Ela não tinha muitas opções de distração durante o intervalo de seu expediente, até receber um convite e acredita profundamente que graças a isso talvez o destino tenha se encarregado de aproximar "os dois". Ela toda meiga, tímida e sorridente quase não interagia com as pessoas ali, até o momento em que viu ele pela primeira vez e a partir dali mudaria o rumo da sua vida.
Ao longo dos dias, sempre que ele aparecia a mocinha escondia sua felicidade por de trás de sua máscara, ainda que não fosse tão eficaz, sabendo que seu rosto ficava na cor de uma pimenta e seu sorriso estendia-se de orelha a orelha. Ao ficarem perto, nas poucas oportunidades que encontrava ela tocava de forma muito sutil em sua mão, o encarava discretamente para que não percebesse, embora seu olhar argumentasse bem mais que suas palavras o fariam, sua barriga congelava quando ele olhava de volta. E assim fora nascendo, ao longo dos dias, um sentimento de admiração mesclado com uma possível paixão, a sua primeira paixão. Contudo tinha medo de ser descoberta, apesar desses detalhes, tudo isso acontecia apenas dentro dela e esforçava-se ao seu máximo para que quem estivesse de fora não desconfiasse e muito menos "ele". Os dias passaram-se e cada mínimo detalhe dele chamava sua atenção – aquele caminhar, a sincronia de seus movimentos, o balançar de seus cabelos negros, seus olhos castanhos com uma linda autenticidade e o sorriso... ah, aquele sorriso.
Logo surgiu a chance de trocar palavras a sós, transpareceu uma intimidade de pessoas que se conhecem há anos, com boas gargalhadas e assuntos, houve aquele momento onde seus olhares se cruzaram e então teve a certeza de que não era apenas ela que sentia tudo aquilo, naquele instante, o relógio parou. Tudo acontecia em câmera lenta, ele levantou sua mão levemente e com certa hesitação para tocá-la em seu rosto enquanto ela o fitava carinhosamente admirando sua beleza, deslizando suavemente seus dedos em seus cabelos, descendo até seu rosto parando em seus lábios em sinal de "silêncio" seguido de um sorriso para provocar. Ali prevalecia apenas o som rítmico das gotas de chuva no teto do carro com a Amy Whinehouse cantando baixinho "you know i'm no good". Ele a abraçava como se unisse em um só, encaixando-a em si trazendo conforto e simultaneamente despertando cada vez mais o desejo que ela tinha nele, talvez nenhum dos dois estavam preparados para isso ainda, portanto, guardava para si. Somente apreciavam a companhia um do outro que, infelizmente, era interrompido com a despedida. No caminho de casa ela sentia borboletas em seu estômago, desejando ter ele ali do seu lado por mais alguns minutos só pra sentir o calor do seu corpo ou talvez seus lábios no dela. Ele percorria em uma velocidade baixa, parecia desejar o mesmo, apenas não sabia se seria recíproco, ela deitada em seu ombro com seu braço entrelaçado ao chegar na frente de sua casa ele calmamente a beijou e assim finalizou mais um dia em sua companhia.
Ao chegar, tomou conta de seus afazeres e antes de dormir seu travesseiro foi testemunha de todas as vezes em que ela estendia um sorriso ao lembrar dele e ao contemplar suas fotos juntos, acaba por imaginar essa experiência como se estivesse vivendo no íntimo da história de seu livro favorito.
