A claridade do quarto apareceu aos poucos, Erick voltou para casa, suas mãos tremiam, seu coração ainda saltitava e a sensação ruim da magia negra começou a deixá-lo zonzo. Respirou fundo e se concentrou, no espelho atrás da porta podia ver seus olhos voltando para o azul habitual, a fumaça roxa desaparecendo na mesma proporção, aos poucos se acalmava, controlando sua magia.
Estava seguro em casa, as barreiras de proteção estavam intactas, Lilian também estava bem, sentia a presença da irmã no quarto do outro lado da casa.
A casa estava a bagunça de sempre, no corredor, tinham espalhados vários projetos antigos, roupas novas e velhas de todos os tamanhos, produtos vencidos e brinquedos velhos, Erick bateu na porta do quarto de Lilian, a menina não respondeu, depois de um minuto, ele abriu a porta.
O quarto estava como sempre, a mesa tinha vários produtos para cabelo e livros da escola, a porta para a varanda dos fundos estava entreaberta e Lilian estava sentada na cama, enxugando suas lágrimas, eles se encaram e ela demonstrou um sorriso sofrido.
— É... está tudo bem? Aconteceu alguma coisa entre você e o Gabriel, não foi?
— Nada diferente do normal... Irmão... você acha que sou fraca demais? Que não sou confiável?
— O que? Não, nunca, você é minha irmãzinha – Erick sentou no chão a frente da irmã e segurou suas pequenas mãos, a lembrança da menina ensanguentada olhando com desdém para a cabeça decepada de Ana apareceu como um flash em sua mente, entendia que aquela não era a mesma pessoa, mas era incômodo do mesmo jeito – Eu não sou confiável?
— A dúvida é dolorosa, não? – Lilian olhava diretamente para seus olhos, o brilho azul claro em seus olhos era reconfortante e assustador ao mesmo tempo.
— Eu... eu sei... me desculpa por esconder tanta coisa, mas não sei como te contar... me importo tanto com você que tenho medo do que vai pensar de mim.
— Entendo – Lilian soltou suas mãos e o abraçou, seus olhos não transmitiram a mesma resposta que deu a ele – Mesmo assim, obrigada por estar aqui, por voltar, vou me entender com Gabriel, só... é muito ruim amar alguém e saber que ainda escondem algo de você.
Não é tão fácil esconder também.
Erick queria contar tudo para a irmã, sobre todas as preocupações que tinha, sobre o que sabia, o que escutava, mas não podia, sabia que era nova demais para carregar um peso tão grande e tinha medo de assustá-la mais do que já estava. Afinal, o medo da solidão de Lilian, era sua culpa.
— Vamos dormir – Lilian disse se afastando – Amanhã vou conversar com o Gabriel, você ainda tem coisas pra resolver, não tem?
Queria dizer que não, queria ficar com a irmã até seu coração se acalmar, até fazê-la se sentir segura e voltar a ser a criança de 9 anos deveria ser, repleta de irresponsabilidade e divertimento, mas precisava resolver o problema com Ana antes.
— Okay... bons sonhos Lili.
Erick deixou a irmã e voltou para seu quarto, o sono não chegou, não se lembrava de quantas horas dormiu da última vez, mas sua mente inquieta não queria descansar, ficou acordado olhando para Ana, a menina corria pelas ruas de uma Campinas destruída, dizendo como acharia um jeito de voltar para casa, que não deixaria Giovanna para atrás.
Ele nunca entendeu como funcionava a relação das duas meninas, mas por um pequeno momento, pensou ter visto Giovanna pular de um dos prédios quando Ana foi cercada por demônios, Erick sabia que a menina era forte o bastante para se salvar sem sua ajuda, não estava rezando, significava que não precisava de forças para derrotar seus inimigos, só estava cansada.
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Mundo espelhado: O caminho do abismo
AdventureComo será o futuro do mundo agora que Ana Rodrigues dorme em um sono profundo? Acompanhe Giovanna, Lucas, Erick e suas famílias nessa continuação do mundo espelhado. Talvez um descanso não seja tão ruim comparado com os desastres que seguem essa ond...