41 | ser forte.

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"Bem, você mentiu
Você disse que estava bem
Mas agora você está com medo"

HEAVEN AND BACK — Chase Atlanti

Abro meus olhos sentindo o clarão do sol rastejar entre os arredores do quarto. Eu puxo o ar com tudo, sentindo meu corpo quente e doído. As lembranças do sonho ainda estavam presas em minha mente quando fechava os olhos e pude visualizar a garota em minha frente.

— porra — eu sussurrei e olhei em volta em busca do Damien.

Ele não estava aqui, eu não ouvi nenhum sequer barulho vindo dos outros cômodos e o aperto no peito se tranformava em uma dor aguda assim que caminhava por todos os quartos, salas, banheiros. Ele não estava aqui.

— Damien vai voltar para o mundo dele, e você, vai ficar sozinha novamente — a mulher murmurou antes de sumir nas sombras da sala escuro.

Eu nego com a cabeça freneticamente após o flashback do meu "sonho" voltar. Ele não faria essa merda comigo, ele não pode simplesmente aparecer na minha vida, mudar tudo o que eu era e simplesmente sumir dela em um estralar de dedos.

Sentindo a frieza do chão, descia as escadas enquanto estudava qualquer lugar que conseguia da casa. Não tinha nada aqui, não tinha ninguém e nem sinal de algum dos dois estarem.

As lágrimas se formaram em meus olhos e senti o ar ao redor se esvair, deixando somente eu e o vazio em que minha mente se encontrava. A mansão ainda estava a mesma, não tinha nada o perfume amadeirado de Damien e muito menos o cheiro de cigarro e o aroma doce de Enora.

— não pode ser — eu murmuro, sentindo as lágrimas quentes escorrendo para baixo da bochecha.

Tudo o que construí nesses últimos meses em que Damien esteve comigo, tudo o que larguei para ficar com ele, o medo e o trauma que deixei de lado apenas para aceitá-lo em minha vida, tudo isso foi jogado no ralo em um simples segundo.

Observei a mesa de jantar, não há nada. Não a nenhuma carta, nenhuma despedida, nenhuma porra sequer do rastro de Damien.

Eu respirei fundo, limpando as lágrimas e pegando a chave da moto de Damien. Eu havia feito carteira a muito tempo atrás mas nunca tive condições para realmente ter uma moto ou algum carro.

Saindo pela porta de entrada, fui até a moto estacionada e subi, relembrando quando Damien me buscava no bar com ela, ou como ele sempre se manteve tão perfeito em cima de uma moto. Eu sinto as lágrimas ameaçarem a cair, mas não deixei isso acontecer, apenas fechei o capacete e liguei a moto, sentindo-a tremer sob mim e o barulho grosso do motor se ligando.

Visualizei pela última vez a imagem da mansão e sai arrancando com a moto.

No caminho, senti toda dor se formar em meu peito e em minha cabeça. As lembranças vinham naturalmente a cada acelerada que dava com a moto. Eu ainda não conseguia realmente acreditar que tudo acabaria assim.

Arrancando ainda mais, sentia a moto deslizar diante das ruas molhadas pela chuva recente. O caminho estava completamente vazio e não havia carros e nem motos circulando por ele, o que eu agradeci de imediato, não conseguia ficar um segundo em cima desta moto sem ao menos lembrar dele.

Eu nunca me abri como fiz com ele, deixei ele pegar meus traumas, pegar meu lado mal e guardar para si, para no final ele sumir da minha vida. Eu sinto os meus olhos se molharem com as lágrimas que já caíam sem eu ao menos notar.

Eu sentia vontade de quebrar tudo em minha volta, sentia vontade de colocar fogo nesta maldita moto e atirá-la em qualquer lago desta maldita cidade. Sentia o meu sangue ferver de raiva, raiva por ter me deixado ser feita de idiota, raiva por acreditar naquele idiota.

Eu estacionei em frente ao bar, vendo as luzes neon do nome do bar clarearem meu corpo e iluminar a estrada em minha frente. Estacionando a moto, sai do veículo e retirei a chave, desligando a moto e ajeitando a minha jaqueta de couro que usava.

Droga, odiava voltar para esse lugar, mas não posso simplesmente me manter em um quarto chorando, preciso arranjar meu emprego de volta. Precisava arranjar algo para esquecer essa merda e voltar a minha vida normal.

Normal. Era engraçado falar essas palavras depois de tudo que vivi nesses últimos meses, depois de tudo que presenciei, depois de literalmente beijar a porra de um demônio. Como eu realmente achava que essa merda daria certo?

Bato as mãos na porta do bar abrindo ela e sentindo o cheiro familiar tomar conta. Eu faço uma careta, andando em passos rápidos até o balcão vendo meu antigo amigo, Rick. Ele me encarou com seus olhos saltados e sorriu, vindo em minha direção.

— finalmente voltou — ele esbravejou, vindo com seus braços abertos para um abraço.

Eu forcei um sorriso e neguei o seu abraço, não gostava de toques físicos com gente que não era exatamente tão próxima.

— não posso morar na rua — eu abri os braços e dei de ombros, me sentando no banquinho perto do balcão — Sr. Catinni está aqui?

— ele chegou mais cedo hoje.

— de dez a zero, qual número você daria para minha chance de voltar ao meu emprego de antes?

— um oito, considerando o fato de ter muitas vagas em aberto e pela falta de garçons, ele te dará uma nova chance — eu sorri satisfeita com sua resposta, vendo o seus olhos me analisarem — que cara é essa? Parece que até perdeu alguém.

Eu sorri em escárnio, sentindo minhas estranhos se contorcerem em me lembrar da minha vida atualmente. Tudo parece estar voltando ao normal em minha vida.

Tudo voltará a ser uma merda gigantesca e monótona como antes. Ótimo.

Aliás, já sinto meu bom humor antigo voltando.

Pego um copo de whisky que Rick serviu e o viro com tudo em minha garganta, sentindo o líquido descer ardendo. Eu sorri fraco para Rick e me direcionei ao corredor pequeno que dava acesso a sala de Sr. Catinni.

Eu abominava esse velhote idiota com todas as minhas forças, mas se for para receber minha antiga posição dentro dessa porra de bar, eu faria o possível e o impossível.

Chegando em frente a porta, observo sobrenome dele na placa de metal desgastada e puxo o máximo de ar para meus pulmões

E lá vamos nós.

...

Oi gente, vi uma moça falando que fez um livro sobre um demônio e disse que ele se tornou real.

Será que é agora que eu morro? Meu deus, eu sou muito nova pra ir com o senhor.

Jesus.

Mas se for igual o Damien 😏

Brincadeira.

Brincadeira demônio, eu estou brincando só, por favor.

DAMIENOnde histórias criam vida. Descubra agora