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Quinta-feira, 26 de julho de 1860

No dia seguinte, ao abrir os olhos, fui inundado por um sentimento de culpa e arrependimento. Eu estava sentindo uma mistura de emoções: culpa por causar um problema para o meu pai e para o Brasil, vergonha por ser imprudente e esperança de que ainda houvesse uma maneira de resolver a situação.

Saí da cama com um desânimo profundo. Não tinha vontade de interagir com ninguém, nem mesmo de me alimentar. Sentei-me no chão do meu aposento, abraçando os próprios joelhos, enquanto me perdia em pensamentos.

O sol brilhava lá fora, mas eu não conseguia apreciar a beleza do dia. Eu estava focado na minha culpa e no meu remorso.

A voz do meu pai ecoava em minha mente. Ele havia confiado em mim e eu havia falhado com ele. Eu havia colocado em risco a economia, a estabilidade política e a paz do Brasil.

Eu não sabia o que fazer. Eu estava perdido e confuso.

Foi então que ouvi uma batida na porta. Era Lucas, meu leal subordinado e amigo.

— Henrique, posso entrar? — sua voz era suave e preocupada.

— Pode — respondi, minha voz carregada de desânimo.

Lucas entrou no quarto, aproximou-se de mim e sentou-se ao meu lado, colocando a mão em meu ombro.

— Henrique, eu entendo que você está triste e se arrepende do que aconteceu. Acredito que você pensa que tudo está perdido. Mas estou aqui para lhe dizer que não é bem assim.

— Como não é bem assim? Você viu o que aconteceu. Você acompanhou as notícias. Os países europeus estão furiosos conosco. Estão nos isolando e sufocando economicamente. Querem que abolemos a escravidão à maneira deles, sem considerar nossas condições.

— Eu sei, entendo. Mas isso não significa que tudo está perdido. Ainda temos uma oportunidade de mudar isso.

— Como? Como poderemos mudar essa situação?

— Bem, tenho uma ideia. Uma ideia audaciosa, mas que pode dar certo.

— Que ideia?

— Lembra-se do navio inglês que naufragou na costa do Rio Grande do Sul?

— Sim, o Prince of Wales.

— Pois bem, sabia que ele transportava armas, munições e tecidos?

— Sim, tinha essa informação.

— E sabia que esses produtos estavam destinados à colônia britânica na África do Sul?

— Não, isso eu não sabia.

— É verdade. E estava ciente de que essa colônia está em guerra com os nativos africanos?

— Não, também desconhecia esse fato.

— Pois é. Você sabia que esses nativos africanos são liderados por um homem chamado Chaka Luzu?

— Não, isso é uma surpresa para mim.

— Pois é. E você sabia que esse homem é um estrategista militar brilhante e um líder carismático?

— Não, essas informações são novidades.

— Pois bem, ele tem um sonho de unificar os povos africanos da África do Sul e expulsar os colonizadores europeus.

— Isso é notícia para mim também.

— Ele nos enviou uma carta pedindo apoio e oferecendo o dele.

— Isso é impressionante, eu não tinha ideia.

— Pois é. E você sabia que ele tem um grande respeito pelo Brasil e pelo seu pai, o imperador?

— Não, eu não sabia — respondi, surpreso com todas essas informações.

— Pois é. E você sabia que essa carta está aqui comigo? — ele disse, tirando um envelope do bolso.

— Não, eu não sabia — eu repeti, atônito.

— E você sabia que essa carta pode ser o primeiro passo para uma aliança inesperada?

— Não, isso é surpreendente!

— Pois é. E você sabia que essa carta pode ser a chave para enfrentarmos os países europeus que ameaçam nosso comércio e soberania?

— Não, Lucas, eu não fazia ideia.

Lucas sorriu, a expectativa brilhando em seus olhos.

— Henrique, essa carta é nossa esperança. A oportunidade que precisávamos. Está em suas mãos, meu amigo.

Ele me entregou a carta, eu a tiro do envelope e começando a ler.

A carta estava escrita em português, com uma caligrafia firme e elegante. Ela dizia:

"Caro Príncipe Henrique,

Eu sou Chaka Luzu, o rei dos zulus e o líder dos povos africanos. Eu escrevo esta carta para lhe pedir o seu apoio e lhe oferecer o meu.

Eu sei que o Brasil está sofrendo pressões dos países europeus para abolir a escravidão. Eu sei que esses países são hipócritas e cruéis, pois eles exploram e oprimem os povos africanos há séculos.

Eu também sei que o Brasil é um país amigo e aliado dos povos africanos. Eu sei que o seu pai, o imperador Pedro II, é um homem sábio e justo, que respeita a nossa cultura e a nossa liberdade.

Eu tenho um sonho de unificar os povos africanos e expulsar os colonizadores europeus. Eu tenho um plano de atacar as suas bases na África do Sul e libertar os nossos irmãos escravizados.

Eu preciso do seu apoio para realizar esse sonho e esse plano. Eu preciso das armas, das munições e dos tecidos que estavam no navio inglês Prince of Wales, que naufragou na costa do Rio Grande do Sul.

Eu sei que esses produtos foram saqueados pelos moradores da região, mas eu também sei que eles estão dispostos a negociar com o Brasil. Eu peço que você interceda por mim e consiga esses produtos em troca de ouro ou de outros bens.

Em troca do seu apoio, eu ofereço o meu. Eu me comprometo a ajudar o Brasil a enfrentar os países europeus que ameaçam o seu comércio e a sua soberania. Eu me comprometo a reconhecer o Brasil como um parceiro estratégico e um amigo fiel.

Eu espero que você aceite a minha proposta e me responda em breve.

Com respeito e admiração,

Chaka Luzu"

Terminei de ler a carta em silêncio. Quando olhei para Lucas, ele estava me observando com expectativa.

— O que você acha? — ele perguntou.

— Acho que é uma oportunidade única — eu respondi. — Mas dessa vez vou fazer a coisa certa, quando não tenho 100% de certeza. Procurarei o meu pai.

Eu sou o Filho do Imperador do BrasilOnde histórias criam vida. Descubra agora