"Se você me abraçar sem me machucar
Você será o primeiro a fazer isso"Cinnamon Girl — Lana Del Rey
Estava me sinto sufocada dentro desse quarto junto com Damien, enquanto ele arrumava suas coisas e a fumaça pairava por cada canto do quarto. Ele me observou por alguns segundos e como se pudesse ler minha mente abriu a janela do quarto permitindo que a brisa fresca entrasse, suspirei aliviada me pondo sobre a varanda.
Não há muitas coisas que eu sei sobre demônios, mas o porquê de ficar tão assustada era porque sabia muito bem o que era aquilo me observando, como um sexto sentido eu corri para a cozinha. Eu pensei que poderia ter quase tido um infarto, mas parece que algo puxou Enora e Damien como ímã quando pensei que estava ferrada.
Eu gostaria de não ter parecido uma garotinha indefesa perto deles, eu odiava me sentir assim perto dos outros porque eu lutava para manter uma fachada durona, que não tem medo de demônios ou qualquer outra coisa, mas porra, pode ser a porra de um demônio. Qualquer outro garoto idiota se mijaria nas calças caso passasse por isso, mas eu não.
Eu suspirei sentindo o cheiro de menta entrando em minhas narinas. Deve ser de Damien, seu cheiro era menta e quando fumava se misturava, ficando uma fragrância estranhamente boa.
Eu peguei minha carteira de cigarro e coloquei sobre a boca, pegando o isqueiro e acendendo a ponta do objeto. A fumaça subiu para cima diante do céu, e eu observei ela indo embora. A lua sempre foi minha favorita entre sol e lua e hoje ela estava cheia, iluminando o jardim da casa dos Maverik.
Me virei um pouco para observar o quarto sem ninguém, vazio. Damien provavelmente havia descido, mas eu continuei aqui fora. A visão aqui era boa pela casa ser num morro consideravelmente alto, e conseguia ver as luzes da cidade e dos postes piscando.
Quando era criança costumava me sentar na varanda do apartamento e cuidar os carros passando. Era o jeito que lidava quando meu pai saía bebado de casa e minha mãe usava drogas trancada em seu quarto. Era nova demais para entender o mundo, mas fui forçada a isso quando minha mãe saía de casa e voltava só dois dias depois, sem comida, sem dinheiro. A água quase sempre vencia e ficava sem, tendo que pedir ajuda para a senhora de idade que vivia do lado do nosso apartamento, infelizmente no dia que ela morreu as coisas pioraram e eu arrumei um serviço meia boca num mercadinho de bairro.
Consegui reestruturar a casa pelo o que deu e eu já não passava tanta fome igual antes.
Meus pensamentos se afastam quando um táxi para a frente da casa e silhueta de Enora preenche o espaço vazio dos portões. Ela me observa aqui de cima e sua mão abana.
Eu acenei com a cabeça e me retirei do quarto de Damien, um quarto cinza com uma cama de casal que preenchia praticamente o quarto inteiro, junto com uma televisão pendurada na parede e um armário enorme de roupas. Ambos eram brancos com detalhes pretos e aquilo me fascinou, era realmente o quarto mais bonito que já pude ver.
Descendo as escadas me deparei com Damien na cozinha com um copo de bebida e um cigarro nos dedos, e Enora retirando seu casaco longo. Ela me lançou um sorriso acolhedor.
— que fome, vamo fazer algo pra jantar — ela entra na cozinha e Damien toma seu copo de bebida, passando por ela e por mim, subindo as escadas.
— o que a gente pode fazer?
Ela sacode os ombros e se encosta no balcão da cozinha, olhando para os armários.
— um macarrão?
— você sabe como faz?
— não, e você? — eu ri da sua cara e então peguei meu celular no bolso da calça jeans.
— vamo pesquisar então.
Quando achei um site onde dizia a receita, coloquei o celular no meio de nós duas para lermos. Eu a ajudei cortando a cebola e o tomate, enquanto ela preparava as panelas que usaríamos.
Passamos um bom tampo cozinhando, mas quando terminamos abrimos a panela. O cheiro de comida subiu pelo minhas narinas e pude ouvir minha barriga roncar de fome, Enora soltou um suspiro e então nós duas sorrimos zombeteiras.
Nos servimos e se sentamos na mesa, uma em frente a outra para comer. Enora parecia inquieta e pensativa e rapidamente notei q tinha algo errado.
— aconteceu algo?
— você sabe algo sobre a família da Rita? — eu levantei uma sobrancelha e eu então eu suspirei.
— não tem muito tempo que ela entrou na escola, mas os boatos rolam muito rápido por aqui — eu girei o garfo entre minha massa — dizem que eles brigam muito, o pai dela é alcoólatra e a mãe tenta cuidar dela sozinha, mas parece que é meio difícil, vendo como ela é na escola, sozinha.
— ele bate nela?
— não sei — dei de ombros, suspirando pesadamente antes de falar — mas deve ser difícil para ela, eu meio que sei como é isso. Meu pai era alcoólatra também, mas diferente dela minha mãe era drogada, eu não duvido muito que ele machuque ela, homens bebados fazem qualquer coisa quando ficam com raiva, meu pai também fazia. Mas não quero comparar a minha dor com a dela.
— malditos sejam esses homens — ela falou baixo, mas talvez seja a primeira vez que vejo Enora realmente irritada com algo.
— você gosta dela não é?
— não é gostar, eu só sinto vontade de sei lá, proteger ela — eu sorri ouvindo a sua frase, Enora realmente gostava dela.
— Rita sempre foi difícil de ter amigos pelo o que ouço, quando se é estereotipada de nerd é difícil alguém se aproximar, mas eu acho ela a única garota que possivelmente eu faria amizade, tirando você. Aquela escola é cheia de garotas nojentas e riquinhas, mas ela parece ser diferente.
— ela é diferente — suas palavras saíram decididas, e eu concordei.
— você gosta dela sim, Enora — eu apontei em sua direção soltando uma risada baixa enquanto a careta em sua cara crescia cada vez mais.
— hoje que vai sair nossa noite de se entupir de bebida e ouvir Chase Atlantic e Arctic Monkeys? — ela mudou de assunto engolindo em seco em seguida.
Eu observei seu rosto enquanto um sorrisinho pequeno vagava.
— óbvio.
...
Enora se assume logo.
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DAMIEN
Teen FictionEle me salvou. Ele esteve lá por anos, À espreita, observando minha vida de perto, E ele me queria, e adivinha? Agora ele me têm.