Valentine ⁿᵒᵃⁿʸ

016

TERCEIRA PESSOA

Os dedos de Any deslizaram até a sua calça jeans rasgada, suspendendo a barra da peça de roupa enquanto virava o corpo lentamente, com o olhar preso na própria cintura. A tentativa de cobrir a barriga foi inútil, Soares sempre falhava miseravelmente em todas as vezes.

E cá estavam os primeiros sinais de que Any estava sentindo falta de Noah.

Se vestindo para passar o tempo, e ficando acordada até madrugada, mesmo não sendo suficiente, porque a manhã vem, e ele não é seu. E fingir que tudo está bem quando não está de fato, não é para todos. Any definitivamente faz parte do grupo de pessoas que não consegue fazer isso muito bem.

Mesmo que na cabeça deles tudo fosse falso, tudo não passasse de uma grande e estúpida mentira apenas por alguns dias – que ultrapassaram meses.

Até que o seu celular na cama vibrou. Any não pensou duas vezes antes de jogar-se na mesma e pressionar o seu dedo sobre o botão do aparelho. A sua feição que até então demonstrava interesse e euforia com a nova notificação mudou assim que percebe que Noah era o tal que acabara de mandar uma mensagem para a mesma.

Any repetiu a mensagem em voz baixa.

"Vem aqui em casa depois, nós precisamos conversar".

Ela já sabia exatamente o que ele queria dizer com aquela simples mensagem: Urrea pediria desculpas à Any por todas as besteiras que disse. Depois, pediria ela em namoro novamente apenas para enciumar Rebecca, e ela aceitaria novamente com o maior prazer. Tudo para fazer o seu melhor amigo feliz, não é? E no final, eles nem ficariam juntos.

E então depois de pouco pensar sobre isso, Any desconectou o seu celular do carregador e abotoou o seu jeans. Decidiu então ir na casa de Noah.

Minutos depois, o barulho da campainha soou pela casa de Urrea. Um tempo antes, Any mandou uma mensagem de texto para o garoto avisando que havia chegado. Ele abriu a porta da frente de sua casa e abriu um sorriso largo assim que viu Any.

Ao invés de cumprimentar Soares devidamente como ela esperava que Noah fosse no mínimo fazer, o garoto sentou-se no sofá e começou à falar ao disparo.

——— É... Primeiro eu queria me desculpar por ter reagido exageradamente com você, e ter te punido por algo que você não fez.

Any cruzou os braços.

——— E ei, eu sei que foi tudo culpa minha, só não me deixa sozinho. Me desculpa se eu te ofendi falando que você não ligava pra mim... Eu não quero perder nunca isso com você. ——— completou ele.

——— Tudo bem. ——— Any conseguiu esconder seu sorriso, virando a cabeça para o lado.

——— Então... você aceita ser a minha namorada de novo? ——— pediu Noah, com um tom de insegurança. Seu olhar implorava por uma aprovação de Soares.

——— Tá. ——— ela disse simples, mesmo que por dentro estivesse tão feliz quanto Noah naquele momento. ——— E esse definitivamente foi o pior pedido de namoro de todos os tempos. ——— murmurou Any, sentando-se ao lado do garoto, que sorria.

——— Faz melhor então.

Soares ergueu as sobrancelhas.

——— 'Tá bom. ——— ela se ajoelhou na frente de Noah, que ria da situação. ——— E aí, Urrea. Quer namorar comigo? ——— Any engrossou a voz, piscando para ele, enquanto ambas das suas mãos estavam abertas, na tentativa de imitar uma caixinha de anel aberta.

——— Isso foi péssimo. ——— Noah reclamou, rindo junto com Soares.

——— Cala a boca. Ah, e você precisa comprar um anel pra mim. Tipo... esses de namoro, sabe?

——— Anel? Para quê? ——— ele arregalou os olhos. ——— Não acha que já está querendo demais não?

——— Um anel é o mínimo que você pode comprar pra mim depois de tudo que eu fiz por você. ——— Any retrucou dando tapinhas nos ombros do garoto.

A conversa entre Urrea e Soares é interrompida pela porta da casa de Noah sendo aberta pela mãe do garoto, cheia de sacolas de compras de lojas caras presas em seus braços.

——— Oi Any! Não sabia que você vinha. Vai ficar para jantar com a gente? ——— a mulher perguntou, trancando a porta de casa e cumprimentando Soares com um beijo em sua bochecha.

——— Vou sim.

Any voltou-se para Noah, que balançou a cabeça com um sorriso no rosto.