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Quinta-feira, 23 de Julho de 1863

Meu pai, o imperador Tiago II, era um homem sábio e benevolente. Ele governava o Brasil com justiça e equilíbrio, e buscava o progresso e a prosperidade do nosso país. Ele também se preocupava com a minha vida. Eu seu que ele quer o melhor para mim, mas às vezes não entendia os meus sentimentos.

Os acontecimentos recentes haviam selado meu destino de maneira triste. Eu havia me apaixonado por Clara. Ela é uma jovem linda e carismática que trabalhava como costureira na loja de sua mãe, a irma de Rosa. Ela diferia de todas as mulheres que eu conhecia, não apenas por sua beleza, ou pelo seu corpo escultural, mas a simplicidade da vida tinha me conquistado.

Nessa semana, nós nos encontrávamos às escondidas, sempre com medo de sermos descobertos. Nossos momentos juntos eram os únicos que me davam paz e felicidade. Ela era o amor da minha vida, e eu sonhava em casar com ela e viver ao seu lado.

Mas meu pai descobriu nosso relacionamento, e ficou decepcionado. Fui levado de volta para o palácio no Rio de Janeiro e assim que chequei, ele me chamou em seu gabinete, e me olhou com uma expressão de tristeza.

— Henrique, meu filho, eu preciso conversar com você — ele disse com uma voz calma. - Sei que você está apaixonado por essa moça, Clara.

— Sim, pai, eu estou — eu confirmei. — Ela é a mulher que quero para mim.

— Entendo que você esteja apaixonado, meu filho. Eu também já fui jovem, e sei como é sentir o coração bater forte por alguém. Mas você precisa pensar com a razão, e não com a emoção. Você é o príncipe herdeiro do Brasil, com o dever de se casar com alguém que seja adequada para você. Assim como eu fiz.

— E quem seria essa pessoa adequada, pai? — perguntei com ironia. — Uma princesa estrangeira que eu nunca vi na vida? Uma dama da corte que só se interessa pelo meu título? Uma filha de um nobre que só quer aumentar seu poder?

— Não, meu filho. Não é isso que quero para você. Quero que você se case com alguém que você goste, que tenha afinidade com você, que compartilhe dos seus ideais e projetos. Mas essa pessoa também precisa ter certas qualidades importantes para a sua posição.

— E quais seriam essas qualidades, pai? — eu insisti.

— Bem, em primeiro lugar, essa pessoa precisa ser da mesma classe social que você. Você não pode se casar com uma plebeia, meu filho. Isso seria um escândalo para a nossa família, e para todo o país. Você perderia o respeito e a admiração do povo.

— E desde quando o povo se importa com quem eu me caso? — eu questionei. — O povo quer um governante justo e honesto, um marido fiel e devotado. Não importa muito para eles quem é a esposa. Já para a aristocracia, sim, isso importa.

— Talvez você tenha razão, meu filho. Mas você também precisa pensar nos seus aliados políticos, nos seus parentes estrangeiros, nos seus futuros filhos. Você não pode ignorar as convenções sociais que regem o nosso mundo.

— E em segundo lugar? — perguntei impaciente.

— Em segundo lugar, essa pessoa precisa ser da mesma cor que você — ele disse sem rodeios.

Fiquei chocado com essa declaração. Clara era parda, filha de ex-escravos libertos. Ela tinha a pele morena, os cabelos cacheados, os olhos castanhos. Ela era linda aos meus olhos, mas não aos olhos do meu pai.

— Pai, isso é racismo! — exclamei indignado. — Você não pode julgar uma pessoa pela cor da sua pele! Eu sempre pensei que você se importava com os negros do Brasil.

— Não é racismo, meu filho. É realismo. Você sabe como é a situação do nosso país. Estamos em um processo de abolir a escravidão, o que começou há poucos anos, mas ainda há muita discriminação e preconceito contra os negros e os pardos. Você não pode se casar com uma pessoa que sofre esse tipo de opressão, meu filho. Você não pode colocar em risco a sua reputação e a sua segurança.

— Pai, isso é absurdo! — eu protestei. — Você não pode negar o meu amor devido à cor da pele de Clara! Ela é uma pessoa maravilhosa, que me faz feliz como ninguém. Ela não merece ser tratada com desprezo e ódio!

— Sei que ela é uma pessoa boa, meu filho. Eu não duvido disso. Mas você precisa entender que o mundo não é tão simples quanto você pensa. Há muitas coisas em jogo, muitos interesses envolvidos, muitas forças contrárias. Você não pode se deixar levar pelo seu coração, meu filho. Você precisa ser racional, e pensar no futuro do nosso país.

Ele não apenas proibiu meu relacionamento com Clara, como agora eu estava confinado a meu quarto, uma prisão dourada que sufocava meus desejos mais profundos.

Rosa, que havia sido minha confidente e a única ligação com a realidade fora dessas paredes, foi dispensada de seus deveres. Ela era minha ama de leite, e me criou desde pequeno. Ela sabia de tudo sobre mim e Clara, e nos auxiliava a nos encontrar. Rosa era como uma mãe para mim, e sua ausência agravou minha solidão e me deixou ainda mais isolado do mundo.

Meu casamento com uma jovem filha de um barão fora marcado para o próximo mês, como se fosse uma decisão irrevogável. O peso da tradição e das expectativas sociais esmagava-me, e a angústia tomou conta de mim como uma sombra implacável.

A cada dia que passava, eu me sentia mais distante de meus próprios desejos e sonhos. A febre que havia me atormentado no passado voltou a queimar em meu peito, como se meu corpo estivesse em guerra com a prisão que minha vida se tornara.

Tudo o que me restava era a sensação sufocante de impotência e a lembrança dos momentos preciosos que compartilhara com Clara, agora como um sonho distante.

Eu sou o Filho do Imperador do BrasilOnde histórias criam vida. Descubra agora