele, o rosto erguido para o pequeno pedaço de céu que lhes era permitido os olhos fechados e o cabelo na altura dos ombros solto quase como as santas que os livros retratavam quando ele era mais jovem. ela era tão bonita quanto ilegível, como se carregada de segredos que ele precisava desvendar mas não fosse capaz, porque onde ela respirasse ele não poderia pensar de forma lúcida.
ela precisava morrer, assim como Giuseppe e Lily e todos aqueles que o encarceraram, ela seria só mais uma na quilométrica pilha de cadáveres que ele formaria em breve.
Bonnie abriu os olhos ao ouvir os passos se aproximarem e o verde como jade encontraram o âmbar dos dele. ele não esperava encontrar medo ali, por que ela não parecia senti-lo, mas havia dúvida. seus olhos desceram pelo corpo dele em pé pronto para qualquer coisa a convidando para uma morte indigna e vergonhosa.
— tem certeza disso? — a pergunta ecoou por todas as paredes criando uma espécie de eco. — uma luta até a morte sem necessidade? — questionou afastando o cabelo curto do rosto quando o vento a atingiu. — eu não te considero um homem burro Lorenzo, então não aja como um. — recomendou arrancando um sorriso dele.
— medo? — arqueou as sobrancelhas em uma provocação.
Bonnie negou com a cabeça ao levantar e caminhar lentamente até ele, o canto dos lábios se puxando para cima em um sorriso confiante, ela parou diante dele, seus pés quase se tocando com a proximidade quando ela ergueu a cabeça para olhá-lo como uma igual. tão perto que ele conseguia sentir o cheiro dela.
sentia aquela raiva incalculável por ela, mas ela tinha o cheiro de uma campeã, era corajosa e ele respeitava aquilo.
— não tenho medo, mas não quero matar você. — explicou empinando o nariz perfeito. — A última coisa que quero é matar você, Lorenzo.
— temos um problema então, por que eu quero matar você, Bonnie. — enfatizou seu nome erguendo a mão para segurar o queixo dela entre seu indicador e polegar, a forçando a permanecer com a cabeça na mesma posição. — talvez eu até guarde uma mecha de cabelo ou essa língua irritante como um prêmio, ou um lembrete.
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UMA EM UM MILHÃO - LIVRO 1: CONCLUÍDO
Chick-Lit1° da série 'Il Capo' Tiraram seu nome, sua liberdade e sua humanidade. Lorenzo St. John foi moldado para ser uma máquina de matar, um gladiador em um mundo cruel, onde a dor é um espetáculo e a morte, um entretenimento. Ele se tornou um campeão tem...