Meu querido escritor (Aluga-se Vol.2) - Degustação -

02. O escritor em meio a boatos

Se chegou aqui já sabe, né?

Dê muito amor a esse casal em cada capítulo.

Kitty

— Eu sei que você tem tido algumas coisas a fazer ultimamente por conta do problema que a Vick Kerman está com o seu livro, mas tenho que te pedir um favor — começa a dizer Javier, e eu deveria confessar que estou muito feliz de não ter intenções de me demitir.

— Pensei que tinha algo a ver com o que fiz pela Kendra — comento, esperando que ligue os pontos.

— Ah, não, mesmo que sejam amigas pessoais, suas atitudes foram as corretas para a circunstância — me garante Javier, o que eu agradeço, pela consideração.

Mas o que ele sentiria se dissesse que Kendra anunciou que se desligaria da editora se eu fosse despedida? Com certeza me olharia de outra maneira, e eu poderia o criticar por seu receio? No momento, Kendra é uma das cinco autoras mais rentáveis da editora.

Tudo que ela faz é ouro.

Não são apenas os meus dedos que são bons.

— Fico feliz que não tenha um problema nessa questão — digo e ele dá um pequeno aceno observando a porta ser aberta depois da batida.

Charlote entra por ela com um sorriso no rosto, e até um cego veria a maneira como Javier a analisa inteira como uma grande peça em um museu para os cheios de grana, contudo, a mulher parece ser totalmente imune a seu charme, já que nem pisca.

— O seu café — diz Charlotte colocando a xícara perto dele. — Extra forte com pouco açúcar — explica colocando o copo grande na minha frente que cheira muito bem. — O seu achocolatado — Agradeço com uma piscada que faz com que a mulher sorria mais uma vez.

Os olhos escuros como piche combinam muito com o tom de ocre em sua pele, e os cachos grandes são perfeitos. É uma beleza incomparável, e sabe disso. Com um sorriso novo se despede deixando a sala com a bandeja colada a seu peito enquanto a sua bunda é apertada pela saia lápis, e se eu olho, Javier admira.

Com um grande gole em minha bebida espero que o efeito da mulher deixe o corpo dele. Leva alguns segundos para que pigarrei com força antes de me olhar, põe um sorriso no rosto como se isso fosse evitar tudo o que vi.

— Como estava dizendo, você tem resolvido bem a questão com a Vick, acredito que em breve vamos conseguir um ilustrador que se enquadre no que ela tem em mente — profere, e é por isso que tenho batido minha cabeça na parede, quase que literalmente, para encontrar um novo ilustrador, mas alguns freelancers não são fáceis de contatar.

No momento Vick está com uma série envolvendo homens nórdicos extremamente comíveis, assim, quer que as ilustrações deixem seu público avido pelo que está desenvolvendo para os volumes seguintes depois de ter alcançado grandes resultados com o primeiro livro.

— Tenho uma nova lista de pessoas que vou averiguar antes de encaminhar para ela — explico e concorda ligeiro. — Se não é um problema com a situação da Kendra ou com a Vick, o que poderia ser?

— Considera que o seu trabalho com autores homens é mais difícil? — me pergunta, e parece receoso.

— Algum deles falou algo? Estou sempre disposta a me adaptar, cada um deles precisa de coisas diferentes — comento, não há muito que possa dizer sem que saiba qual é a problemática.

— Não é desse jeito — replica Javier em seguida. — Sabe que Tomáz acabou pegando uma grande licença devido a seu acidente? — faço um meneio com a cabeça ligeiro.

Foi um grande choque por ele, não pelo tempo de recuperação, mas por se culpar por colocar mais peso nos ombros da esposa grávida. A mulher tem um barrigão imenso para manter seus gêmeos, e ele estava muito feliz em ser o marido do ano, até que um desvairado o colocou de cama.

— Sim, Tomáz piorou? — pergunto, pois algo assim poderia o deixar nervoso.

Tomáz é quem mais tem autores depois de mim.

— Não, também não é isso — fala, e o tempo que demora para produzir uma nova frase me deixa um pouco agitada.

— O que é? Seja sincero, temos muitos anos de trabalho juntos — o recordo.

Não tem muita coisa que já não tenha visto nesse ramo.

O que também me faz ter certeza de que é possível dar um jeito em quase tudo nesse mundo.

— Sim, é só que tenho pensado muito no que fazer e você me parece a melhor opção sem sombra de dúvida — confessa Javier, e se é uma coisa que posso fazer, por que hesitar? — Sabe que Tomáz é o responsável por Dylan Shotzy.

Ah, as coisas meio que começam a fazer sentido em minha cabeça depois que o nome do grande escritor de ficção fantástica passa a permear meus pensamentos. Entendo o nervoso de Javier, a sua hesitação em me dizer o que fazer.

Tudo tem um motivo nessa vida.

— Sei, as pessoas juram que somos rivais por cuidarmos respectivamente dos segundo e terceiro autor mais famoso da editora — falo, põe um sorriso nervoso no rosto, mais uma vez compreendo.

Todos os escritores tendem a ter alguma mania, um detalhe que não seria compreendido por pessoas de fora, mas que faz com que deem continuidade a seu trabalho. Para Dylan o detalhe mais importante é: nada de mulheres.

Foi um barraco quando começaram a sair boatos acerca do que ele tinha a esconder ou o que queria ter por perto, mesmo assim ele não abriu mão daquilo que pediu, e para o manter na editora Javier abriu algumas possibilidades para o que o agradariam.

E em meio a tantas fofocas surgiram ideias que poderiam se encaixar com facilidade nele. Machista a ponto de se recusar a trabalhar com mulher. Um homem gay que quer mais contatos em sua lista. Uma mulher escondendo-se sob o nome masculino. Na minha opinião, as pessoas tendem a ter muito tempo livre para fofocarem da vida dos outros.

— O que quer é que eu cuide dos trabalhos dele até Tomáz voltar — concluo sem que me dê novas respostas. Não é difícil fazer essa ligação, mas trabalhar com alguém que tem esse tipo de trava pode ser complicado.

— É exatamente o que eu quero — afirma.

Quais as chances de dar certo?

Deixa a estrelinha aqui antes de ir.

Aguardo vocês na semana que vem <3