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Segunda-feira, 03 de Agosto de 1863

Hoje, finalmente, conheci minha "noiva". A palavra "noiva" carrega consigo uma promessa de amor e felicidade, mas o que experimentei foi uma realidade sombria e dolorosa. A expectativa e a ansiedade estavam pairando sobre mim desde que meu pai anunciou esse casamento arranjado. Eu tinha apenas 15 anos, uma idade em que os sentimentos são intensos e as emoções são um turbilhão incontrolável.

Ela estava me esperando na sala de visitas do palácio, vestida com um vestido vermelho claro e um colar de pérolas. Ela era bonita, mas nada tinha a ver com Clara. Seu cabelo era louro, seus olhos eram verdes, sua pele era rosada. Ela parecia uma princesa de conto de fadas, perfeita e inatingível.

Entrei na sala sem entusiasmo, e fiz uma reverência. Ela se levantou e fez o mesmo. Nós nos cumprimentamos com formalidade, e nos sentamos em um sofá. Ela tentou puxar assunto comigo, mas eu não dei atenção. Respondi com monossílabos, sem olhar para ela. Eu estava pensando em como eu deveria ser uma pessoa de sucesso, mas ao contrário eu sentia que não tinha nada.

Eu fundara a EmBraM, uma empresa estatal que se tornou a mais lucrativa do país. Criara o jornal mais renomado das Américas, e ousadamente afirmo ser o jornal mais influente do mundo. Minha fazenda, que se destacava por não plantar café, tornou-se a mais produtiva, e eu estava entre os fazendeiros mais influentes do Brasil.

Mas tudo isso não significava nada para mim. Meu pai havia me tirado o controle da empresa e da fazenda. Ele havia colocado pessoas de sua confiança no meu lugar, dizendo que eu era muito impulsivo e irresponsável para administrar esses negócios. O Jornal tinha que deixa o Lucas da Silva ter as rédeas. Eu esperava e confiava que ele não haveria de me trair e tomar tudo para si.

De certa forma, meu pai havia me privado de tudo o que eu havia construído com o meu esforço e o meu talento. Admito que teve o apoio dele, mas ainda assim, se eu não tivesse começado isso, nada teria sido feito.

E agora ele queria me privar também do meu amor. Ele queria me forçar a me casar com uma mulher que eu não conhecia, nem amava. Ele queria me fazer esquecer da Clara.

Eu não podia aceitar isso. Eu não podia renunciar ao meu amor. Tinha que fazer alguma coisa, antes que fosse tarde demais.

Decidi fugir com Clara. Escrevi uma carta para ela, pedindo que me encontrasse na estação de trem no dia seguinte. Eu disse que eu tinha um plano para escaparmos juntos, e que eu estava disposto a enfrentar tudo por ela.

Guardei a carta em um envelope, e coloquei embaixo do travesseiro. Esperava que pudesse achar uma forma de enviar a ela, sem ser visto, usando algum criado, ou um guarda.

Eu me levantei da cama, e fui até a janela. Olhei para o céu estrelado, e fiz uma prece silenciosa. Pedi a Deus que me ajudasse a realizar o meu sonho de ser feliz com Clara.

Mas o destino tinha outros planos para mim. Naquela mesma noite, a febre voltou a me atacar com mais força do que nunca. Eu senti uma dor aguda no peito, e comecei a tossir sangue. Eu caí no chão, sem forças para me levantar.

Ouvi passos apressados no corredor, e vozes alarmadas, antes de cair na inconsciência.

Tempos depois, já na cama, pude reconhece a voz de meu pai, que ao lado do médico imperial. Ele falava comigo há um tempo, mas só agora recobrei um pouco da cognição.

— Henrique! Meu filho! O que aconteceu? — ele com uma voz firme, mas carregada de desesperado.

— Pai... — murmurei com dificuldade.

— Não fale, meu filho. Fique calmo. O médico vai te examinar novamente — ele disse tentando me acalmar.

O médico se aproximou de mim, e fez todos os procedimentos tediosos. Como não sentia forças, continuei na cama me deixando ser usado como uma marionete.

— Sinto muito, majestade — disse o médico ao meu pai. — Seu filho muito fraco, aparentemente ele não vem se alimentando direito e está claramente desidratado. Eu recomendaria alguns métodos, porém a sinais que a tuberculose possa ter voltado, mas isso ainda não é uma certeza. Se ele não melhorar rapidamente, pode ser que, seu muito tempo de vida não seja muito longo.

— Não! Isso não pode ser verdade! — meu pai exclamou incrédulo, mas sem perde a sua majestade.

— É verdade, majestade — o médico confirmou. — A tuberculose é uma doença cruel e incurável. Ela consome os pulmões do paciente, e causa hemorragias internas. Ela é como um espectro invisível que paira sobre ele, uma lembrança constante de sua fragilidade e das reviravoltas impiedosas do destino. Ele já teve quando bebê e mal se curou dela a pouco tempo. Se ele pegar uma terceira vez, pode ser fatal, ainda mais com seu estado debilitado.

Ouvi as palavras do médico, e senti um frio na espinha. Sabia que ele estava certo. Olhei para o meu pai, e vi uma única lágrima escorrendo pelo seu rosto.

Nesse momento minha mãe, a imperatriz Cintia chegou e me abraçou fortemente. Ela, que sempre manteve a postura, gritou para que todos saíssem do quarto.

Quando estávamos apenas nos três, ela, meu pai e eu, começou a falar virando-se para o meu pai.

— Eu não me importo quem seja essa meretriz. Se ele que se casar com ela, ele vai se casar com ela. Você dê um jeito na corte e para que ela seja aceita. Você já é considerado um abolicionista radical para alguns da nobreza e burguesia, então seja radical.

Se eu estivesse no meu normal, teria pedido a minha mão que não chamasse a Clara assim, mas eu não estava e a fúria dela, logo se voltou para mim.

— E você rapazinho. — Ela disse me soltando de seu abraço e me olhando firmemente. — Vou te ajudar apenas dessa vez, eu espero que você pare de besteiras e um príncipe digno. Seu pai limpa as merdas que você fez durante muito tempo. Na próxima eu mesmo te deserdo da família e aí dele se ele falar alguma coisa.

Olhei para o meu pai e ele me olhou de volta. Ambos estavam quietos ouvindo a imperatriz falar. Na maioria das vezes minha mãe era um exemplo de mulher, obediente, quieta e recatada. Hoje ela estava em fúria, e nem eu, nem meu pai ousávamos abrir a nossas bocas.

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⏰ Última atualização: Sep 15, 2023 ⏰

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