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Se por um momento Talisa pensou que poderia se livrar de mim, ela estava enganada. Eu não consigo vê-la pessoalmente como antes, mas ainda sim tenho meus meios para encontrar ela. E um deles é o sonho.
Eu iria até a sua mente quando seus olhos se fechassem, tiraria a ideia de que ela ficaria sem minha proteção e então ela voltaria tendo a consciência de nunca deixar ninguém encostar no seu corpo novamente. Meu estresse vem aumentando diariamente enquanto observo ela do inferno, sem poder vê-la, sem poder senti-la.
Essa droga de mundo é repugnante, sinto minha paciência se esgotar apenas com a merda de uma palavra de Gabriel. Eu quero socar todos, enfiar esse lugar tão fundo sobre o fundo da terra que ninguém mais possa desenterrar. Quero poder sair desse mundo, voltar para minha garota e fazê-la ter minha proteção do mundo, assim como vem sendo por tantos anos.
Deixando que a fumaça do cigarro saía pelos cantos da minha boca, tomo o último gole de whisky e sinto o líquido não fazer nem cócegas em minha garganta. Enora vem estando desaparecida desde que voltamos, ela não conseguia voltar para o mundo dos humanos para ver a tola da Rita e agora estava chorando pelos cantos do inferno.
Eu não choro, minha tristeza e remorso se transformaram no mais puro ódio, na medida em que vivo aqui venho piorando cada vez mais meus hábitos. Venho brigando, enchendo meu corpo de álcool até que eu esqueça a situação miserável a qual estou sendo obrigado a passar, e fumando igual um velhote aos sessenta anos de idade que não teme mais a morte em sua vida. Eu puxo outro cigarro da carteira e o acendo, puxando a fumaça para dentro.
— está enchendo o cu de álcool novamente?
— se você falar mais um "a" eu arrumo um jeito de te matar e fazer você sumir da minha frente — digo sem rodeios, sentindo a paz e a calmaria, se é assim que posso chamar, ir embora conforme Gabriel se aproximava.
— tudo por aquela garota irritante — meu sangue parece ter fervido no mesmo instante que sua boca maldita citou Talisa e eu me levantei do banco.
Prendo minhas mãos em seu pescoço e o levo para a parede mais próxima, apertando com todo meu ódio e sentindo seu rosto ficar vermelho pelo sangue acumulado na região da sua cabeça. Eu solto um rosnado baixo, tentando me controlar para que não fizesse nenhuma atitude que poderia me arrepender.
— nenhum ser humano, nem demônio, e muito menos anjo, tem o direito de pôr o nome dela em suas bocas malditas, acho melhor nunca mais citá-la em suas palavras malditas, porque eu juro por Lúcifer que se algum dia você abrir a boca e insulta-lá novamente te mostro como é ter suas orelhas cortadas e enfiadas guela abaixo.
Ele tentou falar algo mas foi impedido pelo aperto forte em sua garganta, até que eu o soltei. Ele puxou o ar o mais rápido que conseguiu e colocou suas mãos em sua garganta, ainda com aquele sorriso que sinto vontade de arrancar do seu rosto tanto quanto o seu coração.
— você pode ter certeza que eu vou voltar para ela, esse plano ridículo seu e de Ariella vai durar pouco.
Para isso, teria que falar com o próprio lúcifer. E para isso, teria que aguentar apenas uma coisa; a tortura.
Lúcifer tinha uma condição a quem queria um favor seu, e essa condição te custaria muito mais que dinheiro, muito mais do que sua paz, sua calmaria, te custaria sua saúde mental, sua alegria, qualquer coisa boa que ainda existiria em você. Ele te faz passar por dias infernais, por dias em que sua cabeça se perde completamente da realidade.
Mas eu já não tinha nenhuma coisa boa em mim, eu era um perdido, quebrado. Não tinha mais qualidades em que eu devesse guardar, eu apenas tinha meus caos, e Talisa.
Ela era a única coisa que eu acredito que deva lutar, então eu irei. Irei suportar os dias de tortura, os testes psicológicos, poderia ficar louco mas voltando para ela no final do dia era tudo o que eu tenho em mente. Eu apenas preciso me manter vivo.
Se tem uma coisa que lúcifer buscava para si, era o medo. Ele mantinha essa condição firme apenas para ver o medo nos olhos dos seus demônios, para fazê-los implorar para sua misericórdia, mas eu não farei isso.
Não sou um covarde e um menininho inexperiente, sei muito bem do que se trata tudo isso e estou preparado emocionalmente para o que merda virá.
Saindo daquela merda de sala, me coloco na minha casa nesse maldito mundo. A casa ainda estava com os vidros no chão, os quadros quebrados. Enora estava deitada no sofá, seus olhos fechados e em sua mão havia uma garrafa de whisky, a garrafa estava vazia e em seus pés tinha várias carteiras de cigarro.
Eu olho para aquilo desgostoso, vendo o que ela estava fazendo. Eu e ela estamos na mesma situação, mas eu estou em busca de algum plano, ela simplesmente decidiu se perder e voltar a ser o que era antes, depressiva e alcoólatra.
Passo por ela no sofá e vou até meu quarto, o silêncio era estranho, tudo no mundo humano havia algum som, as músicas de Talisa, os carros passando nas ruas, mas aqui tudo era tão obscuro e vazio que me deixava infeliz por viver aqui. Girando a maçaneta, entro no meu quarto, os tons de preto familiares vem em minha visão.
Minha cama com lençóis escuros ainda estava perfeitamente arrumada, tudo da forma em que deixei a última vez. Não venho dormindo aqui nesta casa, na verdade, nem durmo. Meus dias são resumidos em me preparar para a "conversa" com lúcifer, venho pensando nisso em todas as horas do meu dia.
Pego um cigarro em meu bolso e coloco sobre meu lábio, com Talisa em minha mente. Ontem em seus olhos a fiz enlouquecer e voltar sua atenção a mim novamente, para assim eu nunca ser esquecido. Eu não vou deixá-la sozinha, não com aqueles humanos idiotas que ainda insistem em tocá-la.
A garota do bar foi uma vítima incrível para minha tortura, fiz ela sofrer tanto que minha irritação por viver aqui no inferno até diminuiu. A fiz gritar, gritar de dor por um dia encostar em Talisa, por achar que tem chances com a garota que é minha.
Me encostando na varanda, observei a vista horrível que é daqui de cima...
