Macbeth

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Era um sentimento estranho, o calor em seu estômago, o peso nos ombros, sua visão turva, Erick não estava acostumado a ser feliz, a se sentir extasiado. As luzes do lugar brilhavam com muita intensidade, se sentia bem, quase da mesma forma quando experimentou algumas drogas.

As palmas faziam seu coração palpitar, o ritmo constante das pessoas o aplaudindo, as luzes apontadas para ele, seu terno preto era sem graça, mas pouco importava, se sentia satisfeito.

— Hoje, entregamos este Nobel para Erick Guimarães, um químico, engenheiro, físico e humanitário – Ao seu lado uma mulher usando um lindo vestido dourado entregava o prêmio – O mundo agradece seus esforços, é um guerreiro!

Por anos sonhou com esse momento, sentir o peso do maior prêmio que poderia receber, o maior reconhecimento de humanidade que existia.

— Obrigado! – Sua voz ressoou no salão – Estou lisonjeado.

Do palco podia ver a plateia, todos estavam lá, seus pais lado a lado, orgulhosos, Lucas chorando de felicidade ao lado de Giovanna que aplaudia e gritava animada. Ele procurou pela irmã e sentiu um arrepio, um alívio e uma dor intensa, não entendeu o porquê, talvez fosse sua aparência.

Lilian aplaudia com um lindo sorriso no rosto, era uma mulher adulta, seu longo cabelo estava preso em um penteado delicado com várias flores azuis, a mesma cor que seu vestido brilhante, afinal, era sua cor favorita.

Erick ficou tonto, o calor no estômago se tornou um enjoo ruim.

Por algum motivo, não encontrava Ana em nenhum lugar, olhava para todos os lados na plateia e no palco. Quando pensou em desistir, encontrou uma mulher muito parecida, seus cachos dourados soltos nos ombros, o sorriso selvagem, mas era diferente, os olhos azuis, as mechas de cabelo preto e sua pele, uma mescla do bronzeado de sempre e o pálido que nunca teve.

O sentimento ruim foi embora, se sentiu leve e voltou a sentir o entusiasmo. Estava sorrindo, mesmo sabendo que Ana não estava lá, estava feliz, pouco importava se a menina não fosse vê-lo na cerimônia.

Finalmente foi reconhecido.

Finalmente conseguiu provar seu valor.

O prêmio era lindo, o dourado brilhava com tantos tons, seu reflexo era quase nítido, uma lágrima escorreu pelo ouro.

Seu peito estava leve, sua respiração cortada.

Paz, pela primeira vez na vida, sentiu paz.

Seu olhos estavam azuis, apenas o azul que deveria ter, não havia brilho nenhum, nenhuma cor roxa indesejada. Não havia benção ou maldição, nada além dele, do verdadeiro Erick.

Enfim, poderia ser verdadeiro com todos, com seus pais, com Lucas, seus amigos e principalmente com sua irmã, voltou a procurá-la, mas não encontrou nada além do cinza.

Estava quase chovendo, as nuvens escureciam cada vez mais rápido.

Tem algo de errado, Erick sabe disso, aquele não era seu corpo habitual, mais forte, menos esguio, preparado para guerra, o uniforme não pesava tanto quanto antes, as armas eram como penas. Estava completamente equipado para lutar e sabia exatamente o que fazer.

Sua casa estava como sempre, exceto pela sensação de estar levemente assombrada. A porta da frente está entreaberta, no jardim, vários objetos estavam jogados, se lembrava bem da última vez que saiu de casa e prometeu nunca mais voltar.

Era doloroso voltar, mas necessário.

O motivo? Não se lembrava.

O choque quase o derrubou quando chegou na sala, a cena era horrível. Estavam todos mortos, o corpo de Giovanna estava jogado no sofá, seu pescoço virado de um jeito impossível, Gabriel estava no tapete em cima de uma poça de sangue, suas costas eram um amontoado de adagas enfincadas, na parede, acima da televisão, Lucas parecia crucificado, facas prendiam seus braços e pés enquanto suas entranhas saiam do corte em sua barriga e desciam até o chão.

Mundo espelhado: O caminho do abismoOnde histórias criam vida. Descubra agora