Era manhã de sábado, o sol delicadamente invadia o quarto através das cortinas entreabertas. A serenidade do ambiente não combinava com toda a agitação que habitava os pensamentos de Emma. A noite foi longa, não conseguiu dormir direito. Estava na casa de uma estranha, no quarto de uma estranha, na cama de uma estranha!
Regina cumpriu a promessa de não deixá-la sozinha e, em momento algum, saiu do seu lado, levando-a inclusive para dormir com ela naquela suíte enorme.
Não podia negar que aquele colchão era imenso e tão macio quanto algodão. O dossel que emoldurava a cama trazia-lhe uma sensação boa de aconchego e segurança, o que, apesar do sono agitado, tinha sido crucial para que finalmente se sentisse mais relaxada e de volta ao controle das próprias emoções. E era exatamente por isso que precisava voltar à realidade. A sua realidade.
Virou-se na cama, mas estancou no lugar quando seus olhos se fixaram na mulher, que ainda estava adormecida, sob os raios suaves da manhã. Os fios escuros da sedosa cabeleira de Regina espalhavam-se em desordem sobre o travesseiro, uma contrastante maré escura em meio aos lençóis super brancos. Seus cílios longos e negros repousavam suavemente sobre as maçãs do rosto, e o sorriso sonhador que dançava em seus lábios a fazia parecer uma princesa de conto de fadas.
Ou melhor, uma rainha.
Os traços de sua expressão majestosa estavam relaxados na quietude do sono, revelando uma vulnerabilidade que fazia Emma sentir-se privilegiada por ter a chance de testemunhar tamanha intimidade... E isso a despertava para o fato de que não podia continuar ali, pois havia algo naquela mulher que a fazia querer escorregar para o seu little space, e isso era algo que não podia permitir de forma alguma.
Enquanto tentava desfazer-se desse pensamento, deslizou lentamente para fora da cama, tomando o cuidado de não fazer barulho. Pé ante pé, caminhou o mais rápido que pôde na direção do banheiro, trocou o pijama que Regina emprestara pelas roupas que usava no dia anterior e desceu as escadas sem fazer barulho.
Na sala de estar, encontrou um bloco de notas adesivas e uma caneta na mesinha de canto e aproveitou para rabiscar um pequeno bilhete de agradecimento para Regina, colando-o na tela do notebook que estava aberto sobre o braço do sofá. Esperava que ela a perdoasse por ir embora daquele jeito, mas sabia que era melhor assim. Já havia causado transtornos demais em um único dia.
Já do lado de fora da mansão, Emma pegou seu celular e entrou no aplicativo de carona e solicitou uma corrida para o apartamento que dividia com Ruby, suspirando de alívio ao perceber que não demoraria a estar de volta à sua rotina. Precisava disso, um pouco de normalidade a ajudaria a se sentir de volta nos trilhos.
Não queria pensar no dia anterior. Sentia uma pressão no peito e sua respiração parecia encurtar toda vez que era acometida pela lembrança do encontro horrível que tivera com seu progenitor, na praça de alimentação do shopping. Além disso, também não queria lembrar da forma estranha como conheceu Regina e, principalmente, das sensações maravilhosas que o fato de ter os seios dela em sua boca eram capazes de provocar. Esse, por sinal, havia sido só mais um dos motivos pelos quais teve tanta dificuldade de pegar no sono, mesmo naquela cama perfeitamente relaxante.
Emma franziu o cenho e respirou profundamente, tentando controlar a agitação que esse pensamento lhe causou.
Quando seu uber chegou, lançou um último olhar na direção da casa de Regina, sentindo em seu interior o desejo de vê-la novamente misturando-se com a vergonha e arrependimento daquele primeiro encontro, que já habitava seu coração desde que começou a voltar a si, no dia anterior.
E, por um momento, não conseguiu evitar o pensamento de que, se tivesse conhecido Regina em circunstâncias diferentes, de um jeito normal — e se Emma não fosse… bem… Emma —, haveria uma chance de algo acontecer entre elas.
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Boa Noite, Emma
FanfictionEmma teve uma infância difícil e uma adolescência pior ainda. Agora, já adulta, luta com todas as suas forças para manter uma parte da sua vida muito bem guardada, longe de olhares curiosos. Mas todo o seu autocontrole escorre entre os dedos depois...