Prólogo

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O tempo passa.

Às vezes mais devagar do que desejamos, outras mais rápido que esperamos, mas o tempo sempre passa.

Apesar da morte ter me levado, meu tempo não parou, as lembranças ficaram e novas foram construídas, tudo mudou.

Nossa pequena Ana está em uma situação parecida, seu tempo corre, mas ela continua na imensidão, caminhando eternamente, manchando o chão laranja com seus passos azuis. Ela pode gritar e tentar chamar por alguém, mas a única pessoa viva que pode ouví-la está lidando com outros problemas.

Talvez um dia ela se canse da dor da solidão eterna, talvez pare de caminhar e gritar, de tentar lutar e finalmente aceite o sono profundo.

Me pergunto se Ana Clara se juntaria a mim nessa vida eterna entre a partida e a morada.

É curioso pensar que apesar de serem quase adultos, de viverem mais do que vivi, ainda são tão pequenos, precisam passar por muitas situações, sentirem mais felicidade, angústia e sofrimento, só assim vão crescer, almejar a conquista... ou a destruição.

Giovanna vai aprender sobre a solidão, da mesma forma que Ana vai sofrer a dor eterna e Lucas a impotência.

Os grandes serão rebaixados e os pequenos destruídos. Assim são os humanos.... Na verdade, assim são todas as coisas vivas... e as quase vivas, passando por uma montanha russa de altos e baixos, onde nos desafiam a suportar um enjoo constante.

Quem sabe dessa vez eu possa sentir meus pés tocarem o chão novamente, ou quem sabe, minha jornada se acabe por aqui.



De sua amiga aflita

Júlia

Mundo espelhado: O caminho do abismoOnde histórias criam vida. Descubra agora